(Des) encanto

Autoral

Escrevo ao som das fortes marteladas, que se iniciam às 7h e só terminam quando escurece, com a construção de um prédio de luxo, na esquina da rua onde moro.

Morar em Niterói era um desejo há décadas. A orla marítima e a tranqüilidade eram para mim os pontos de maior atração.

Residente no Rio e estudante, na Universidade Federal Fluminense, tive o primeiro impulso que não se concretizou.

Fui morar no interior do Estado do Rio de Janeiro por 13 anos quando houve a chance do meu sonho se realizar.

Casada e com duas filhas, em 1992, com tudo alinhavado com o marido e por minha escolha entre Rio e Niterói, nos instalamos em Niterói e conseguimos, com certa facilidade, criar os alicerces necessários para iniciarmos nossa trajetória nessa cidade e localidade que tanto ansiava. Residência, a princípio alugada, escolas das filhas com matrículas realizadas e meu trabalho a 8 minutos da moradia e a orla marítima a duas quadras

Entre sonho e realidade, Niterói foi considerada uma cidade em que a qualidade de vida se propagou.

O pesadelo começou: o boom imobiliário inchou a cidade e a sua estrutura não acompanhou. Os serviços essenciais começaram a ser insuficientes; o trânsito caótico e os assaltos e furtos se instalaram.

Hoje, após 30 anos, os problemas não foram saneados, mas novamente assisto as propagandas sobre Niterói ser a cidade de melhor qualidade de vida dos idosos.

Onde ela se encontra? Não sei: ruas esburacadas, ausência de segurança, entre outros problemas que se enfrenta. Entretanto a roda voltou a girar.

O prédio em construção que me enlouquece com tatos barulhos e poeira está num espaço em que existia uma linda mansão que foi demolida, como muitas outras que traziam encanto à cidade.

No (des) encanto sigo, valorizando o que está sob os meus olhos: o imenso mar que canta quando o ouço silenciosamente e me traz novos desejos.

Grata por su visita e comentários sempre bem-vindos.

Comments

  • chica
    Responder

    Norma, entendo teu desencanto. Perfeitamente compreensível! Em nome do “progresso” tudo é estragado ao meu ver. Ainda bem uma coisa te resta : o mar…Esse mesmo que mude os himores, dia calmo, dias agitados, está sempre lá!

    É incrível como agem … Aqui em P.Alegre, li que é um dos melhores lugares. Como tu, só em parques pra caminhar e na nova orla..O resto, calçadas que nos levam aos tombos e enriquecimento de clínicas de fisioterapia… Isso sim prolifera!

    Olha o que fizeram na romântica e bucólica GRAMADO! Só grandes e luxuosos investimentos e cada vez mais cara a cidade. Torço para que o mundo dê uma volta e retorne a simplicidade! beijos, linda semana! chica

  • Ailime
    Responder

    Bom dia Norma,
    Imagino a sua frustração por todos os motivos que invoca, mas
    a expansão urbanística em alguns lugares como esse só veio trazer o caos.
    Bom que tem o mar para espraiar seus olhos e esquecer um pouco todos esses problemas.
    Beijinhos e uma ótima semana.
    Ailime

  • roseliadosreisbezerra
    Responder

    Boa noite de paz, querida amiga Norma!
    Entendo perfeitamente o que você passa e foi por isso que saí do RJ, já por duas vezes pelo mesmo motivo e nunca me arrependi.
    Inclusive, ainda fui a Niterói algumas vezes morando na Região dos Lagos por achar menos perigoso, entretanto levei um tombo na principal por esta cheia de buracos e com calçamento levantado, um horror!
    Endosso suas palavras, é pena e só mesmo olhando o mar lindo que vivemos em certos lugares.
    Aqui, por exemplo, é a Cidade Saúde que temos que ir à Vitória ou Vila Velha para todo tipo de atendimento personalizado… só no céu é um paraíso.
    Tenha uma nova semana abençoada!
    Beijinhos

  • Calu
    Responder

    Vc faz aqui, amiga Norma, um retrato fiel das 3 últimas décadas, alinhavando a realidade vivida à fantasia exposta num slogan caduco e mentiroso.
    Sendo nascida e criada aqui, vejo hoje, com lamento o descaso dado à cidade, o desrespeito para com os pedestres e o desmantelo das vias públicas, além dos demais absurdos citados por você.
    Vou parar por agora, se não faltará espaço na caixa dos comentários.
    Excelente crônica! Meus aplausos!
    Bjsss,
    Carmen

  • pedro luso
    Responder

    Olá, Norma, li com muita atenção esse seu texto sobre Niterói,
    por ter conhecido juntamente com a Taís, a cidade em mais ou menos 1990, e gostamos muito dela. Pena que esteja assim, em razão do “progresso”.
    Uma ótima semana, saúde e paz.
    Um abraço.

  • Lucinalva
    Responder

    Olá Norma
    É uma pena que Niterói esteja dessa forma, ainda bem que existe o mar para visitar sempre, um forte abraço.

  • toninhobira
    Responder

    Na vida temos mais desencantos do que os encantos Norma, visto que o progresso(sic) é avassalador e leva com ele nossas melhores lembranças. Hoje posso entender claramente as razões que fizeram Drummond desistir de voltar à nossa cidade Itabira, pois nada restou do que ele tinha em mente e que o tanto inspirou, o pico, as ruas de pedra, os casarões, a fazenda e por aí vai amiga.
    Sempre tive a imagem de Niterói como uma bela cidade de viver e a visitei nos anos 70 e 80 e gostava. Assim como adorava a Ilha do Governador.
    É isso amiga, colhemos desencanto, mas este olhar para o gigante ainda é o que nos alivia neste imenso mar de concreto e aço.
    Beijo e vamos viver a vida numa dança típica como disse na postagem anterior.

  • Maria
    Responder

    O passar dos tempos trás por vezes realidades que não esperávamos. Embora tenha o desencanto em relação a tudo o que mudou negativamente, tem sempre o encanto de ter o mar ao seu lado.
    Um grande beijinho

  • Ana Freire
    Responder

    Tenho um cantinho junto ao mar, onde enfrento problemas muito semelhantes… o ambiente de calma e descanso há muito que se vem perdendo… e a vista privilegiada que tinha antes… também vem sendo toldada com prédios e urbanizações que praticamente quase impossibilitam de ver o mar das minhas janelas, já! Tudo está sempre em mudança… e nem sempre sentimos que seja para melhor… mas… a única vantagem, continua a ser ter o mar por perto, bastante comércio, e boas estradas de acesso para todo o lado…
    Adorei o seu texto, com o qual muito me identifiquei!
    Um beijinho!
    Ana

Grata por sua visita sempre bem-vinda.

%d blogueiros gostam disto: