Pânico e Contemporaneidade
“É em mim mesmo que tudo se faz, no imenso palácio de minha memória.
“È aí que tenho sob minhas ordens o céu, a terra, o mar e todas as sensações que pude experimentar exceto que esqueci; é aí que me encontro a mim mesmo.” Santo Agostinho, Confissões, Livro X
Não há pretensões neste textos de se fazer análises profundas ao que se refere à “síndrome do pânico”, mas apontar uma realidade social que vem se instalando e aprisionando as pessoas em suas próprias residências e aos seus sintoma.
Há na sociedade atual formas de sofrimentos através do pânico, psicopatologia que tem em sua base a ética da sociedade, ou seja, existe um processo de produção social do pânico através de valores atuais que geram desamparo e que marcam a relação do sujeito com a cultura.(BIRMAN, 1997). É comum ouvirmos, em diferentes locais, principalmente de pessoas mais idosas, que: “não tenho feito mais nada, não caminho, não passeio, entre outras ações, pois tenho medo de ser agredida e/ou assaltada, sinto- me desanimada, insegura”. Entre os jovens há uma desesperanças nas relações fugazes, nos empregos temporários, também na questão da violência, enfim no desmoronar da ilusão da onipotência.
Na contemporaneidade ocorre a tendência de uma redução do homem à dimensão da imagem; há uma ênfase no “exterior” em detrimento do “interior”, prevalecendo o sucesso, o espetáculo e o imediatismo, acarretando a fragilização dos vínculos sociais, laços mútuos e permanência dos grupos. De acordo com Birman (1999, p.167) “na cultura da estetização do eu, o sujeito vale pelo que parece ser”.
Portanto, há um descompasso entre o que se exige da constituição psicológica do sujeito (exaltação desmensurada do eu e conquista constante da felicidade) e a incapacidade de cumprir essas exigências, gerando sentimentos de impotência e desamparo. Por outro lado, não há amparo pela justiça às leis transgredidas.
O atual contexto traz brutalidades e destruição que provocam raiva, desesperança e impotência em todos que não toleram a degradação do ser humano, criando um ambiente propício ao aumento de casos de pânico.
Norma Emiliano
Referência
BIRMAN J. Mal-estar na atualidade, RJ, Civilização Brasileira, 1999
Comments
chica
Concordo que vários fatores propiciam essa síndrome, porém que o que estamos vivendo e vendo perto de nós , sinaliza pra ela, não é? Que coisa! bjs, linda semana,chica
Marilene Duarte
Norma, seu espaço está muito bonito.
Há alguns anos, uns vinte, talvez, passei por esse desconfortável processo. À época, disse-me o profissional que procurei, especialista no assunto, que o pânico era a doença do mundo moderno, onde o estresse imperava. Realmente, minha vida era uma loucura. Trabalhava demais, sem horário, na correria de São Paulo. Fui assaltada com arma, no trânsito e ainda tive problemas em um voo internacional, onde o avião quase perdeu a asa em uma nuvem de granizo e tudo saiu do lugar, machucando os passageiros. Mas fui medicada e voltei à rotina, de forma normal. Só não consegui superar o trauma do avião (rss). bjs.
Norma Emiliano
Oi Marilene obrigada pelo elogio. Vamos tentando melhorar.
toninhobira
Pois é Norma, o panico deve ser bem gerenciado por profissionais aos acometidos, há casos e estatísticas cada vez mais perigosas, sobre o crescimento deste no seio da sociedade. Há desesperança por todos os lados. Suicídios são crescentes e uma legião de medrosos cresce assustadoramente. Nas cidades industriais é grande o numero de suicidas e os profissionais buscam entender a ligação, que creio está ligada à falta de oportunidades para alguns e perda de sentido para os que saíram deste mercado e se sintam alijados. O mundo está cada vez mais violento e competitivo, o que podia ser bom criou uma avalanche de sentimentos que beiram à impotência e desta para o panico é apenas um passo. Esta questão da falta de amparo por parte da justiça é uma situação complexa e que não tem merecido da sociedade e órgãos a devida atenção. Há descredito geral nas instituições e nas pessoas. Logo um prato cheio para o mal do seculo, que se fantasia de estresse.
Muito boa esta abordagem que acho que pode e deve ser mais explorada por você, talvez até desmembrada para mais discussão.
Parabéns Norma, sempre generosa em partilhar de sua especialidade.
Carinhoso abraço.
Beijo