Você Pergunta – 10
Eu respondo
Este post faz parte de um projeto, assim sendo dirijo-me a pessoa responsável pela pergunta, mas de forma a trazer reflexão para outras pessoas que poderão se interessar e ler .
Meus pais se separaram quanto eu tinha 13 anos e tive que cuidar de dois irmãos pequenos e assumir a casa. Hoje, aos 19 anos, sinto-me mal comigo mesmo (sinto-me feia, má, sem amigos e preciso sempre ter um rapaz comigo). Estou com uma enorme depressão, sem vontade de viver e sem gostar de mim. Nunca me dei muita importância, nem nunca tive uma figura feminina para me apoiar. O que faço da minha vida se não sei viver nem gosto de nada?
Cada pessoa é única em suas vivências, sentimentos e percepções. Assim sendo, as respostas fornecidas a cada questão são contextualizadas, não se aplicando necessariamente a todos a todos os casos.
De acordo com os dados fornecidos identifiquei alguns fatores significativos da questão:
– Desestruturação familiar- brigas constantes dos pais, infidelidade, desatenção com os filhos;
– Separação dos pais;
– Ausência do modelo feminino;
– Inversão de papéis – de filha à cuidadora;
– Fragilidade emocional para atender as demandas das funções (ser mãe dos irmãos e cuidar da casa na pré- adolescência);
– Baixa auto-imagem
– Sentimentos contraditórios em relação à família – amor e ódio;
– Vitimação
– Sentimentos de impotência diante da vida (depressão).
Você tem uma história familiar complexa e hoje está sofrendo as consequências desta sua trajetória. Os modelos paternos (pai e mãe) são fundamentais na formação da nossa personalidade. As interações primárias nos dão visão de mundo e de nós mesmo (auto-estima).
Você assumiu papéis que não foram compatíveis com o momento do seu ciclo vital (pré-adolescente), não tinha estrutura emocional para tal. Não teve o cuidado, atenção que se sentia merecedora. Porém, cada um dá o que recebeu, e as atitudes de seus pais estão relacionadas, provavelmente, a essa premissa
Nós somos frutos de uma história que se inicia antes mesmo do nosso nascimento. Todas as experiências pessoais de seus pais constituíram o que eles são. Portanto, a forma como foram criados e as percepções que tiveram do que viveram, influenciaram a forma de vida que você começou a participar quando nasceu. Não somos como” bolhas de sabão suspensas no ar”.
Seus sentimentos contraditórios em relação a sua mãe e pai – amor e ódio- , provavelmente, lhe dão sentimento de culpa.
O comportamento libertino da sua mãe está interferindo em seu comportamento e você se vê um pouco como ela, tendo vários casos. Assim sendo, sua auto-imagem é fruto do mal estar interno que está vivendo.
Podemos ter escolhas diferentes dos nossos pais. O trechinho abaixo é de Charles Chaplin (Seguir em frente) traz uma excelente mensagem. Fonte
“Não faças do amanhã
o sinônimo de nunca,
nem o ontem te seja o mesmo
que nunca mais.
Teus passos ficaram.
Olhes para trás…
mas vá em frente
pois há muitos que precisam
que chegues para poderem seguir-te.”
Ou seja, você pode procurar entender as histórias dos seus pais, perdoá-los e seguir uma vida própria. Cuidar-se, amar-se, fazer boas escolhas relacionais e construir um núcleo familiar seu ( ser boa mãe e esposa). A este processo chamamos de individuação (Bowen, 1978). Mas, a terapia é fundamental para poder realizá- lo. Oriento a procurar primeiro um médico para avaliar e tratar sua depressão.
Você se coloca como vítima (o que fizeram de mim e para mim). Contudo pode ser dona da sua própria história.
Você é jovem, com uma vida pela frente, e cheia de possibilidades.
Norma Emiliano
Comments
chica
Não podemos nos deixar abater pelas histórias de vida complicadas de nossos pais.
Se aprontaram ou não…Isso é passado e a vida nos espera…
Seguir a nossa própria, tentando fazê-la legal sempre. beijos,tudo de bom,chica
Valéria
Oi Norma!
Para uma jovem nesta idade compreender as variantes que estão a forjar o seu comportamento é muito difícil. É um processo de dentro para fora que uma baixa autoestima e a desmotivação para a vida são fatores que pesam na sua descoberta e iniciação. Quantos sentimentos conflituosos devem pairar nesta cabecinha. Para a organização destes sentimentos se faz mesmo muito necessária a intervenção de um profissional. Os pais são referenciais fundamentais na vida de uma criança a base saudável ou não na formação da personalidade, este caso ilustra bem isso infelizmente.
Grande beijo e paz!
Giovanna
Norma que serviço maravilhoso vc tem prestado através da sua página. parabéns!!!Bjs
Denise
Quando uma fase do ciclo vital é “pulada”, existe a tendência de vivê-la num tempo inadequado. A adolescência carrega muitas características que envolvem insegurança, medos, descobertas acerca de si – no todo, incluindo corpo/sentimentos/desejos/inquietudes. Talvez seja a mais expressiva fase da vida, que é quando estruturamos nosso Eu num conjunto complexo.
Esse período ainda não passou – 19 anos – e a intensificação do que já costuma ser forte, pode estar potencializando os sintomas (mais do que compreensíveis nessa análise que vc faz, Norma).
Sabemos que a tendência de repetição dos padrões tb é um ponto importante para esta filha, além da construção de crenças enormes e limitantes acerca de relacionamentos – e de relações de dependência afetiva.
A separação de um casal respinga em todo o sistema familiar, imagine quando resulta na inversão de papéis e sobrecarga ao indivíduo em formação. Infelizmente uma realidade cada vez mais presente na vida e nos consultórios.
A boa notícia é que isso pode ser compreendido, ressignificado, superado, e a vida seguir adiante, apesar dos pesares.
Abraço, Norma, um ótimo dia a vc!
Roselia Bezerra
Olá, querida
Gostei do processo de “individualização”… tenho aprendido a me sentir confortável dentro de mim com a maturidade… Vale a pena!!!
Um dia a moça em questão será muito feliz… tudo pode ser tranformado em pérolas…
Bjs de paz
Manu
Olá Norma,
De facto há vidas muito complexas! Todos os dias ao pegar no jornal constato isso e fico a pensar…e se…e se…e se…, considero que há sempre uma forma de ajudar a pular!
Primeiro de tudo essa jovem, que teve que se fazer adulta à força das circunstâncias, tem que tratar a depressão.
Beijinhos para ti.
Manú
C.
Muito bom teu posicionamento na pergunta, Norma. Por isso acho bom lidar com profissionais da área, nesses casos.
Infelizmente tem muitos casos como esse, atualmente, e as meninas estao desestruturadas emocionalmente achando que ter um rapaz ao lado resolve, mas por pura falta de orientacao. Aí nascem os filhos das maes solteiras, e a história continua…
Bom dia pra você!
josé cláudio – Cacá
Norma, acho que você foi perfeita. Não sou especialista em nada mas sua intervenção sensata, profunda e com um prognóstico estimulador, ajuda até a quem passa ao largo do problema mas conhece coisas semelhantes. Abração. paz e bem.