Perdas – Denise
Na décima segunda semana desta Série, a amiga Denise do blog Tecendo Idéias compartilha seu relato nos possibilitando ampliar e ao mesmo tempo filigranar nosso olhar.
“A vida é uma grande roda, e ela não pára antes de chegar ao seu destino.” Frankl, V.
PERDAS
Perdemos pessoas, e esta é a mais expressiva perda que sofremos – deixa marcas, vazios, abismos, e uma dor irremediável. Pela morte somos forçados a aceitar a ausência de quem amamos, considerando que a maioria de nós não saiba lidar bem com esta partida. Quando as pessoas se vão de nossas vidas, ou nós saímos das suas, vivemos o período de luto pela perda de tudo que a pessoa representa, ou representou. Ela pode ser, ou ter sido, nosso sonho mais perfeito, pode representar o significado mais absoluto da expressão felicidade. Talvez sejamos nós seu mundo mais bonito, e que, por inúmeras razões, perdeu esse valor, deixando de fazer sentido – tanto que nos deixam partir. Nos dois casos, a perda é dolorosa, e atinge as defesas que possuímos, nos cobram um preço alto e custamos a nos recompor.
No entanto, as perdas são mais presentes na nossa vida do que percebemos, enquanto vivemos o cotidiano. Perdemo-nos dos nossos sonhos, no caminho, de nós mesmos.
Perdemos a fé, a viagem, o horário. Perdemos a paciência em momentos cruciais. E perdemos a direção, o propósito, o encanto. Perdemos a ousadia nas circunstâncias em que a capacidade de ousar pode fazer a fundamental diferença.
Perdemos o lugar na fila, papéis importantes, o interesse. Oportunidades são perdidas, assim como o avião, as ideias, o bom humor. Perdemos a hora, a consulta, o amigo. Perdemos a noção, a vergonha, a postura. Perdemos o jogo, o emprego, a competição. A beleza, o espaço, a segurança. Perdemos a razão, a malícia, a vaidade. O sorteio, a festa. Perdemos a certeza. Caem os dentes, o lucro, a delicadeza. Perdemos a visão, o voto, a sanidade, a educação. Perdemos a inocência, a fala, o bonde. Perdemos a alegria, o ânimo, a constância, a determinação. Perdemos peso, bens materiais, a auto-estima.
Perdemos a melodia, o momento, o equilíbrio, a fome, o sono. Perdemos a capacidade de nos surpreender, e aos outros. Perdemos a habilidade em tratar de nossas questões e resolver os conflitos. Perdemos o suspiro de prazer, ganhamos a angústia para cuidar. Perdemos o colo, ganhamos o mundo. Perdemos o gol feito, a voz, o medo. Perdemos a esperança, o desconto que não pedimos. Perdemos as lembranças, a agilidade, a memória. Perdemos o respeito, o senso crítico, a amabilidade. Perdemos boa parte do dia dedicando atenção desnecessária a assuntos desimportantes. Perdemos a lucidez, a timidez, o desejo, a juventude. A graça, o sentido, a espontaneidade.
Perdemos chances únicas, valores antigos e tempo. Perdemos tempo entristecendo por tão pouco, considerando opiniões e pessoas que não somam, incentivando quem não quer nenhum tipo de ajuda – e deixa isso claro. Perdemos tempo acorrentados a um passado feliz, ignorando o futuro gestado num descuidando presente. E quanto tempo perdemos em lamentações, justificativas, porquês, medos, anseios, procuras vãs de coisas de pequena importância e valia! Talvez devêssemos gastar mais desse tempo repensando-nos, (re)avaliando sentimentos, comportamentos, buscando e encontrando soluções, novas formas de combater as dificuldades, resolver algumas questões, conhecer um pouco mais desse ser que construímos, e que perde sim, para ganhar experiência, força, recursos e evoluir.
Perdemos a saúde, por fim a vida. Mas, antes, corremos o risco de perder a paz, enquanto pranteamos as perdas grandes, desprezando as pequenas desistências diárias que fazemos em direção à morte… de tudo que já foi importante, da essência de tudo que nos faz sorrir e olhar a vida com os olhos curiosos de uma criança, daquilo que arrepia os sentidos, faz pulsar o coração, a vida valer a pena!
Denise Araujo
No compasso da vida atravessamos etapas naturais que são transpostas através de mudanças que significam abandonar para crescer.
No passo a passo da vida, deparamo-nos com etapas acidentais que com muita frequência nos tiram “o chão”. Entre quedas e recomeços seguimos em frente.
Viver é como mergulhar no vai e vem das ondas dos acontecimentos, navegar entre alegrias e tristezas. Viver é ter perdas imensuráveis e ganhos de grande valia. Nossa impotência diante da morte nos sinaliza a importância do aqui e agora. Nos relatos das onze semanas temos penetrado nas várias nuançes das perdas, acolhido as dores e compartilhado a oportunidade de interagir.
Quem sabe, como diz o poeta “o segredo da imortalidade é viver uma vida que vale a pena ser lembrada.”
Obrigada Denise pela sua participação que sumariza as diversas perdas aqui compartilhadas no decorrer das diversas semanas.
Norma
Comments
Yasmine Lemos
Não podemos perder jamais a dignidade,até para sofrer temos que tê-la ao lado.Belo texto Denise
beijo s
Alzira
Querida Denise
Vim aqui te ler.
Acredite, as lágrimas chegaram, pois a leitura me fez ver tantas perdas, pequenas, mas ainda perdas.
Quantas poderiam ser reavaliadas e transmutadas.
Senti como se estive sendo escaneada, lida no mais profundo do meu Eu.
Vou reler e reler.
Fica a minha gratidão a você e a Norma (muito prazer!).
Toninho
Norma que belo texto a Denise nos trouxe e presenteou,adorei como ela discorreu sobre perdas,numa vastidão perfeita.Parabens a ela pela clareza e beleza de texto para um tema tão incomodo.Linda sua reflexão no final como sempre com sua luz bendita. Acho hoje que um tema deste a gente passaria o ano escrevendo e lendo sobre ele,pois a cada apresentação, a gente sempre acaba por reavaliar nossos conceitos. Mais uma vez parabens por esta linda idéia neste cantinho de parada obrigatoria.Grato a Denise por esta luz forte a acender neste tunel de lamentações.Vou lá conhece-la.
Um abraço terno Norma com todo carinho e admiração.
Bju de luz no seu dia.
Élys
Um belo texto da Denise.
Atravessamos a vida acumulando perdas, mas em conrtrapartida ganhando experiência, evoluindo…
Beijos.
Betânia Torres
Denise e Norma,
Da leitura das narrativas até aqui publicadas, percebo que a vida sempre nos oferece a vida presente de presente, que as perdas por mais doloridas que nos sejam, nos remetem a apostar mais na felicidade do devir. Abraços, Betânia
Roselia
Caríssimos amigos
(no plural pois é extensivo aos seus leitores)
É com grande alegria interior que estou comemorando os 500 seguidores em meu Blog:
http://espiritual-idade.blogspot.com/
200 seguidores em meu Blog:
http://espiritual-poesia.blogspot.com
200 seguidores em meu Blog:
http://espiritual-mimo.blogspot.com
A Vitoria é nossa!!!
Pegue os seus mimos por lá… Vc os merece…
Excelente feriado com as bênçãos do Alto…
Com gratidão, carinho fraterno e amizade
SE DEUS É POR NÓS… QUEM SERÁ CONTRA NÓS???
Orvalho do Céu
P.S. Perder o gosto pela vida para mim é um desastre total. É perecer ainda nela… excelente citação, Denise. Um bj de paz às duas queridas amigas.
Socorro Melo
Oi, Norma! Oi, Denise!
Nossa! O texto está perfeito… belíssimo. Somos suscetíveis a tantas perdas… verdade que nem nos damos conta, com o passar do tempo, mas que, quando acontecem, nos desestruturam. E com certeza as perdas nos trazem ensinamento, e crescimento.
De todas as perdas relacionadas, pra mim, as mais dolorosas, além da perda da vida, é perder o ENCANTO, o INTERESSE, e a PAZ.
Parabéns, Denise! Bela composição (e reflexão)!
Grande abraço
Socorro Melo
manuel marques
a vida traz consigo as emoções e os acasos.
Beijo.
josé cláudio – Cacá
A perda do irrecuperável talvez seja a que mais afete a todos independente de cada capacidade de lidar com perdas em geral. Esta, normalmente está ligada à morte, a um fim , a algo irrevogável. E tem também outras grandes (que eu individualizo) tais como a dignidade e a reputação. No mais, pequenas perdas , aquelas que fazem parte do nosso ir e vir chegam até a servir de estímulo.
Belíssimo o texto da Denise.
Abraços. Paz e bem.
Gina
Realmente foi bem abrangente a visão da Denise. Muito bem escrito.
As grandes perdas é que geram mais reflexão. De repente, até o tempo, que dizíamos não ter, deixa de ter a menor importância e ficamos, por um lapso maior, pensando e pensando sobre o que estamos fazendo com ele.
Bjs.
Norma Emiliano
Amigos(as)
No fechamento deste dia, selecionei ítens de alguns dos comentários que são produtos das reflexões suscitadas pelo texto de hoje que , parafraseando Toninho, se constitui na “luz forte a acender neste tunel de lamentações.
– atravessamos a vida acumulando perdas, mas em contrapartida ganhando experiência, evoluindo..
– a cada apresentação, a gente sempre acaba por reavaliar nossos conceitos.
– quantas perdas poderiam ser reavaliadas e transmutadas.
– as grandes perdas é que geram mais reflexão. De repente, até o tempo, que dizíamos não ter, deixa de ter a menor importância e ficamos, por um lapso maior, pensando e pensando sobre o que estamos fazendo com ele.
– Não podemos perder jamais a dignidade,até para sofrer temos que tê-la ao lado
– de todas as perdas relacionadas, pra mim, as mais dolorosas, além da perda da vida, é perder o ENCANTO, o INTERESSE, e a PAZ.
– a vida sempre nos oferece a vida presente de presente, que as perdas por mais doloridas que nos sejam, nos remetem a apostar mais na felicidade do devir.
Enfim, no compartilhar de sentimentos e dores, refletimos sobre morte/vida / perdas/vida, ressoando na resiliência das pessoas.
Por outro lado, também nos fica o lamento que o tempo um dia esgota e transmuta em saudades, doces lembranças; o que nos fica é o esímulo ao crescimento e os desafios do VIVER e de acordo com o Princípio Budista, “ao aceitarmos a morte, descobrimos a vida” .
Obrigada querida amiga e colega Denise pelo compartilhar das suas reflexões .
Obrigado amigos que complementam com suas vivacidades esta Série.
Na próxima quarta, teremos o relato da querida amiga, do outro lado do Oceano, Manu, encerrando este nosso percursos sobre PERDAS.
Aguardo a todos.
Denise
Norma, meu agradecimento a você pela oportunidade de compartilhar destes meus sentimentos, este espaço aberto por você propiciou verdadeira reflexão em conjunto, e, pela troca destes olhares diferentes, aprendizados que agregam valor à forma como vivemos. Muito obrigada!
Adorei tua argumentação, complementando minhas ideias – como sempre, intervenções pertinentes, com a propriedade de quem sabe o que diz. A citação que você escolheu para abrir a postagem, foi perfeita.
Aos comentaristas que passaram por aqui e usaram desse tempo para usufruir da leitura, absorvendo dela aquilo que foi essencial, levando consigo uma semente de ideias que não foram pensadas desta forma, antes – minha gratidão pelo carinho de suas palavras, pelo incentivo e amizade.
Muito prazer Yasmine, Toninho (seja muito bem-vindo ao Tecendo, viu?), Élys, Betânia, Socorro e Gina. Grata pelo carinho de sempre, meus queridos Zizi, Roselia, Manuel e Cacá.
Obrigada a todos, de coração!
Um enorme e carinhoso abraço, esperamos agora o relato da Manu.
Qual será a próxima série, Norma?….vai pensando aí, adorei, quero mais!!…rs