Giovanna- A criança que eu fui

 

Estamos  na  oitava  semana desta Série, hoje,  vamos  conhecer a infância da nossa querida amiga  Giovanna  do blog Bordadoseretalhos.

 

“Uma pessoa pode ter uma infância triste e mesmo assim chegar a ser muito feliz na maturidade. Da mesma forma, pode nascer num berço de ouro e sentir-se enjaulada pelo resto da vida.” Charles Chaplin

 

Giovanna Valfre 004

 

Cresci com o pai ausente e a ausência de sua figura protetora, de seu nome em minha certidão de nascimento  por tantos anos, fez uma diferença enorme em minha vida. Avô e tios tentaram substituí-lo, mas nem sempre conseguiram. Essa ausência me trouxe um sentimento de que faltava alguma coisa na minha vida. E esse vazio às vezes me diz um “oi estou aqui”, ainda hoje. Superar isso tudo não é fácil, mas cresci no meio dos sonhos, idealizando uma vida cercada de carinho e amor, cresci lutando para  mudar o curso da minha história e isso também fez toda a diferença.   Os livros foram sempre  meus grandes companheiros nessa caminhada pra ser feliz. 

Mas quando penso na criança que eu fui me vem a cabeça uma menina quieta, calada, mas com a cabeça cheia de sonhos e uma imaginação muito fértil. Uma menina que falava com as flores e com os bichos e lia muito. Que começou  a devorar as letras  desde daquele dia que ao entrar na padaria conseguiu ler a palavra PASTEURIZADA  no freezer que guardava as sacolas de leite.  Que coisa engraçada, justo essa menina,  ler isso, ela que  tomou aversão ao leite desde os nove meses. O incrível para ela mesma  e para quem ouviu a leitura perfeita, pausada e confiante  é que a palavra é enorme e ela  tinha somente cinco anos.

Ao chegar em casa e contar para sua mãe, esta comprou,  em “mil” prestações uma coleção de histórias infantis lindas para ajudar e alimentar os sonhos  de sua menina. E desde aquele dia ela sentiu que na filha, a mãe, semi–analfabeta, se realizava. Essa mãe que sempre acreditou na menina e a alimentou com pão e livros, fez toda a diferença.

Livros sempre fizeram parte de sua história. Poderia faltar tudo, menos letras para serem lidas. Quando todos os livros já haviam sido lidos e relidos os lia mais uma vez. E depois de relê-los devorava as revistas disponíveis para as clientes do salão de sua mãe. Na leitura, viajou para todos os lugares, se destacou na escola, se reafirmou como menina, aprendeu, conheceu, construiu sua identidade,  cresceu, compreendeu a ausência do pai, sonhou e sonhou.

Sonhar sempre foi um exercício de sobrevivência pra ela. O que aprendia partilhava com  a mãe, com  seu irmão, com as flores, com os bichos, com suas bonecas. Contava histórias para quem quisesse ouvir e com as histórias, sonhava, planejava. Se lá no livro havia sempre um final feliz, acreditava piamente que na vida esse final poderia ser o mesmo e sonhava. Mesmo quieta e calada, brincava muito, tinha amigas e amigos, fazia estripulias e procurava guardar no coração o que a vida tinha de melhor, isso também fez toda a diferença.

 Fui uma criança sonhadora, corajosa, forte. Lendo sempre, no meu cantinho, planejei ser feliz, planejei estudar, casar, ter filhos e conquistar o que me faltou por tanto tempo. Hoje a criança que fui ainda sonha dentro de mim e ainda procura nos livros e na leitura uma forma de realizá-los (os sonhos)  todos. Para mim, ler e sonhar fez toda a diferença.

Giovanna

O ser humano é incapaz de se desenvolver só, sem o outro. A construção da subjetividade da criança está relacionada a sua relação materna e paterna. A criança cria o mundo a partir de sua relação com a mãe (projeções  e identificações). O pai é outro que quebra  essa simbiose, sendo essencial para a inserção do indivíduo  no mundo. A presença do pai, bem como a carência em relação ao mesmo, segundo Lacan, “não está necessariamente ligada a sua presença ou ausência física, sendo função simbólica.”

“A figura do pai” pode ser representada por outras pessoas,   avô ,  tio, ou segundo marido da mãe, entre outros,   e  pode tornar-se muito mais importante do que a presença de uma figura determinada geneticamente.

A  constituição do sujeito na família depende do outro, de reconhecer-se e ser reconhecido como sujeito autônomo,  dependente e merecedor de amor.

 Obrigada querida amiga Giovanna por nos permitir caminhar pelos traçados da sua infância.

 

Comments

  • Ana Karla – Misturação Misturão
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    Bom dia Norma!
    Para mim é sempre muito bom ler sober Giovanna, pois tenho uma admiração grande por ela.
    E parabenizo-a pela coragem e a determinação nas “letras”.

    Xeros

  • chica
    Responder

    Que legal ver a giovanna em criança aqui retratada e trazida.

    saber desses detalhes é legal !

    Um beijo às duas, linda semana e tuuuudo de bom e mais uma vez, parabéns pela série de sucesso. chica( hoje está melhor de entrar no blog,ainda bem!Estava ganhando um treco de não ter acesso,srsr)

  • Glorinha Leão
    Responder

    Ah a minha amiga Gi! Há tanto o que falar sobre ela, pois sei de sua estória toda e sei bem o quanto sofreu e o exemplo de ser humano que é! Essa mulher é uma guerreira, não só por sua força, mas, principalmente por sua suavidade e delicadeza, pois mesmo diante do mal, não sucumbiu e não se deixou levar por sentimentos de raiva ou vingança. Eu admiro demais essa amiga que fiz através do blog e que se tornou amiga, irmã, confidente. Estou louca para abraçá-la pessoalmente e dizer-lhe tudo isso olhando em seus olhos: Gi, amo você, mulher de fibra! Exemplo de superação e resiliência! Mulher e mãe exemplar! Grande beijo, parabéns às duas!

  • leci irene
    Responder

    Giovana… infancia com a falta de alguém – mas, esta falta ~não te impediu de ser a mulher bela e cheia de riquezas que és hoje!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Espero que minha filha sja assim como és: forte, mesmo guardando no fundo da alma a dor da falta do amor do pai!!!!!!!!!!

  • anabela
    Responder

    Que bom ler sobre a Gi! Visito o o blog dela sempre. Gosto do que ela escreve, das sugestões e da sua simpatia quando me visita no blog.

  • Lúcia Soares
    Responder

    A Giovanna é uma verdadeira guerreira, está sempre pronta a dar um abraço amigo, mesmo tendo seus motivos para desanimar. Ao contrário, ela está sempre alegre, esperando o momento certo de sua felicidade ser completa.
    Um beijo para ela.
    Bj, Norma!

  • Cris França
    Responder

    Olha a pose dessa menininha, anunciava a grande mulher que viria a ser, que lindo! Parabéns para as duas. bjs

  • Alexandre Mauj Imamura
    Responder

    A Giovanna é uma pessoa que admiro muito.
    Mesmo que a situação esteja a mais complicada, ela é daquelas que encontra uma palavra generosa para oferecer, braços para abraçar.

    Eu acredito que ela foi feliz, do jeito que deu pra ser, apesar de tantas dificuldades. Pq a felicidade ela soube buscar nas pequenas coisas, no bom sentimento, no carinho que nada custam.

    Linda série, Norma!
    uma boa semana pra vc

  • orvalho
    Responder

    Oi, meninas queridas
    Gi, vc foi a pérola da sua mãe, com certeza…
    O amor dela foi duplo, outra cerrteza que tenho…
    Se vc é o que é… grata deve muito ser grata à sua mãe e a quem ela delegou sua educação…
    Tenham as duas muita paz interior: uma para seguir com série tão linda e educativa e a outra para seguir nos livros,leituras e encantar, com palavras, aos seus leitores…
    Bjm de paz

  • manuel marques
    Responder

    “Uma menina que falava com as flores.” Ternurento.

    Excelente texto .

    Beijo.

  • Maria Célia
    Responder

    Oi Norma
    Lindo depoimento da Gi, ela escreve muito bem, com sentimento, sem vergonha de contar-nos seu passado, suas dores e problemas.
    Gostei muito.
    Bjo
    Maria Célia

  • Macá
    Responder

    Norma
    Parabéns a você pela série, pois assim conhecemos sempre um pouco mais das pessoas com quem falamos sempre e parabéns à Giovanna, por ter construido essa mulher maravilhosa que é hoje. Não a conheço pessoalmente, mas sempre encontro apoio e carinho quando a visito em seu blog.
    Beijos

  • Manuela Freitas
    Responder

    Gostei muito de conhecer a infância de Gi, que já prenunciava a mulher delicada, sensível e lutadora como a conheço hoje e que é uma amiga que muito admiro!
    O complemento das palavras da Norma são importantes relativamente a essa sombra que Gi arrasta relativamente ao pai. Eu penso que pais e mães podem ser outras pessoas que tenham amor para dar, afinal pais e mães biológicos por vezes muito maltratam os filhos!
    Beijos,
    Manú

  • Liliane Carvalho
    Responder

    Brilhante sua ideia Norma
    brilhante!!!
    não conhecia todos estes detalhes da Giovanna, agora posso conhecê-la e amá-la ainda mais.
    Percebo sua forma delicada e gentil com mais carinho ainda.
    Um beijo enorme para Giovanna e Norma

  • Norma Emiliano
    Responder

    Querida Giovanna agradeço mais uma vez pela sua participação e empenho na realização desta série que só existe pela presença de um que aceitou este desafio.

    Obrigada também a todos que aqui estiveram, principalmente, os que colaboraram com seus comentários.Assim, vamos interagindo, conhecendo mais os amigos, fazendo novas amizades e compartilhando as histórias.

    Aguardo a todos no dia 06/12 com o relato da amiga Neca.

  • Isadora
    Responder

    Norma mais uma vez os parabéns por essa iniciativa.
    Gi estou emocionada com a sua história, ainda que você já tenha comentado no blog. Ler aqui, foi reviver uma história e pensar em você e em tudo o que você passou para chegar onde chegou.
    Orgulho pela sua trajetória e feliz por, hoje, você tê-lo perto.
    Um beijo

  • Nilce
    Responder

    Oi Norma
    Que depoimento lindo da Gi.
    Ler e sonhar, construir esse mundo de sonhos. Maravilha.
    Adoro esta menina.
    Parabéns às duas e a esta mãe querida que a Gi tem.

    Bjs no coração!

    Nilce

  • Giovanna
    Responder

    Querida Norma, muito obrigada, é o que primeiro quero te falar. Estava muito preocupada com o texto pois achei que poderia estar meio meloso. Mas cada comentário aqui só me anima, encoraja, fortalece. Acho que virei aqui muitas vezes ler os comentários carinhosos. Valeu!!! Bjs

  • Beth Q.
    Responder

    Querida NOrma!
    Eu também já conhecia um pouco da história da Gi e a admiro muito por ser uma pessoa do bem e que superou às dores através do amor.
    Desejo a ela sempre toda a felicidade do mundo e que continue a ser esta pessoa linda e iluminada, cheia de fé e vida.
    À você, NOrma, parabéns pela avaliação final sobre mais este post.
    beijocas cariocas

  • Sonia Guzzi
    Responder

    Parabens pela iniciativa. Adorei saber mais sôbre a Gi.
    Grande abraço, em divina amizade.
    Sonia Guzzi

  • Gina
    Responder

    Norma,
    Já conhecia a história da Gio, mas sempre é um prazer adicionar um pouco mais de admiração.
    Podemos escolher pela resignação sem procurar progredir, superar, mas essa não foi a sua decisão e a mãe teve papel primordial na sua trajetória, de fato.
    Uma gracinha de pessoa!

  • Joana Campos
    Responder

    Olá, amo a Gio, e claro ja li em seu blog a historia dela, mas mesmo assim aqui foi contado tbém não é?

    Bjs às 2 blogueiras….

    Ei dona do blog, quando tiver um tempinho vá me visitar…tiespero!

  • Luzia
    Responder

    Olá Giovanna,
    Em meio a tantos comentários carinhosos e “próximos” sino-me uma forasteira (rsrsrs) mas diante deste lindo texto, resolvi me expor a tal. Parabéns pelo seu relato e pela forma como você conduziu suas dores …
    Luzia

  • Lidia
    Responder

    Gi, e um doce de pessoa , adoro seu Dom de escrever ,esse texto fantástico e prova disso,mas uma coisa eu sei Gi , quando ia lendo o que voce escreveu eu não fiquei triste por voce e sim pelo seu pai, pois ele deixou ser amado e deixou de ter o seu carinho , hoje ele poderia ser um pai mais feliz ou pelo menos um pessoas mais completa , por tanto que mais perdeu foi ele
    bjs

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