Cada dia…Valéria

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“A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver”. Clarice Lispector

A humanidade se constitui do cruzamento de histórias. O homem é fruto de suas interações e no entrelaçamento dos afetos se constrói.  Hoje, quem nos conta um pouco destas histórias é Valéria, do blog  Doqueugosto

MEU REFERENCIAL

O natural na vida é se ter uma família como referência, um porto seguro, uma base seja como um ser social, seja como um individuo. Cresci assim, em uma família que me dedicava toda a atenção e carinho. Aos treze anos perdi minha mãe e vi ruir um pouco esta base, afinal ela era uma mulher forte e dedicada. Continuamos eu e meu pai. Quando estava com dezesseis anos descobri que eles não eram meus pais biológicos, boba ou cega, nunca havia percebido as idades deles como um empecilho para serem os meus pais biológicos, mas da maneira mais estúpida, que não vem ao caso agora, descobri a dura verdade. Ali vi meu mundo dar uma reviravolta, perdi meu referencial, me senti um peixe fora d’água. Já não me sentia em casa realmente, aqueles tios, primos não eram mais os meus. Sentimentos os mais confusos e contraditórios se apoderaram de mim, me deixaram uma sensação de vazio, com uma vontade de sumir, de morrer. Embora isso nunca tenha se resolvido em minha cabeça, em meu coração, confesso que todos aqueles sentimentos ao longo dos anos foram se dissipando. Restou uma saudade doída pelo que não existiu, pelo que não vivi, principalmente por ter depois de alguns anos desta descoberta ter conhecido minhas irmãs. Sim, o destino me fez conhecê-las, tenho dois irmãos e duas irmãs. Imatura e emocionalmente instável não consegui assimilar o novo papel que me foi designado, o de irmã, já era mãe, mas queria ter mãe e esta também não mais aqui estava. Senti-me só e deslocada novamente. Fugi desesperadamente daquela família que batia a minha porta, que me buscava reencontrar. Nunca encontrei meu ponto de equilíbrio, sempre me achei órfã de todos os pais que tive e que infelizmente não pude continuar a ter, é um vazio permanente.

Hoje com o advento da internet que encurta distâncias e aproxima as pessoas estou tendo uma nova chance de reencontrar meus irmãos. Mais amadurecida percebo que são meu referencial, o equilíbrio que busquei todo este tempo. Vou aproveitar esta nova oportunidade que me foi oferecida. Possuir uma família, pertencer a aquele grupo que te aceita e ama é reconfortante, é como um colo de mãe.

Valéria

Comments

  • chica
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    Te entendo bem,valéria! Sei bem como é isso. Eu, depois que tinha minha família toda ,apareceram irmãos por parte de um pai que não era o que eu pensava ser meu pai.

    Pode?

    Pode,sim!
    Por isso sei, mas agora, aproveita a chance de aproximação e isso pode fazer tanto bem.Porém, precisa amadurecimento dessa idéia! beijos,linda história,chica

  • Lizete Ferraz
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    Valéria, minha querida, há tantos mistérios nesta vida que não nos é dada a permissão para desvendá-los, mas de tudo o que já vivi na minha vida, uma coisa aprendi: nada na nossa vida é por simples e puro acaso. Tudo tem uma relação, um laço, um por quê. E precisamos aprender a enxergar além do nosso cômodo e aconchegante casulo. Talvez, fazendo isso, possamos compreender um pouquinho mais daquilo que nos é destinado. Mas o mais importante mesmo nesta vida é aprender com tudo o que nos acontece e viver a vida sempre com muita gratidão. Amor e gratidão nos proporcionam viver com mais intensidade essa vida maravilhosa. Te desejo toda a felicidade do mundo e que voce encontre a paz e a harmonia dentro do seu coração. Um beijo com carinho.

    Beijos, Norma querida! esse projeto é maravilhoso…

  • Vera Lúcia Duarte
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    Valéria querida,
    Sua história de vida é muito emocionante. Os acontecimentos da vida parecem inexplicáveis ao olhar humano, mas tudo tem um sentido a partir do Divino.
    Tenho uma visão espírita a respeito do assunto, mas não julgo oportuno expor pontos de vistas que possam gerar polêmica.
    Sei que não foi fácil para você, mas a maturidade que chega com as vivências lhe permite um novo olhar sobre tudo que você passou. Não perca a oportunidade de reaproximar-se de seus irmãos. Eles são sua família e não têm culpa de nada. Procure exercitar o perdão para que seu coração voe livre em busca da paz que todos necessitamos.
    Beijo grande.

    Norma,
    Parabéns pelo seu trabalho e iniciativa. Beijos.

  • Roselia Bezerra
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    Olá, queridas
    Foi a mais linda história sem desmerecer às demais, claro!!!
    Me identifico totalmente com ela… os meus sem serem os de sangue são muito mais caros…. não sou mais feliz porque busco mãe… irmãos… por aí… E, pela Graça da Deus, os acho…. com tanta afinidade que me prova como Deus é BOM!!!
    Tenho colo de mãe e de irmãos bondosos que me dizem EU TE AMO… com olho no olho… me sinto amada apesar de… minha FAMÍLIA é extensa… em todo canto do Brasil… ser missionária me fez ter um mundo de parentes…
    Bjm de paz às duas

  • Maria Emília Xavier
    Responder

    Valéria tudo na vida tem o seu momento de acontecer lindamente… O seu é agora, acredite e viva-o sem restrições. Sua história…esse final lindo… É uma lição de vida. Obrigada por compartilhar.
    Norma parabéns! Essa Série está D+. Bjs às duas.

  • LUCONI
    Responder

    Querida Valéria, li e reli seu texto e devo te dizer que me emocionei
    imaginando o conflito que você viveu, esteja certa de uma coisa nesta
    vida não existe acasos, tudo tem uma razão para ser, se estas duas
    pessoas maravilhosas te adotaram com certeza a razão é um amor maior,
    uma ligação de tantas e tantas vidas, é frustante saber que a mãe
    biológica por uma fraqueza quem sabe, não pode ficar com você.mas esteja certa que este casal a amou como se realmente deles fosse, e deram
    o melhor de si, quando aos seus irmãos terem aparecido, também não
    é o acaso mas sim providência divina, para que você melhor se situasse,
    perdoa se falo demais é a italiana que existe em mim que fala mais
    alto, amei o teu blog, e se você não achar ruim dos meus pitagos,
    aqui eu volto com prazer, beijos Luconi

  • Toninho
    Responder

    A vida tem destas peças amiga e muitas vezes o chão desaparece e todos os sentimentos ruins pairam sobre nossas cabeças.Mas, há um Deus que vem e nos ilumina para uma reviravolta e prosseguir na jornada.Emocionante sua historia de vida e lindo este abrir o coração e compartilhar como os amigos,talvez pareça um certa valvula deixando escapar esta pressão interna.Bem decidida amiga,nada de parar na poça, seguir pulando e renovando as esperanças e reatando nós,que julgavamos perdidos.
    Meu abraço carinhoso de minha admiração,que aumenta.
    Veja Norma os frutos de suas ideias,pessoas abrindo o coração e nos colocando em ponto de reflexão desta vida.
    Parabens amiga.
    Um abração e vamos seguindo.
    Bju.

  • Valéria
    Responder

    Oi Norma e amigos!
    Obrigada pelas palavras carinhosas e simpáticas!
    Como estou em um momento bem reflexivo quanto a tudo isso que voltou com muita carga emocional me deixei envolver pela emoção e transportei para a escrita o que estava sentindo. Foi muito bom ler estes comentários de vocês, adorei!
    Norma, veja como suas ideias são maravilhosas, catárticas até.rsss
    Beijinhos para todos!

  • Élys
    Responder

    Valéria
    A nossa família que convive diariamente conosco tem o papel de nos ajudar a crescer um pouco mais de perto. Ser biológica ou não é apenas um detalhe que Deus usa para nos ensinar. Aceite todos, biológicos ou não que cruzem o seu caminho com sendo os seus melhores anjos.
    Beijos.

  • Marilene
    Responder

    Valéria
    Fiquei sensibilizada com suas palavras. Nunca podemos imaginar o que vai no coração das pessoas, apenas partilhar conflitos e mostrar solidariedade.
    Há caminhos que não escolhemos, mas que temos, por razões que nos fogem, de seguir. Laços de sangue tem grande importância, mas o amor que nos oferecem está além deles. Seu coração pode ter cicatrizes, porém demonstra ser possuidora de alicerçado caráter, recebido daqueles que a criaram por opção.
    Grande beijo!

  • Socorro Melo
    Responder

    Olá, Valéria! Olá, Norma!

    A família é nosso referencial, nosso porto seguro, e estarmos fora do seio familiar, é de fato doloroso. É como se a terra sob nossos pés fosse arrancada.
    História forte a da Valéria, como tantas outras que acontecem em nossas famílias, mas que acredito tragam uma experiência diferente de vida, um crescimento, pela dor, que marcará para sempre.

    Beijos as duas
    Socorro Melo

Grata por sua visita sempre bem-vinda.

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