Relação com o tempo
Em visita a um centro cultural, ao percorrer as diversas galerias de fotos, ressurge – me o impacto da ínfima presença de cada ser nessa esfera terrena. Vêem-se figuras célebres, históricas, seus trajes, paisagens, costumes, enfim, tempos vividos e finitos. Surge-me uma estranha sensação. Mergulho no tempo e no retorno à superfície percebo a dificuldade de respirar; não sei se pela imensuralidade da vida e seu fluxo ininterrupto ou pela certeza de que muitas mudanças virão e que eu, ser desta época, não as alcançarei.
Em curto espaço de tempo surge um turbilhão. O mundo gira numa velocidade tamanha que nós, seres humanos, sentimo-nos atordoados e com sentimento de perdas constantes. Nada é usufruído com intensidade, pessoas cruzam com tanta ligeireza e impessoalidade nossos caminhos que mal conseguimos tocá-las. Sim! Agora me dou conta de que a estranha sensação provém da consciência de tudo virar pó.
Filhos, netos e bisnetos são desdobramentos geracionais, trazem em si marcas das histórias. Vivo, reflito, escrevo e revejo minha trajetória. Não sei se por orgulho ou por desejo de ser infinita, mas anseio deixar legado à humanidade. No entanto, já dizia Drumonnd “Na noite do sem fim, breve o tempo esqueceu minha incerta medalha, e a meu nome se ri”.
Qual será a vitalidade de um legado? Das suas múltiplas apropriações, em se ter porta-vozes que possam reinventá-lo ou de instituições que o preserve?
È difícil para nós, seres pensantes e apegados uns aos outros e sensíveis à beleza da vida, nos imaginar fora dela. A vida pós-morte é um mistério. Acredita-se, fala-se, estuda-se sobre ela, contudo nada é comprovado. A reação à morte, principalmente entre os ocidentais, é de grande sofrimento, mesmo para aqueles que possuem fé religiosa.
O ser humano não tem sido a melhor espécie desse universo, na medida em que vem destruindo o meio ambiente e se autodestruindo. Mas ainda o melhor legado é a própria vida tão bem ressaltada nas palavras de João Cabral de Melo Neto “vê-la desfiar seu fio, que também se chama vida, ver a fábrica que ela mesma teimosamente se fabrica: vê-la brotar em uma nova vida explodida”.
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