Perdeu-se o limite do tempo

 E do espaço

Onde estão  nossas fronteiras?

 

No processo de mudanças tecnológicas, a sociedade da informação provocou rupturas no tempo;  pode- se fazer várias coisas em frações de segundos.  Por outro lado, não há limites;  os horários são elásticos, ou seja 24 horas ” no ar”.  Tempo e espaço se redefinem.

O que isto  traz como consequências na vida humana?

Nas conclusões de alguns estudiosos:

A criança  internaliza o mundo social em que vive  e de acordo com Berger (1999) «as paredes de nosso cárcere já existiam antes de entrarmos em cena, mas nós a reconstruímos eternamente. Somos aprisionados com nossa própria cooperação». Nas sociedades atuais (em mutação) não há uma lógica única, há uma multiplicidade de processos culturais e sociais que organizam as ações, podendo assim coexistir  vários pontos de vista.

Melucci (2001) observa que,   nas sociedades na qual a informação é o centro, as experiências que constituem o sujeito são, cada vez mais,  permeadas pela tensão entre limite e possibilidade, entre o pleno e o vazio. Não há mais uma base sólida de identificação estável, e as seguranças devem ser construídas por cada um.

Hoje, as sociabilidades tornaram -se fluidas;  as pessoas desempenham uma  diversidade imensa de experiências,  pertencem  a uma ou mais coletividades, simultaneamente  ou não. Segundo Simmel, 1983, ” o que existe é uma miniatura do ideal societário que poderia ser chamado a liberdade de se prender, (…) convivência com o outro liberada da seriedade e das obrigações da vida.”

Para muitos jovens esse contexto se traduz em desinteresse, apatia e individualismo.

Melluci, 1992, também aponta que “o encontro é a possibilidade de colocar lado a lado duas regiões de significado, dois campos de energias em frequência diferente e de fazê-los vibrar juntos. O encontro é sim-patia, é com-paixão, sentir-com-o-outro. É a possibilidade de descobrir que o sentido não nos pertence e nos é dado no encontro, mas, ao mesmo tempo, só  nós podemos produzi-lo.”

Além de tudo que foi colocado, acrescento que vivenciamos a  força dos meios de comunicações como  predominante em todos os âmbitos da vida humana; os comportamentos são modelados.

A família é parte do sistema cultural, como podemos pensar em sua interferência  para uma mudança nesse processo?

Nosso lar é o  porto seguro, por onde andam os seus moradores?

Norma Emiliano

Referências

Berger, Peter (1999): Perspectivas sociológicas: uma visão humanística. Petrópolis: Vozes.  

Melucci, Alberto (2001): A invenção do presente: movimentos sociais nas sociedades complexas. Rio de Janeiro: Vozes. 

Simmel, Georg (1983): «Sociabilidade: um exemplo de sociologia pura ou formal». Evaristo Morais Filho (org.): Simmel. São Paulo: Ática.

Norma Emiliano

Comments

  • chica
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    Interessante e importante tema,Norma. Faz mesmo pensar e nós, como família, temos que rever atitudes, pensar outras, inventar, agregar e saber que na família, não nos podemos deixar perder. beijos,chica

  • aluisio cavalcante jr
    Responder

    Querida amiga

    Há lugares
    que o coração
    gosta de viajar.
    Lugares onde a amizade
    um dia bebeu da alegria,
    e por isso decide voltar.
    Lugares como este.

    Um grande abraço,
    e obrigado pela amizade.

  • Toninho
    Responder

    Uma reflexão complexa Norma, este boom da informação, veio de encontro a todas as paredes que coexistiam na família.
    Parece que estamos assistindo a invasão de nossos quintais, que agora se fazem pela porta da frente. Penso que temos uma grande batalha na moderação deste assedio, para reencontrar a simpatia, o encontro da seriedade.
    Você bem como Melluci na ultima estão corretos.
    Ótima postagem amiga e que deveria ser mais divulgada e debatida.
    Carinhoso abraço.
    Beijo.

  • Lúcia Soares
    Responder

    Acho que usar o tempo depende realmente de cada um. Meus filhos não andam aprisionados à internet, escolhem seus horários e suas atividades. Os netos, embora com acesso a muita tecnologia, ainda passam horas no play, brincando com uma turminha boa. Depende de cada família derrubar as paredes que os aprisiona e não “culpar” a tecnologia viciante. O melhor lazer ainda é o coletivo, sentar-se com amigos, conversar, rir.
    E, dentro de casa, o fundamental é ter tempo para conversar, trocar ideias, ter atenção para cada um dos membros.
    A vida é feita de escolhas, diariamente. E quem opta por se aprisionar, acho que o fazem conscientemente, ainda que achem que não.
    Beijo, Norma.

  • Beth Lilás
    Responder

    Norma, no meu post de hoje falo da Paz, da educação para se ter paz e uma das coisas que poderá ajudar em muito que isto aconteça um dia, pode e deve, ser a comunicação, pois quando nos fazemos entender com tolerância, amizade, amorosidade, compaixão, coletividade e muitas outras coisas, transformamos o mundo em paz que é o que todo ser humano busca na vida.
    Adoro reflexões assim, ela nos engrandece e faz girar isso que é o tema = a comunicação.
    beijos cariocas

  • marli soares borges
    Responder

    Norma, nessa reflexão, estou com Simmel, 1983, ” o que existe é uma miniatura do ideal societário que poderia ser chamado de liberdade de se prender, (…) convivência com o outro liberada da seriedade e das obrigações da vida.”

    Adorei: liberdade de se prender, de voar e pousar.
    Bjs
    Marli
    Blog da Marli

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