Vivências pós- divórcio
A taxa de separação conjugal tem crescido e precisamos de pesquisas que nos revelem as suas conseqüências sobre as famílias.
Leila Maria Torraca de Brito, professora-adjunta do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro; mestre e Doutora em Psicologia pela PUC/RJ, realizou uma pesquisa qualitativa sobre Família pós-divórcio: visão dos filhos, na qual podemos encontrar análises que nos demonstram o quanto é delicado para os filhos, principalmente os menores, ultrapassarem esta etapa do ciclo de vida familiar.
Esta pesquisa foi realizada com 30 sujeitos (S) – 14 homens e 16 mulheres – de classe média, na faixa etária de 21 a 29 anos, que residiam no Rio de Janeiro e se declaravam filhos de pais separados. Assim sendo, coloquei entre aspas os trechos extraídos de alguns dos resultados e análises realizadas pela pesquisadora.
“(…) no momento da separação, foi observado que grande parte dos entrevistados não recebeu esclarecimentos sobre o ocorrido (…) que muitos levaram um ‘choque’ porque não presenciavam relações conflituosas entre os pais – que justificassem o rompimento _ se surpreenderam (…) muitos percebiam que não havia disponibilidade dos pais para abordar o assunto, mesmo anos após a separação”. Por outro lado, “foi observado que o rompimento da relação conjugal acarreta, comumente, um complexo processo de mudanças para os diversos componentes do núcleo familiar.”
Constatou-se que “o mal-estar dos filhos no contexto pós-separação também foi exposto por aqueles entrevistados que se sentiram como joguetes entre os pais, tendo em vistas a manutenção das brigas. (…) no item em pauta, desfaz-se a idéia de que o rompimento conjugal irá, necessariamente, extinguir brigas e desentendimentos entre ex-cônjuges, contribuindo para que os filhos não fiquem expostos a tais desavenças ”.
Portanto, nas palavras da autora,” inicialmente, apesar de os entrevistados discorrerem sobre o divórcio como um tema natural, comum a muitas famílias atualmente, quando abordavam a separação conjugal dos pais e começavam a falar de suas recordações e vivências, esta se tornava um assunto delicado”. Por outro lado, a convivência familiar sofre vários ajustes que variam de acordo como a guarda é estabelecida.” (…) Alterações no relacionamento e nos períodos de convivência com aquele genitor que permaneceu com a guarda – geralmente as mães – também foram relatadas. Com dificuldades para manter os filhos, o guardião, por vezes, se afastava do lar por longos períodos durante o dia devido ao aumento da carga horária de trabalho. (…) Os entrevistados que apresentaram menos queixas quanto à separação conjugal dos pais e a posterior convivência com estes foram aqueles que se sentiram verdadeiramente acolhidos nas duas casas após separação, com livre acesso a ambos os pais”.
Na alianças com o guardião a pesquisadora aponta que “separação conjugal com litígio, os filhos podem estabelecer alianças com um dos genitores, desenvolvendo uma forte vinculação preferencialmente com o guardião, a quem percebem de maneira mais positiva.” Ressalta que “estas alianças devem ser percebidas por profissionais que atuam junto aos casos como, por exemplo, nas Varas de Família. Nessas circunstâncias, destaca-se o equívoco que pode existir quando se resolve averiguar com qual dos genitores a criança deseja residir. Aprisionado em um forte vínculo com o guardião, o filho não possui escolha, espelhando a única resposta que lhe é possível, dada a intensidade da situação a que está exposto.”
Desta forma, podemos reafirmar que as vivências no contexto familiar pós- divórcio são extremamente importantes para o bem estar dos filhos, principalmente para os menores e também ressaltar que os pais precisam estar atentos na percepção de que a adequação dos filhos é diretamente proporcional a adequação dos pais.
Entender o pós-divórcio sob o ponto de vista dos filhos, abre uma nova perspectiva de entendimento sobre a convivência entre os diversos membros familiares.
Fonte da pesquisa
BRITO, Leila Maria Torraca de. Família pós-divórcio: a visão dos filhos. Psicol. cienc. prof. [online]. mar. 2007, vol.27, no.1
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