Identidade

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O nascimento de um ser não é o suficiente para que esse ocupe um lugar no mundo.

Muitas pessoas têm filhos sem planejamento ou mesmo sem motivos. É a partir  dessa premissa que ocorre o nascimento de Carlota, fruto de um caso efêmero. Filha de mãe solteira, que após um tempo de indecisão, opta pela gestação.

Ao longo dos seus primeiros sete anos vive ao lado da mãe e de um irmão, oriundo de outro relacionamento materno. Algumas vezes, Carlota ouvira a mãe dizer que não havia querido seu nascimento. Acostumou- se  a ganhar coisas usadas e a pouca organização. Aos quatro anos foi apresentada ao pai e passou a ter contatos esparsos com a família paterna (avó e tia); aos sete anos decidiram  que iria morar com o pai. Este era casado há cinco anos e tinha uma filha. Desse modo, foi inserida nesta família, e os sentimentos de rejeição, medo e exclusão irão permear seu cotidiano.

A construção da identidade ocorre através de influências de características adquiridas da personalidade,  da identificação com outras pessoas e de valores sociais. A identidade é uma concepção de si mesmo, composta de valores, crenças e metas com os quais o indivíduo está solidamente comprometido. Desta forma, os  hábitos, valores, limites, crenças vão sendo incorporadas no cotidiano infantil a partir de suas interações, principalmente com os pais e irmãos.

Entre expectativas e frustrações, entre amor e ódio, entre submissão e rebeldias os fios da mentira,  desconfiança e o medo foram sendo tecidos.

No decorrer de seis anos, retornou à casa materna por três vezes. Em todos os  retornos à casa do pai, as roupas esquecidas na casa da mãe eram motivos de conflitos com o pai. Todavia, não tinha nem um armário que fosse só seu. Dividia – o com a irmã. Seu material, roupas eram comprados sem sua opinião. O pai constantemente  lhe batia por pegá- la em mentiras.

As redes formadas pelos laços familiares constroem o pertencimento. Entretanto,  em meio a dois mundos conflituosos, que atitudes tomar? Como se comunicar? Como agradar?

Transitar entre duas residências não é questão. O que pode construir um problema é como cada um dos respectivos pais lidam com as suas diferenças e conflitos. Aquele que tenta afastar o filho do convívio de um dos genitores pode perder a confiança do filho.

Ajudar Carlota a construir sua identidade e auto-estima significa entender seus conflitos de lealdades, seus sentimentos de rejeição e exclusão. Significa ter regras claras de convivência; realizar mudanças concretas no atual espaço (moradia);  fazer sua inserção em projetos cotidianos da família; empatizar e apoiar seus conflito criando um clima de afeto e confiança para que ela possa transitar entre estes dois mundos e se enriquecer com as diferenças e não ser punida.

 Ambientes e regras internas distintas constroem pessoas mais flexíveis; característica de grande valor nos dias atuais, tendo em vista que  o sujeito pós-moderno encontra- se  diante de uma  variedade de novidades.

Norma Emiliano

Imagem Net

Comments

  • misturebasblog
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    Só com muito amor e carinho, respeito pela Carlota é que pode haver a sensação de bem transitar entre os dois mundos… Carlota precisa saber que tem um cantinho seu, aqui ou lá! Reflexivo caso esse e tão comum… bjs, chica

  • misturebasblog
    Responder

    Esse mistureba sou eu,Norma, pois tive que criar uma cta no WordPress já que várias amigas foram pra lá e estava dando problemas pra entrar.. bjs

  • Ailime
    Responder

    Boa noite Norma, este artigo é muito bom e muito abrangente.
    Actualmente há muitas situações de crianças que vivem sendo empurradas de um lar para o outro e muitas vezes com proibição de visitar um dos progenitores. Geram-se muitos conflitos familiares e a criança acaba por sofrer bastante e muitas vezes quando a familia pode tem que recorrer a tratamento psicologico. Noutros casos as crianças podem ficar com disfunções psicológicas.
    Só com muito amor e compreensão a criança crescerá saudável e sem traumas.
    Quero agradecer-lhe muito a sua atenção. Pode corrigir-me se achar que não interpretei bem algum aspecto.
    Beijinhos e boa noite.

  • verena
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    E pensar que existem inúmeras “Carlotas”por aí..
    Triste esta situação!
    Obrigada pela visita e gentil comentário, Norma querida.
    Tenha uma boa noite.
    Beijinhos de
    Verena e Bichinhos.

  • toninho
    Responder

    Pois é uma situação complexa e já tão comum no nosso dia. Podemos imaginar a cabeça de uma criança nesta transição entre dois pontos distantes em pensamentos e ações. Em minha familia há caso assim, onde as crianças perdem um pouco da identidade imagino.
    Um assunto que deve ser bem explorado em reflexões e de como pode-se ajudar, além de buscar ajuda de profissionais.
    Muito bom Norma e generosa partilha.
    Meu carinhoso abraço.
    Beijo.

    Como tenho perfil do WordPress transito bem nos blogs desta plataforma.

Grata por sua visita sempre bem-vinda.

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