Perdas – Toninho

 

 Após uma breve interrupção, retornamos a Série Perdas com o relato  do querido amigo e poeta Toninho do blog  Canto do Toninho.

 

A mente e os sentidos interagem expressando sua arte magnífica na tela do tempo” Tarthang Tulku

Sentimento de Perdas e o tempo.

 

cristo redentor

  

Por muitas vezes tentei entender o fim das relações amorosas. E assim alimentava a certeza que a causa estava no processo desgastante do tempo. Uma corrente cria e afirmava ser uma crise dos Sete Anos. Onde as pessoas estariam expostas, sendo preciso muita sorte e cumplicidade aliada à cooperação, para sobreviverem a esta fase da vida amorosa.

Mas como poderia ser o tempo o grande vilão e responsável?
Como? Se sempre nos pregaram como máxima, que é o próprio tempo que nos amadurecem nos tornando mais experientes?

É este mesmo tempo, que nos faz aprender e a repensar.

Sempre cri na expressão de dar tempo ao tempo para amenizar minhas mazelas e ou minhas aflições. O mesmo sempre atendeu minhas suplicas nos momentos de angústia concedendo-me as realizações dos desejos.

Foi com ele, o tempo, que aprendi a aceitar o sofrimento pelas mortes, as perdas que me cercavam num verdadeiro processo vendaval de eliminação das pessoas que mais amava e queria juntas de mim, em meus momentos de alegrias e tristezas. Elas eram retiradas como frutas amadurecidas de uma arvore frutífera e assim pensando passei a entender, que frutos maduros também apodrecem quando não colhidos. Também aprendi a assimilar a morte como um fruto que não mais pode ficar na minha arvore e a dor da perda tornou-se aceitável embora maltratasse pela nossa mania de achar que podemos ter para sempre ao nosso lado as melhores frutas sobre as quais já não temos mais propriedade.

Mas a pior perda mesmo em forma de morte é ter que enfrentar a estúpida e inaceitável inversão da partida, assim como dessas mães que enterram seus filhos em plena juventude, no ápice de seus sonhos dourados contrariando nossa lógica de nunca imaginar esta inversão. Assisti esta dor ao ver meus pais colocando sob a terra uma filha de cinco anos vitima de acidente domestico com fogo e mais tarde um filho de 33 anos vitima de infecção hospitalar. É muito triste e doído ver aquele olhar sobre o caixão como a querer a substituição com a própria vida, é a imagem mais triste que ficou gravada em minha mente para definir uma perda na ótica da morte. Então perda é esta dor que não tem como estancar simplesmente entregando no colo do tempo, para que ele magicamente num sopro possa aliviar esta terrível saudade que carregamos para o resto de nossas vidas, como um fardo pesado.

“Do lado esquerdo carrego meus mortos.
Por isso caminho um pouco de banda.” 
(Carlos Drummond de Andrade)

Toninho

 

A perda é inevitável ao ser vivente,  e  o processo de luto é único a cada indivíduo  por ser  um processo interior cujo  tempo é variável.  Dos amores perdidos, aos pais, aos filhos, à juventude, à inocência, aos jovens. Neste nosso caminhar temos dado palavras ao sofrimento,  pois como nos diz um poeta ” a dor da perda não fala, ela murmura dentro do coração dolorido e o faz partir-se.

Obrigada querido amigo Toninho por compartilhar seus pesares e a todos que estão nesta partilha.

Norma Emiliano

 

Comments

  • chica
    Responder

    Toninho retratou aqui perdas importantes pois ver irmã e filho partirem antes do “previsto” é dolorido mesmo e fica para sempre registrado dentro d nós.

    Um abração ao Toninho que sempre nos emociona e um beijo pra ti!chica

  • Denise
    Responder

    O relato dolorido de Toninho me fez pensar na tristeza que meus pais demonstram, cinquenta anos depois de perderem o segundo filho, com 12 dias de vida. Eu era muito pequena e não lembro, sequer uma foto dele existe – mas está tatuado na alma dos nossos pais. Essa deve ser a pior das perdas, pq carrega junto com a vida que se vai, toda uma história, matando sonhos e deixando nesse vazio lembranças e saudade.

    Ao tempo entregamos nossas feridas, e como vc Toninho, tenho dificuldade em entender qual seu mágico suporte, para amparar tanta aflição e as tristezas infinitas que nos separam dos fatos, das pessoas…

    Esta série está sendo rica, permitindo reflexões diferentes, acessando sentimentos e emoções que nos fazem, afinal, crescer pelo compartilhamento de tantas pessoas a nos indicarem caminhos e soluções que não pensamos.
    Obrigada Norma, por essa oportunidade, obrigada Toninho, pela partilha.
    Um abraço carinhoso aos dois!

  • Valéria
    Responder

    Oi Norma!
    As perdas vão acumulando em nós um gosto amargo que ao mesmo tempo nos faz olhar a vida com outros olhos. Aí o tempo é importante, não cura, mas arrefece a dor.

    Beijo!

  • Yasmine Lemos
    Responder

    Que forma cruel de sobreviver com o tempo e com a dor.Essa dor não tem cura e temos que continuar a respirar,a viver, a sorrir,parece que somos fantoches nas mãos dos dois: vida e tempo.
    meu abraço para Toninho

  • Roselia
    Responder

    Olá, amigos
    Nossa!!! Relato “cru e nu”… crucial… verdadeiro…
    Passou inteiramente a dor sentida e que o deixou “andar de lado” (gostei muito dessa metáfora de Drummond)…
    É vendo a dor alheia que crescemos com a nossa também…
    Excelente post!!!Parabéns aos dois!!!
    Bjs de paz

  • Maria Emilia Xavier
    Responder

    As perdas amorosas – apesar de não acreditar em “substituições”, pessoas e sentimentos são insubstituíveis – existe sempre a possibilidade de novas experiências, diferentes, mas não menos gratificantes. Mas perder filhos… acredito ser a perda maior e mais dolorida. Postagem forte, muito bem relatada e arrematada muito própriamente com a lucidez do Drummond.

  • manuel marques
    Responder

    “Guardemos na memória as coisas que perdemos sem deixar que o proveito que delas tiramos desapareça também com elas. ”

    Abraço.

  • Alexandre Mauj Imamura
    Responder

    (Norma, muito obrigado por aquela mensagem bonita q vc mandou, Um dia de sol – domingo).
    olha ai um dos grandes desafios da nossa vida: aceitar, compreender que a perda existe. como é duro aceitar a finitude de tudo…

    um bom dia pra vc! bjs

  • Manu
    Responder

    Inevitavelmente a morte é sempre aquela perda que fica mais marcada em nós, porque depois de…nada sabemos, podemos crer numa coisa ou noutra, mas a realidade é que em nossas vidas, é uma porta que se fecha!
    Beijinhos,
    Manu

  • Betânia Torres
    Responder

    Olá,Toninho,

    A sua narrativa que simboliza a perda como fruta madura e, que, portanto, tudo na vida tem seu ciclo de vida nascimento e morte, seja por um percurso mais aceitável de que o fim existe, seja pela abreviação de vidas ainda no seu começo. Lembrei de Gonzaguinha: “vida, vida, vida, que seja do jeito que for, amar, amor, se é dor quero mais essa dor. Quero meu peito repleto de tudo que eu possa abraçar e abraçar, quero a sede e a fome eterna de amar e amar e amar”. Acho que mais ou menos assim, escrevi a música pela minha memória. O significado da perda é o de que nunca devemos desistir da vida, de uma boa vida, de uma vida feliz, madura e não eterna. Um grande abraço, Betânia

  • Socorro Melo
    Responder

    Olá, Norma! Olá, Toninho!

    Concordo que o tempo ameniza a dor. Mas é uma dor tão doída, que apenas dormita, nos braços do tempo. Mas, é só o tempo se distrair, e ela desperta, e maltrata, de forma impressionante.
    A associação das perdas, com as frutas maduras, é interessante! Talvez pensando dessa forma, consigamos convencer nossa mente. Obrigada Toninho, pelo exemplo, e pela partilha.

    Abraço aos dois :o)
    Socorro Melo

  • Toninho
    Responder

    Oi Norma só agora posso vir lhe agradecer por este espaço onde podemos expor nossos sentimentos desta vida. Achei perfeita sua interação ao texto como sempre o faz.Ao tempo que agradeço as palavras dos amigos. Sim este tema realmente nos enriqueceu bastante com as convivencias que vamos encontrando.
    Meu abraço Norma com toda minha admiração.
    Bju de luz nos seus dias de paz.
    E vamos por ai proseando,buscando conforto para nossas angustias e inquietações e vamos colaborando sempre que possivel para fazer deste seu espaço ainda mais interessante e educativo para as coisas da alma/coração.
    Mais um grato por tudo.

  • Beth Q.
    Responder

    Norma!
    Fiquei impressionada com o modo de escrever tão claro, objetivo e bem feito do Toninho, quanto às perdas que ele relatou são, ao meu ver, as mais dolorosas que um ser humano pode atravessar, ou seja, enterrar seus filhos. Que coisa mais triste!
    um grande abraço, carioca

  • Norma Emiliano
    Responder

    Amigos (as)

    Findo mais um intenso dia de partilha com o sentimento de que estamos criando uma rede de troca de sentimentos e apoio mútuo.
    A cada semana o resultado me surpreende, me gratifica e me estimula a investir cada vez mais neste espaço de interações. Temos olhado a vida na certeza da finitude, retornamos fortalecidos para seguir em frente e, apesar das dores, encontramos momentos de plena felicidade.

    Obrigada, mais uma vez, Toninho que nos trouxe uma bela e confortadora metáfora e a todos que têm se unido a essa corrente que apesar da temática tem sido uma constante demonstração de AMOR……

    Aguardo a todos na próxima quarta, 22/06, com o relato da querida amiga Denise.

  • Élys
    Responder

    Após problemas com o meu computador quero poder participar do coscomentários.
    Toninho aborda o tema de uma forma diferente e muito interessante. Creio que a perda em termos de morte é um momento de dor, mas creio que será suprida em um futuro com alegria e paz no coração.
    Beijos.

  • Nina
    Responder

    Nossa, Toninho, isso é uma coisa que eu nem consigo imaginar, dores como essas, Deus me livre, nem gosto de imaginar 🙁
    Mt trisite, mt mesmo.
    Vc escreveu mt bem, claro e decentemente.

    Bjs Norma, e parabeéns de novo pela iniciativa em abrir esse espaco.

Grata por sua visita sempre bem-vinda.

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