Ponto de encontro 5 – Beth

Mais um encontro e muita satisfação por ter  nos conduzindo a querida Beth que nos traz profunda reflexão sobre o mundo que vivenciamos e a ética.

 

 

Fui desistindo aos poucos e hoje vou de ônibus e volto de táxi.  O carro fica na garagem quase a semana toda, só é usado para compras ou para algum lugar de difícil acesso, mas não tenho a mínima vontade de colocá-lo nas ruas e ficar driblando tantos veículos que empilham e engarrafam o trânsito de minha cidade.  Cansei! Vou de táxi que nem a Angélica.

Com isso, tenho conhecido muitos motoristas de táxi e a maioria, gente boa, gente trabalhadora e sofredora por tantas coisas da vida e principalmente por enfrentar um tráfego tão violento nestes últimos 5 anos como acontece aqui e em muitas outras cidades brasileiras.

Por isso pretendo contar, sentadinha aqui neste encontro das quartas feiras que a Norma nos reservou, como é  a difícil tarefa de dirigir num trânsico complicado tantas horas do dia. Conversas de taxista com uma cliente que gosta de papear e ouvir o que estes homens  tem pra contar.

Um deles esta semana, entabulou comigo uma conversa interessante e cheia de sentimentos verdadeiros, parecidos com tantos milhões de taxistas por este Brasil à fora , e que vou dividir aqui com vocês.

Dez minutos no táxi

– Eu prefiro que o senhor vá pela rua tal, porque agora com a mudança de trânsito, terá que entrar por ela para não dar muita volta.

– Ah, sim! Ainda bem que criaram esta faixa para táxis e ônibus e indo por ela, chegaremos mais rápido.

– Ué, mas eu vejo algumas pessoas trafegarem por esta faixa também!

– É verdade, mas é errado,  a câmera está filmando, só não sei se realmente vem multa.  Noutro dia um carro estava à minha frente nesta faixa, era um carro de passeio com os vidros escuros e todo fechado.  Eu dei uma buzinadinha para avisar que ali não era permitido.  E sabe o que o sujeito fez?  Abriu a janela, botou a mão pra fora, fez um sinal feio pra mim e continuou.  Infelizmente as pessoas ainda não estão civilizadas neste país!

– Pois é, nada se pode fazer diante de tanta impunidade, o jeito é não se estressar muito no seu dia a dia, senão o senhor acabará ficando doente.

– Doente!  Mas eu fiquei doente, contraí uma diabetes e tudo por causa do stress dessa minha lida diária.  A senhora veja, eu acordo 4 e trinta da madrugada, porque para chegar até aqui ao meu ponto, enfrento um baita engarrafamento desde Alcântara até Icaraí, quando chega no meio da tarde eu estou morto de sono. E hoje então, com este friozinho que está fazendo aqui perto do mar, quase que durmo no ponto. E o pior é que não tenho tempo para me cuidar direito.

– Mas, o senhor devia dar uma paradinha, pelo menos uma vez ao mês, para ir ao médico ou aos exames. E será que o senhor tem pressão baixa?

– Tenho sim, por isso me sinto melhor no tempo quente do que neste frio todo. (20 graus pra ele era muita friagem) Eu sei, senhora, mas acontece que as coisas estão difíceis e tenho muito pra pagar no final do mês.  Este carro mesmo, troquei agora, ainda estou pagando e ainda por cima, tenho um filho de 10 anos que mora com minha mãe, do meu primeiro casamento e tenho que sustentá-lo e passar lá todos os dias depois do expediente, fora isso, minha atual companheira está grávida e daqui a pouco tem mais uma boca para alimentar lá em casa. Não é fácil não, dona!

– Que pena! Realmente a vida da gente vai se desenrolando muitas vezes de uma forma tão corrida e sem tempo para nós mesmos, mas é importante que a gente faça uma revisão daquilo que é mais urgente e a urgência no seu caso é a sua saúde, não esqueça, viu.  Ali na frente o senhor entra à esquerda e o meu prédio é o último da rua, ok.

– Muito obrigada e, por favor, se cuide, tudo de bom para o senhor e sua família, afinal já vem aí um novo membro, então …

– Valeu! Pra senhora também, até a próxima.

 Beth

Compartilhar do cotidiano, representação de atitudes, dificuldades e sentimentos que envolvem  o cidadão brasileiro,  que  nos faz questionar o respeito ao próximo.

Ao refletirmos sobre nossas atitudes estamos construindo ética. O futuro será de acordo com nossos atos atuais.

Norma

Comments

  • chica
    Responder

    Que legal ver a Beth e sua sensibilidade aqui… Também como ela, evito dirigir o mais possível. Vou de táxi, sempre que dá! Aqui até pegar ônibus e lotações é perigoso!

    Gosto quando pego taxistas bons de papo, não aqueles que ficar reclamando do trânsito.. Mas papos como esse ,mostram a vida, as dificuldades e sobretudo, o bom caráter das pessoas que trabalhas horas e horas e temos que tiras o chapéu.. Eu não aguentaria ,de jeito algum!

    Explodiria!!

    Gostei do papinho amigo e nem podia ser diferente,com a Beth e aqui nesse teu banquinho que faz falar,sr…

    beijos às duas, tudo de bom,chica

  • Valéria
    Responder

    Oi Norma!
    É, não está fácil mesmo, seja o aumento da quantidade de carros e a dificuldade em dirigir, seja na intolerância e falta de educação no trânsito, seja nas dificuldades existênciais de cada um. É um bolo que muitas vezes fermenta e fica em vias de explodir. Há de se ter muita paciência e educação hoje em dia para continuarmos a manter o mínimo de respeito pelo outro. Beth como sempre com sua sensibilidade bem ilustrou o caos nosso de cada dia.
    Beijinhos nas duas!

  • Yasmine Lemos
    Responder

    Tenho mania de conversar com taxistas lembra um divã ambulante,eles extravasam , reclamam ,contam a realidade nua e crua de suas vidas e da vida lá fora. A conversa com Beth foi um alerta também pra gente lembrar que tem pessoas boas e que sofrem sozinhas.
    Parabéns Beth, um beijo Norma
    bom dia para todos!

  • Anne Lieri
    Responder

    Norma,eu adorei o texto da Beth!Bem dia a dia,verdadeiro,pura vida em movimento e gentileza!Isso é ser gente, se interessar pelo outro e de fato,viver!bjs e parabéns!

  • Ana Karla -MIsturação
    Responder

    Que exemplo esse taxista, pois sabe respeitar as regras de trânsito, mas o estresse do dia a dia no trânsito leva a doenças, sem dúvidas.
    Eu evito ao máximo dirigir, pois não tenho a mínima paciência, embora eu goste muito de dirigir, mas no trânsito eu dispenso totalmente.
    Gostei da história de banquinho de Beth.
    Xeros

  • Manuel Marques
    Responder

    A realidade nua e crua.Excelente texto.

    Beijo.

  • Nina
    Responder

    Cada um com sua vida, nao é? Mt interessante isso, tanta gente nesse mundo,e cada um com sua historia. Mt doida essa vida…

    Beth como sempre, carinhosa e cuidadosa com os outros. Essa mulher é mt querida!!!

    Fiquei pensando no qt esses homens sao desligados de sua saúde… mulher vive no medico ne? rsrs
    Bjs Norminha querida e Beth!

  • Norma Emiliano
    Responder

    O que considero pior de tudo o que vem acontecendo é que as pessoas banalizam as situações, se acomodam. Penso que a indignação pode levar à atitudes que acarretem mudanças.
    Como vai o respeito a si mesmo e ao outro? A questão ética passa por aí.

  • Toninho
    Responder

    Interessante este dialogo com as ponderações da Beth. Viver nas grandes cidades tornou-se uma aventura diaria,quando nos arriscamos a sair de casa. Muitos nem voltam, seja pela violencia armada numa simples discussão ou mesmo pela condução irresponsavel. Isto tem feito com que mudanças de comportamentos sejam mais presentes nas pessoas com renuncia ao que lhe é de direito, como bem exemplificou a Beth, pois é assim que se protege do estresse e da falta de respeito que impera sobre nossos mais sublimes direitos. Temos que fazer com que orgãos e autoridades pensem mais em pessoas do que em maquinas.Mas com o olhar sobre o cotidiano podemos detectar varias formas de aviltamento do direito e respeito como se as pessoas estivessem em constante estagio belingerante.
    Grato Beth pela partilha de um sentimento com meu terno abraço.
    Parabens sempre Norma por incentivar estas externações.
    Um carinhoso abraço amiga.
    Bjo.

  • Beth Q.
    Responder

    Queridos amigos e Norma, agregadora de boas almas,
    Acabo de chegar da Tijuca, RJ, onde fui ver um médico, dos bons, por que apresentei umas complicações com meus glóbulos brancos e estou quase na resolução deste probleminha, mas imaginem num dia chuvoso como o de hoje, ventoso também, atravessar aquela imensa ponte com meu filho ao volante, ficar numa estação de metrô e ainda pra finalizar, pegar um táxi até o número do consultório médico. Foi punk minha gente, mas já cheguei em casa e vim bem de barca, batendo fortemente no meio da Baía e depois em mais um táxi até a porta de casa. E é isso aí, tem um monte de gente boa trabalhando em serviços como estes que vos falo no texto, são pessoas como a gente, com problemas, contas a pagar, uma ou duas famílias pra sustentar e metidos na violência de um cotidiano que, se não houver com eles uma aproximação carinhosa, aos poucos vão ficando rudes e intoleráveis no trânsito, mas quando damos nossa atenção em conversas e trocas de palavras amáveis, vão amaciando, como seus carros no dia a dia, e vendo a vida por um prisma mais humano. A aproximação que dispensamos a estas pessoas que estão mergulhadas num dia a dia violento, pode ajudá-los em muito, mesmo que sejam em poucos minutos que trocamos palavras. De minha parte, posso dizer-lhes que tenho tido muita sorte até então, pois todos sempre muito atenciosos e educados, tanta história já ouvi desses homens e mesmo que inventem um pouquinho, descobrimos vidas interessantes, como a de um outro noutro dia que disse-me ter dado muita cabeçada na vida por não ouvir o pai que o queria engenheiro, mas aprendeu na lida difícil diária que tem que se ouvir mais os pais para não sofrer no futuro.
    Tudo isso enriquece a gente, parece que não, mas é assim que vamos entendendo melhor a nós e a nossos semelhantes.
    Obrigadão a todos vocês que me leram e estiveram presentes aqui hoje neste espaço bacana que a Norma criou.
    super beijos, cariocas.

  • Calu
    Responder

    O stress constante no trânsito de nossas cidades, além de nos incomodar muito, causa doenças aos profissionais da área.A Beth com sua amabilidade demonstrou o quanto isto se tornou costumeiro, infelizmente.
    È lastimável o desrespeito e o descaso com um trabalhador correto.
    São casos-verdade como esse, a história de milhões de brasileiros.

    Pontual e sensível a narrativa da Beth.Contribuiu grandemente para uma conversa interativa.Amei!
    Parabéns, Norma por mais esta proveitosa conversa.
    Bjos às duas.
    Calu

  • Norma Emiliano
    Responder

    As narrativas diárias e nossas próprias vivências mostram o quanto todos estão expostos a falta de respeito que existe das nossas representações públicas, que se empenham, nos momentos de angariar votos, nas promessas de melhorias e, posteriormente, fecham os olhos para as dificuldades da população. A Beth nos trouxe um material rico sobre o qual nos atentamos nestas trocas. Só posso agradecer a ela pela sua sensibilidade ao captar tão bons exemplos e nos mostrar como age em relação aos sofrimentos alheios.
    Enfim, grata a todos que aqui estiveram contribuindo com essa nossa conversa semanal.
    bjs

  • Elys
    Responder

    Ir de táxi evita uma série de complicações no tr4rânsito e ainda pode-se ajudar ao taxista ouvindo as suas histórias, que certamente vai fazer-lhe muito bem.

    Beijos.

  • Marilac
    Responder

    Oii Norma
    Adorei o texto da Beth, eu não dirijo então pego muito taxi e normalmente vou conversando e já conheço bem a luta diaria desses nossos irmãos.
    A vida está cada vez corrida e não temos tempo para nos cuidar melhor, como esse homem que precisava correr contra o tempo para garantir um salário que lhe permita sustentar a familia .E nesse transito caótico ( aqui em Fortaleza, tem engarrafamento a toda hora) é preciso muita paciência para que o stress não agrave a saude.

    Cheguei aqui através do blog da Beth e adorei !

    abraços
    Marilac

  • Lúcia Soares
    Responder

    Gosto de tudo que a beth posta. Sempre.
    Beijo nas duas.

  • Denise
    Responder

    Interessante a abordagem da Beth….eu estou viajando, e aqui na Flórida as normas e regras de transito foi o assunto de uma conversa que se estendeu por costumes, cultura, sanções e respeito, principalmente. Nem tudo que vejo aqui acho que seja bom para todos, mas o transito flui, é organizado, com menos estresse e mais eficiente. Os pedestres e motoristas se respeitam, os semáforos são respeitados, a velocidade é controlada….enfim, um contraste enorme com nossa realidade. Talvez o que se assemelhe seja o tempo dispensado ao trabalho, mas a saúde é um bem precioso que a gente descuida…
    As cidades de interior começam a ser opções para muitas famílias que desejam qualidade de vida, e no pacote de itens importantes, estão as vantagens de uma vida mais regrada, menos exposta a tantos prejuízos emocionais e físicos.
    Bacana essa parada para pensar sob isso, boa contribuição, Beth!
    Um abraço para você e Norma, que bom que pude estar aqui hj!

  • Roselia Bezerra
    Responder

    Olá, querida Beth
    Cheguei hoje do Norte do Brasil e da Região fronteira boliviana…
    Entre voos e táxis… conheci muitos motoristas legais demais… Neste mês só usei táxis por 4 vezes e por longas distâncias)… Conversam com a gente, contam até a vida (numa viagem de 3h e meia pela mata quando me dirigia do aero à fronteira da Bolívia)…
    A gente aprende muito com eles… Pegando um bom táxi e seguro… a gente sempre vai melhor… sem tensão… Refresca a mente até!!! Vc faz muito bem de optar por eles no trânsito louco do RJ!!!
    Bjs integrados de paz

  • Roselia Bezerra
    Responder

    Norma, querida
    Um super beijo por essa sua iniciativa tão linda!!! Saudade…

Grata por sua visita sempre bem-vinda.

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