Perdas – Socorro

 Nona semana desta Série que segue  no percurso das vivencias compartilhadas.  Nesse encontro o relato é da amiga Socorro do blog seguindominhaspegas.

 A morte de crianças e jovens adultos é a frustração de expectativas geracionais.

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        Perdas deixam sempre um vazio, uma lacuna em nossas vidas, uma sensação de fracasso, de abandono. E há perdas que são extremamente mais dolorosas que outras, que nos fogem à compreensão, que não se aplicam ao curso natural.

       As piores perdas são as de vida, de pessoas que nos são queridas, mas há também outras significativas, e que nos marcam profundamente, que no momento não convém discorrer sobre elas, são assuntos para outras ocasiões.

        A perda da minha avó materna me marcou muito, foi quase como perder minha própria mãe, pois, ela era um pouco mãe também, e tínhamos um relacionamento estreito, de muito amor, carinho e dedicação, o que significa dizer que até hoje tenho lembranças nítidas dela, e muita saudade.

        No entanto, há uma perda, que se fez mais dolorosa que as outras, e que ainda hoje, apesar de tantos anos, não consigo encarar com naturalidade. Trata-se da morte de um adolescente, de doze anos, filho de uma grande amiga, e que eu considerava sobrinho (do coração).

         Acompanhei sua vida desde a gestação: vi seus primeiros passos, primeiras travessuras, ouvi o balbuciar das primeiras palavras, ri com as brincadeiras… 

          Era um pouco mais velho que meu filho, aproximadamente sete anos, e muitas vezes brincou com meu então bebê, pois, como nossas casas ficavam próximas, todo final de tarde ele aparecia por lá, para brincar “de empurrar o carrinho” do meu filho. 

          O vi crescendo, e tornou-se um adolescente lindo. Era alegre, curioso, e tinha uma meiguice incomum àquela idade. Foi escoteiro, bom aluno, e já andava a se interessar pelas meninas.

           Infelizmente foi acometido por um câncer, um linfoma, que o retirou do nosso meio abruptamente, em apenas dois meses.

           Senti muito. Muito mesmo. Nunca consegui entender. Perguntava-me: por quê? Por que não lhe foi dado a chance de fazer o tratamento e chegar à cura? Era tão jovem, tinha tanto para viver, tanto para aprender…  Penso muito nele. Sinto saudades. Seu sorriso continua vivo na minha memória. Fecho os olhos e o vejo brincando, ou descendo as escadas da sua casa, pulando de dois em dois degraus, como costumava fazer, e acabo sempre concluindo que sua morte foi ilógica.

            Recentemente, outra morte me chocou, tanto por ser de pessoa da família, muito jovem ainda, gente do bem, quanto pela covardia e insensatez que aconteceu.

            Custa-me ainda compreender a morte como um processo natural da vida, pois, morte e vida são muito antagônicas.

             Aceito com mais naturalidade a morte de pessoas idosas, que tiveram a oportunidade de viver, de aprender, de procriar, de saborear, de amar, de descobrir, de transmitir conhecimentos, valores, enfim, mas, quando se trata de pessoas jovens, volto ao meu dilema: Por quê? Qual o sentido? E acho a morte extremamente injusta.

              Mas, por outro lado, penso que se existe na face da Terra alguma coisa justa, é a morte, pois que não escolhe raça, cor, idade, performance, beleza, riqueza, nada. No fundo, tudo é vaidade debaixo do sol, como bem diz o livro do Eclesiástico.

Socorro

A morte de entes queridos deixam suas marcas transformadas em saudade. No entanto, as mortes prematuras, “fora de hora” em termos cronológicos são mais difíceis de serem aceitas do que as mortes “a tempo”. Esta perda é sentida como uma tragédia.

A falta de justificativas para a perda acarreta um luto prolongado produzindo um sofrimento imenso misturando dor e culpa.

 Em algumas situações, pode paralisar os demais membros familiares em relação aos seus projetos de vida.

 A perda pode se transformar na mais dolorosa de uma família quando há a reversão da ordem natural, principalmente quando se trata de uma criança ou jovem adulto.

Obrigada querida amiga por nos permitir compartilhar de mais uma faceta da perda por morte que atinge a humanidade.

Norma Emiliano

Comments

  • josé cláudio – Cacá
    Responder

    Bom saber opiniões variadas acerca desse nosso inexorável fim. Realmente a gente tem mais dificuldade de aceitação quando ela , digamos, se antecipa;

    Eu estou aqui às voltas com esta possibilidade em família e nem quero pensar em tais possibilidades.

    Abraços. paz e bem.

  • chica
    Responder

    Linda participação da Socorro e todos nós parece que temos mais dificuldades nas perdas de pessoas jovens…

    É mais difícil de entender…Beijos às duas,tudo de bom,chica

  • Isadora
    Responder

    Socorro e Norma, a perda é sempre difícil, mas confesso que a partida de pessoas novas, por fugir do ciclo natural faz com que não consigamos entender. Eu confesso que por mais explicação que receba não consigo aceitar com facilidade.
    Um beijo para as duas

  • Roselia
    Responder

    Olá, queridas Norma e Socorro
    Me arrepiei toda quando vc narrou a morte do sobrinho (de coração) adolescente… isso é triste demais!!!
    Já perdi sobrinha com 3 meses e priminha com a mesma idade… quanto mais o tempo passa creio ser mais difícil a separação nesta vida…
    Bjs de paz às duas

  • Valéria
    Responder

    Oi Norma!
    Para mim a perda é sempre difícil! Não sei se porque perdi minha mãe muito cedo, tinha 13 anos, acho que depende de quem fica. Para os jovens perder os pais é sempre muiiito triste, uma parte deles vai ali, você fica sempre incompleto por não ter vivênciado o ciclo completo de ser filho, de ser protegido. Tenho 51 anos e destes só fui filha por 22, pois meu pai morreu e ue tinha 22 anos. Já era mãe, fui aos 20, portanto fui mais protetora que protegida, não sei se é neura minha, mas sinto muito isso.
    É um tema delicado esse! Perda será triste sempre!

    Beijos e ótimo dia!

  • Élys
    Responder

    Difícil , sempre se torna um afastamento, principalmente se é de uma pessoa jovem, de uma criança , quando a expectativa não era essa.
    Mas temos que pensar que a vida tem suas motivos e são muitos, os mais diversos e que fogem a compreensão da maioria das pessoas.
    Um abraço a Socorro e a Norma.

    Norma enviei a minha participação, para a semana dos namorados. Você recebeu?

  • Ana Karla Misturação-Misturão
    Responder

    Socorro ficou bem marcada com essa morte, assim como relatou. E eu concordo com ela.
    Acho injusta a morte dessa forma.
    É mais fácil aceitar a de um idoso. Não que não lamente, mas pela forma natural da vida.

    Xeros as duas

  • Yasmine Lemos
    Responder

    Desculpa, não sei o que escrever diante da maior e pior dor do mundo.meu beijo em Socorro

  • Manuela Freitas
    Responder

    Socorro e Norma,
    As perdas são sempre algo muito forte em nós! Tem-se sempre aquela ideia que as pessoas vão ficar connosco e de vz enquanto vem aquela sombra.. e penso, eu queria ser a primeira!
    Este post me impressionou bastante, porque há relativamente pouco tempo tive uma perda familiar, de alguém jovem e de uma forma muito violenta!
    Bjs,
    Manu

  • C.
    Responder

    “Aceito com mais naturalidade a morte de pessoas idosas, que tiveram a oportunidade de viver, de aprender, de procriar, de saborear, de amar, de descobrir, de transmitir conhecimentos, valores, enfim, mas, quando se trata de pessoas jovens, volto ao meu dilema: Por quê?”

    Ao ler isso eu lembrei da infeliz vez que ouvi a mesma coisa quando minha mae faleceu, e fiquei pensando o quanto seria bom se essas pessoas tivessem resolvido nao falar nada… desculpe a autora do texto, mas, me veio essa infeliz hora na lembrança. Porque ninguém quer perder para a morte uma mae, só porque ela já tinha vivido 80 anos…

  • Socorro Melo
    Responder

    Olá, Norma!

    Pra mim, é difícil falar de perdas, sem sofrer de novo. Antes, tinha pânico da morte, hoje até já consigo falar sobre. Mas, é bem difícil. Preciso aprender a lidar com isso, pois, é a única certeza que temos na vida: a da morte.
    Quero agradecer por esta participação, pelo seu cuidado, empenho, e carinho. Infelizmente não consegui mandar a imagem, tentei diversas vezes, e não deu. Você escolheu uma linda imagem.
    Um grande abraço a todos que deixaram para mim uma palavra, um abraço, enfim. Que Deus continue os abençoando!

    Beijos, Norma
    Socorro Melo

  • Toninho
    Responder

    O relato da Socorro vem abraçar ao que eu sempre me quedo,que é esta inversão, como se a vida tivesse uma rota certa e direta onde os mais velhos morrem e ficam os mais novos.Eu sempre senti esta dor, de uma mãe enterrar o proprio filho isto me parece perverso por demais,mas pelos olhos da fé, nos calamos na vontade Divina e seja feita a Vossa Vontade e não a minha.
    Bela sua interação reflexiva Norma. Voce é perfeita nesta materia. E nós vamos ganhando muito nestas reflexões. Fico grato sempre por estar aqui.
    Meu abraço de toda paz e admiração.
    Aproveito para dar uma olhadinha no blog da amiga Socorro.
    Bju de luz nos seus dias.
    Espero que nao tenha tido mais problemas com o meu blog no acesso.
    Tenha uma linda noite.

  • Gina
    Responder

    Creio que acontece com todos nós sentir mais quando a perda é de pessoas jovens.
    Queiramos ou não enfrentar a realidade, estamos todos caminhando para o mesmo lugar…
    Socorro, também já passei por essa sensação de pânico como você. Aos poucos, fui melhorando, graças a Deus!
    Beijos, meninas!

  • Norma Emiliano
    Responder

    Amigos temos caminhado numa enriquecedora troca sobre este tema dificil, tendo os relatores como nossos guias ao exporem suas vivências e sentimentos.

    É muito gratificante observar o interesse de tantos, os que comentam e os que apenas leem, nesta proposta que tem ido além das minhas expectativas.

    Vamos interromper na próxima quarta, mas retornaremos no dia 14 com o relato do amigo Toninhobira.

    Meus agradecimentos, mais uma vez, à querida Socorro e a todos vocês que se dispusseram a integrar a Série
    bjs,

  • Denise
    Responder

    Outra clara demonstração da marca profunda que uma morte prematura deixa, gerando o inconformismo esperado no coração de quem convive melhor com a ideia da morte na idade avançada, sendo que nem pra esta todos estão preparados.
    Lendo o relato de Socorro, a alma da gente se arrepia diante de vivências tão semelhantes, sentimentos tão parecidos que parecem nossos…por isso compreendemos, nos afinizamos, pq todos, em alguma medida, já vivemos estas perdas.
    Um beijo para ambas – e meu carinho.

  • Maria Emilia Xavier
    Responder

    Não existe possibilidade de questionamentos quando perdemos para a morte. Qualquer outra perda é passível de ser transformada ou superada, por maisinjusta, covarde ou perversa que seja. Como não somos preparados – haverá como? – para este tipo de perda, embora saibamos que a qualquer momento ela vai chegar, não há dor maior ou menor – dói, esfacela, esvazia e nos tira o chão… Texto forte e doído.

  • Glorinha Leão
    Responder

    É muito triste a dor da perda prematura…perdi tb um sobrinho do meu marido eletrocutado, aos 17 anos…uma dor sem tamanho para toda a família, pois se espera sempre, que a ordem natural da vida seja os mais velhos irem antes, não os jovens…isso gera muita dor e revolta. Mas um aprendizado. O relato da Socorro foi muito verdadeiro e doído. Solidarizo-me a ela nessa dor tão prematura. Beijos às duas,

Grata por sua visita sempre bem-vinda.

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