Perdas – Manuela

 

Hoje, finalizamos esta Série  com a participação da querida amiga portuguesa, Manu, do blog Light.  Ela nos oferta  um belo texto, no qual  a despedida é a maior tônica.

 

 “O amor vai muito além da pessoa física do ser amado. Ele encontra o seu significado no ser espiritual, no seu interior” Victor Frankl, inFroma Walsh

 

perdas selo

 

A PERDA…Será que alguma vez voltarei a encontrar-te naquela floresta encantada que me constrói os sonhos? Sinto-me triste…sinto a tua ausência…tu entrastes nos mais belos sonhos, nas mais intensas imagens, nos sentimentos mais puros e completos.

As flores que brilhavam na tua presença, a chuva miudinha e leve que nos molhava lentamente e nos deixava melancólicos e os raios brilhantes e suaves que nos acariciavam, penetrando por entre as folhas verdes das árvores, enviados pelo sol para nos iluminarem…

Toda a Natureza, que os nossos sonhos construíram para nós, está triste e pálida. Quero voltar a ver-te…

A última vez que estavas no meu jardim encantado senti-te distante. Estavas a boiar no lago dos nenúfares. Quando sentiste a minha presença moveste-te e apareceste ao meu lado, com o teu sorriso húmido. Sentia a tua pureza a dissolver-se lentamente e a entrar na minha alma sob a forma de paz.

Há imagens fixas na minha mente, um céu azul com nuvens brancas que se movem languidamente num rodopio sensual, o mar azul por baixo, imenso e assustadoramente infinito. O sol a brilhar como uma bola de fogo pronta a incendiar a minha alma.

Disseste adeus à medida que desaparecias, deixando um rasto de luz que parecia não ter fim…

Uma lágrima de dor percorreu-me a face lentamente e vários sentimentos me percorreram por dentro. Os teus lábios murmuraram: “Adeus.”

Começou a chover suavemente. As folhas das árvores ficaram acastanhadas e cobriram a relva verde.

À medida que nos meus olhos a chuva se misturava com as lágrimas disse baixinho: “Adeus”… Tu foste-te embora e eu fiquei no meu pequeno mundo sem ti, mas tão dentro da minha alma…Estarás sempre no meu Universo de sonho…

A vida é complexa, mas bela, porque nos dá os instrumentos para superarmos tudo, quando pensamos que nem sempre somos capazes. Mas temos que ter a coragem de preservar… E de repente não se olha para trás ou para os lados, para o passado ou para o futuro, apenas se  mergulha para o coração da onda, para aquele centro que parece   perfeito e onde entretanto o caos reina. A própria vida é uma essência desse caos. Qualquer coisa que nos envolve, nos aperta, às vezes nos dá vontade de gritar, outras de sorrir e sempre vontade de chorar, seja de alegria ou de tristeza…

Agora é tempo de chorar, digerir e ganhar forças para o caminho que se segue. Não é fácil, mas nada o é. Vão ser precisos, muitos momentos, mas sempre presente que a vida se faz caminhando.

Esta música, que ficou marcada para  mim, na morte recente de uma pessoa de família.

Manuela Freitas

 

 

“A vida se faz caminhando” ,  de encontros e despedidas.

Na perda por morte dos entes amados o luto é  um processo que tem características individualizadas. A despedida da convivência física ocorre através de varias modalidades de rituais conscientes ou inconscientes.

Tivemos treze semanas de encontros intensos de um compartilhar espontâneo dos que aqui compareceram.  Fizemos um círculo onde as diversas nuançes das perdas foram sinalizadas. Relembramos, nos identificamos, acolhemos, lamentamos, resignificamos e hoje nos  despedimos desta temática. Assim fica aqui a proposta de um Ritual de despedida.

Escolha de tudo que ficou desta série o que você deseja abandonar e jogue na fogueira.

 

fogueira_04

 

Escolha o que ficou de bom e guarde no baú de recordações.

Enfim obrigada querida amiga Manu que fechou com chave de ouro esta Série.

Obrigada a todos que acompanharam  e/ou  participaram como relatores ( Chica, Maria Emilia, Yasmine, Betânia, Ana Karla, Rosélia, Glorinha, Nina, Socorro,Toninho, Denise, Manu)  e/ou  como comentador, contribuindo com o engrandecimento e sucesso desta  jornada.

Sinto-me plena de satisfação pela confiança que me vem sendo depositada e pelos resultados  enriquecedores de aprendizados  e troca de  sentimentos.

Bjs, Norma

 

 

 

Comments

  • Yasmine Lemos
    Responder

    “Tempo de chorar, tempo de plantar ,tempo de colher” (Eclesiastes) E o tempo que não faz a gente esquecer? Quanto mas ele passa a saudade vai fincando morada. Parece que a chuva entrou na alma dela e chora silenciosamente. Belo texto .Parabéns Manuela,e a Norma e gostaria de deixar aqui um pedido para outros temas.
    beijos um bom dia a todos

  • chica
    Responder

    Como disseste, Manu fechou com chave de outo essa série em que lemos, aprendemos, nos emocionamos e vivemos junto com as pessoas que aqui vieram, seus sentimentos. Lindo! um beijo à querida Manu , pra tri e aos que participaram e leram tudo aqui! chica

  • Beth Q.
    Responder

    Suspiros. Manu fechou realmente com chave de ouro esta tua série maravilhosa e que eu não tive, na verdade, coragem, de participar.
    Porquê? Por que simplesmente eu estou perdendo alguém, aos poucos, como disse a nossa querida Manu tão lindamente. Minha mãe está nos deixando aos poucos e já faz uma imensa saudade em meu coração. Escrevo em lágrimas diante das palavras doces, mas ao mesmo tempo tão duras que é uma perda descrita pela Manu. Eu sei que daqui a pouco terei que enfrentar este tempo difícil, da perda, da separação para sempre e ainda não estou preparada, mas ler coisas assim, podem ajudar-me a clarear os pensamentos e aceitar com mais resignação.
    Adorei ler por aqui as palavras desse português tão elegante e fino da Manuela que a cada dia se apresenta como uma possível e linda escritora.
    Obrigada.
    beijos cariocas e bom dia a todos!

  • Betânia Torres
    Responder

    Bom dia, Manu e Norma,

    Ontem assisti ao documentário José e Pilar (Saramago doc) e achei fantástico o que eles falam do nascer viver morrer. Primeiro, pq ele no filme completa 84 anos e, normalmente, para essa idade as pessoas ficam o tempo todo sugerindo descanso, diminuir a carga de trabalho etc. Então, ele fala que já está de saída, mas nem por isso sem planos. Os planos dele é “continuarme”, porque para descansar tem-se a eternidade. Assim, sinto e penso, quero “continuarme” melhorada. Um beijão e até a próxima. Betânia

  • Glorinha Leão
    Responder

    Que poético e sentido esse adeus da Manu! Imagino sua dor por ter compartilhado dela quando ocorreu…mas a descreveu de modo tão bonito, tão profundo que só me resta dizer: só nos resta mesmo caminhar querida amiga. Caminhemos juntos, pois assim, o caminho se torna menos árduo e árido. Foi ótimo ter podido participar dessa série, Norma. Saio daqui mais enriquecida emocionalmente com essa partilha, beijos às duas,

  • Manu
    Responder

    Agradeço querida Norma, esta publicação e os teus tão excelentes comentários, que são sempre um precioso complemento!
    Sabes que neste texto poético, se esconde um drama que vivi muito intensamente, que é o drama de alguém, que se quis libertar da vida, que considerava demasiado pesada, por ser uma pessoa muito sensível e crítica!
    Ele libertou-se, mas a sua perda ainda hoje nos faz pensar muito…é difícil para mim compreender o suicídio, em que a própria pessoa vai fazendo o seu próprio luto, até tudo acontecer e foi tudo tão programado… com hora e dia marcado!…
    Obrigada minha amiga por tudo, de facto tens que pensar em novo tema!
    Beijinhos,
    Manú

  • Élys
    Responder

    Um texto que tem o sabor de uma terna poesia. Uma bonita narrativa.
    Fechou, realmente, com chave de ouro.
    Beijos

  • Denise
    Responder

    Manu desfez minha dúvida no comentário sobre seu maravilhoso texto, que foi-me parecendo um Adeus à vida. Lamento o ocorrido, perder pessoas, em que circunstâncias forem, nos fere e, essa ausência não consentida passa a morar no imenso vazio que sentimos.

    Mas tudo que foi vivido, se valeu a pena, destinado à eternidade está, enquanto o aprendizado de tudo que vivemos, nos encaminha para um lugar de crescimento.

    Esta série, Norma, deixou grandes ensinamentos, quer pelos textos compartilhados ou pelos comentários deixados.
    Agradeço tua receptividade, aguardando o próximo tema.
    Teu texto Manu, levo comigo para refletir mais profundamente, obrigada pela partilha generosa.

    Essa tua proposta Norma, encerra de forma terapêutica e assertiva as postagens. No fogo deixo os sentimentos de tristeza que remetem as perdas pelas quais passei – e não foram poucas. No baú guardo os tesouros que estas mesmas perdas trouxeram. Sou a soma de tudo que vivi, de tudo que perdi e tudo que ficou. E o que valeu, eterno será!

    Beijos para todos!

  • Roselia Bezerra
    Responder

    Olá, queridas Norma e Manu
    Vc quer arrebentar o coração da gente, minha doce amiga Norma???
    É como estou nesse momento… à metade do dia a refletir um pouco antes de começar a segunda parte dele…
    “Disseste adeus à medida que desaparecias, deixando um rasto de luz que parecia não ter fim”…
    Ese texto definiu bem como foi que “perdi” meu papai amado… eu e ele somente… num leito de hospital… Emocionante, Manu!!!
    Foi útil e necessário esse “rito” que nos presenteou hoje, amiga… Já o fizno silêncio do meu coração… Gostei muito da fogueira… só mesmo a fumaça leva aos céus a nossa dor com lentidão para que chegue a cura na dose exata…
    Guardei no baú do meu inconsciente tudo o que de fato ficou das inúmeras perdas no que diz respeito às boas lembranças…
    Muito obrigada por esse momento de oração e interiorização, Norma.
    Bjs de paz às duas com amor e alegria na semana são os meus votos bem como a todos os que por aqui passarem.
    Norma, um a parte: quando será a próxima???

  • marli soares borges
    Responder

    Parabéns Manu, parabéns Norma!!!
    Bjssssssssss

  • Toninho
    Responder

    Coincidencias à parte estou vindo de um blog o da Cris e lá estava uma historia da Manu com muita clareza e beleza. Aqui sua bela visão da perda,com um relato sensacional para fazer o belo fechamento.A ela os meus mais sinceros parabens,preciso ir lá conhece-la. E voce Norma é fantastica e atrativa com sua toda arte. Seus comentarios nesta série sempre foram magnificos e com sinceridade as vezes suplantavam os textos(nada intencional sei).Hoje voce me cria uma fogueira e um baú. Que beleza amiga,tenho que aplaudir.Oxalá tenha outra rande idéia,onde possamos reunir nossas visões e conhecimentos.Grato pela referencia e quero estar sempre com esta moçada boa de bola.
    Meu abraço com toda admiração.
    Bju de luz nos seus dias de muita magia.
    Boa sorte.

  • josé cláudio – Cacá
    Responder

    Maravilha esta série. Parabéns à Manu pelo belo texto e parabéns, Norma, pela diversidade de opiniões e pelos aprendizados que adquiri aqui. Meu abraço. paz e bem.

  • Norma Emiliano
    Responder

    Gente linda e querida, este dia foi de intensa emoção para mim pelo texto maravilhoso da Manu e pela entrega de cada um de vocês a esta minha proposta.
    O resultado foi além das minhas expectativas. Devo isso a vocês que abraçaram de corpo e alma esse a compartilhar semanal. Tema árido que foi se transformando num canteiro florido de AMOR.
    Que fique em nossas mentes e em nossos corações que as pessoas queridas, que perdemos por morte, ficam eternamente dentro de nós.

    Grata por se mostrarem interessados em novas séries, pois para mim estas têm concretizado meu desejo maior de congreçamento de troca de experiências de vida e crescimento pessoal.
    É na interação que nos conhecemos, aprendemos e nos desenvolvemos.

    bjs

  • Gina
    Responder

    Norma,
    Estive sem condição de visitar os blogs, por causa da mudança do Naco para a plataforma wp. Deu muito trabalho e, como foi feito em casa, com ajuda do marido, foram dias sem poder visitar os amigos, como gostamos.
    Esse depoimento é contundente. As dores, cedo ou tarde, são superadas.
    Muito boa essa série!
    Você me fez uma pergunta, mas só agora estou conseguindo responder. Meu novo e-mail contato@nacozinhabrasil.com é só para assuntos específicos do blog.
    Pode continuar me escrevendo pelo gmail, ok?
    Peço-lhe o favor de alterar a URL da lista de blogs e dos seguidores para continuar recebendo as atualizações:
    http://www.nacozinhabrasil.com
    Grata!

  • Nina
    Responder

    Manu, foi mt bonito o que vc escreveu, uma poesia nascida da dor. Tudo tao bonito, singelo e tocante. Fechou mesmo, como a disse e a Norma, com chave de ouro. Tbm lembrei das pessoas que já perdi na família, nao tem como nao lembrar 🙁

    Norma foi um prazer escrever aqui tbm. E mt legal da sua parte ter criado essa coluna. Escrever faz sair de cima da gente dores que parecem nao ter pra onde correr. Já joguei as minhas na fogueira 🙂 Obrigada!
    Um bj com carinho

  • C.
    Responder

    Achei o vídeo belíssimo, e sem desvalorizar o texto, só ele já falaria por si só a dor da perda, do olhar pro nada tentando ver aqueles que já se despediram. A convivência física nao é eterna, mas com certeza a da alma sim, acho que é o que nos consola.
    Muito legal seu empenho trazendo essa série, Norma, seus comentários nos textos nos fizeram entender melhor o tema proposto, obrigada!
    Uma bela quinta-feira pra você!

  • Socorro Melo
    Responder

    Oi, Norma! Oi, Manu!

    Peço desculpas pelo atraso, mas, estive ausente ontem, por motivo de viagem a serviço.
    A mensagem da Manu, apesar da melancolia, peculiar aos relatos de perdas, traz imagens lindas, poéticas. E vem reforçar que a vida é esse processo de ganhos e perdas.
    Foi importante para mim participar dessa série, pois, a partilha nos ajuda a entender melhor a dor e o sofrimento. Cada um tem sua forma de pensar, mas, no fundo, todos sofremos muito.
    Valeu, Norma! E obrigada pelo seu carinho, e atenção na condução desse projeto. E que venha outros!

    Um abraço
    Socorro Melo

Grata por sua visita sempre bem-vinda.

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