Sempre Família
A minha satisfação foi tamanha pela qualidade dos diversos textos que compuseram as participações dos amigos na celebração dos 5 anos deste espaço, que me despertou o desejo de registra-los no pensandoemfamilia Assim, fiz a proposta e ela foi aceita.
A ideia foi realizar uma série com o título Sempre Família. Portanto, toda segunda e quarta teremos um dos textos com o objetivo de criarmos uma roda de conversa em torno da temática FAMÍLIA a partir da colocação do participante do dia.
Por ordem de envio, começamos com Sivana Haddad
“Família é prato difícil de preparar”
(Trecho do livro: O Arroz de Palma, de Francisco Azevedo)
Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema, principalmente no Natal e no Ano Novo. Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige coragem, devoção e paciência. Não é para qualquer um. Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir.
Preferimos o desconforto do estômago vazio. Vêm a preguiça, a conhecida falta de imaginação sobre o que se vai comer e aquele fastio. Mas a vida, (azeitona verde no palito) sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite. O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares. Súbito, feito milagre, a família está servida. Fulana sai a mais inteligente de todas. Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade. Sicrano, quem diria? Solou, endureceu, murchou antes do tempo. Este é o mais gordo, generoso, farto, abundante. Aquele o que surpreendeu e foi morar longe. Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente.
E você? É, você mesmo, que me lê os pensamentos e veio aqui me fazer companhia. Como saiu no álbum de retratos? O mais prático e objetivo? A mais sentimental? A mais prestativa? O que nunca quis nada com o trabalho? Seja quem for, não fique aí reclamando do gênero e do grau comparativo. Reúna essas tantas afinidades e antipatias que fazem parte da sua vida. Não há pressa. Eu espero. Já estão aí? Todas? Ótimo. Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados. Logo, logo, você também estará cheirando a alho e cebola.
Não se envergonhe de chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza.
Primeiro cuidado: temperos exóticos alteram o sabor do parentesco. Mas, se misturadas com delicadeza, estas especiarias, que quase sempre vêm da África e do Oriente e nos parecem estranhas ao paladar tornam a família muito mais colorida, interessante e saborosa.
Atenção também com os pesos e as medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto, é um verdadeiro desastre. Família é prato extremamente sensível. Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido.
Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser profissional. Principalmente na hora que se decide meter a colher. Saber meter a colher é verdadeira arte. Uma grande amiga minha desandou a receita de toda a família, só porque meteu a colher na hora errada.
O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo ilusão. Não existe Família a Oswaldo Aranha; Família à Rossini, Família à Belle Meuni; Família ao Molho Pardo, em que o sangue é fundamental para o preparo da iguaria. Família é afinidade, é a Moda da Casa. E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito.
Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas. Há também as que não têm gosto de nada, seriam assim um tipo de Família Dieta, que você suporta só para manter a linha.
Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.
Enfim, receita de família não se copia, se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia a dia. A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel.
Muita coisa se perde na lembrança. Principalmente na cabeça de um velho já meio caduco como eu. O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro. Aproveite ao máximo. Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete.
Então, vamos esquentar nossa roda de conversa?
Neste excelente texto com o que você se identificou?
Que tempero você acrescentaria a sua família?
Norma
Comments
chica
Linda participação e texto trazido pela Silvana., Acredito que não há receitas e muito menos existem famílias perfeitas! E isso nunca podemos esquecer ,para que não nos deixemos abater!
Linda semana,beijos ,tudo de bom,chica
Norma Emiliano
Sim Chica, as comparações enfraquecem o potencial familiar e as individualidades deixam de ser respeitadas. Cada família tem sua própria dinâmica.
Roselia Bezerra
Olá, queridas Norma e Sil
No seu texto, Sil, me identifiquei com comida… família é alimento…. Como assim, vou me explicar: alimenta o meu ser… o meu coração fica saciado… fogão também é destampado… panelas maiores são tiradas do armário… tudo se modifica com a presença da minha família reunida…
Para mim, sem família eu seria um nada…
Deus foi generoso comigo ao me doar 3 filhos preciosos e os netinhos que estão presentes e os que ainda virão… rs…
Os de sangue e os “agregados ” (priminhos dos netinhos que me chamam de vó também)… rs…
Nós não somos afeitos a temperos… por questão de saúde mesmo, porém no sentido conotativo a que vc se refere, Norma, o condimento que poderia ser de muita valia pra nós, seria a erva doce… Quanto mais chazinho melhor pra nós quando estamos juntos… (todos gostamos de tomar um chazinho juntos à noite)… Se adoçarmos mais ainda a nossa vida tudo será bem mais alegre e feliz!!!
Não somos perfeitos, lógico, mas nos amamos… Isso nos basta!!!
Vc foi muito feliz em ter a ideia de postar, separadamente, cada convidado para que pudéssemos degustar todos os ‘temperos’ que incrementaram a sua festa de 5 anos do seu blog, Norma!!!
Um prato cheio será toda Segunda e Quarta, sem sombra de dúvida!!!
Bjm fraterno de paz e bem às duas
Norma Emiliano
Roselia vc reafirma o valor da família no seu cotidiano, no suprir suas necessidades afetivas. Percebemos que na modernidade paira um vazio entre muitos jovens que carecem deste estar juntos, de fortalecimento de raízes para se poder alçar o voo em direção aos outros grupos.
Vi um filme, Lembranças, que mostra as consequências drásticas dos conflitos internos e externos dos filhos por terem um pai extremamente voltado para o trabalho e não se dedicar a este estar junto, não poder compartilhar do cotidiano dos filhos.
Verena
Querida Norma
A minha família está no tempero certo…
Somos muito unidos
Na alegria e na dor, estamos juntos.
Só faltam os netinhos chegarem…
São “ingredientes” que não podem faltar na “receita”…rs
Linda tarde para você
Beijinhos de
Verena e Bichinhos
Toninho
Quando penso em família, de carona nesta belíssima analogia, logo me vem na mente uma variedades de ingredientes com características diferenciadas em sabores, mas que na grande panela se harmonizam para o prato final. Cumpre o uso de temperos como amor, tolerância, paciência com uma grande porção de cooperação e assim todos poderão apreciar e alimentar sem moderação. O texto é muito feliz na analogia. A máxima de que muitas mãos na panela faz a comida perder o tempero, aqui ela exige que todos coloquem suas ações no sentido do tempero final.
Foi ótima esta ideia da Silvana em partilhar este texto nesta bela festa, para que nos fartássemos deste saboroso prato.
Parabéns Norma pelo entusiasmo e ideia de posta-lo aqui para uma rodada de sentimentos e reflexões.
Uma linda semana e que a paz esteja em todas as família no tempero certo do dia a dia.
Meu carinhoso abraço amiga.
Beijo.
Silvana
Nossa Norma:
Que alegria compartilhar dessa série com os amigos.
E que bom cada um ir temperando á seu gosto e complementando o texto.
Por mais dificuldades que existam entre os membros de uma família, creio que a UNIÃO é o principal tempero para dissipar qualquer problema.
Obrigada pela oportunidade.
Boa semana.
Bjs.:
Sil
Anne Lieri
Norma, que ideia generosa compartilhar aqui todas as participações! Um belo texto a Silvana nos trouxe e a família sempre tem grande diversidade de personalidades,o que a torna mais interessante,divertida e um grande aprendizado pra todos nós! bjs,
Norma Emiliano
Toninho
Esta frase “a máxima de que muitas mãos na panela faz a comida perder o tempero, aqui ela exige que todos coloquem suas ações no sentido do tempero final”, é exatamente o que conduzimos, em terapia de família, os membros atinarem, ou seja: a corresponsabilidade das situações no contexto, o “doente” é apenas o ‘BODE EXPIATÓRIO” das questões familiares paralisadas.bjs
Norma Emiliano
Sim Anne, um grande aprendizado do viver juntos, mas respeitar a individualidade de cada um.bjs
Norma Emiliano
Verena
quando ela quer massificar acorrente. No seu caso a união é vivenciada como solidariedade, isto é ótimo. Mas quando ela é entendida como massificação, acorrenta e priva o crescimento dos membros familiares.bjs
Calu
Este precioso excerto que Silvana nos trouxe é ao meu ver uma das páginas mais líricas sobre o tema;Família. Em imagens e sabores, esta analogia nos faz degustar os muitos temperos que compõem a vida em família.Cada qual com seu sabor e todos contribuindo para um banquete farto e diversificado.
Bjos às duas.
Calu