Poetando

Olho as Minhas Mãos

Olho as minhas mãos: elas só não são estranhas
Porque são minhas. Mas é tão esquisito distendê-las
Assim, lentamente, como essas anêmonas do fundo do mar…
Fechá-las, de repente,
Os dedos como pétalas carnívoras !
Só apanho, porém, com elas, esse alimento impalpável do tempo,
Que me sustenta, e mata, e que vai secretando o pensamento
Como tecem as teias as aranhas.
A que mundo
Pertenço ?
No mundo há pedras, baobás, panteras,
Águas cantarolantes, o vento ventando
E no alto as nuvens improvisando sem cessar.
Mas nada, disso tudo, diz: “existo”.
Porque apenas existem…
Enquanto isto,
O tempo engendra a morte, e a morte gera os deuses
E, cheios de esperança e medo,
Oficiamos rituais, inventamos
Palavras mágicas,
Fazemos
Poemas, pobres poemas
Que o vento
Mistura, confunde e dispersa no ar…
Nem na estrela do céu nem na estrela do mar
Foi este o fim da Criação !
Mas, então,
Quem urde eternamente a trama de tão velhos sonhos ?
Quem faz – em mim – esta interrogação ?

Mario Qintana

Comments

  • Zélia guardiano
    Responder

    Que lindeza, minha querida Norma!
    Quem não gostaria de ler estes versos, neste sábado, de manhã?
    Que lindo presente me deste, amiga!
    Abraço forte.

  • chica
    Responder

    Lindo nosso amigo mário! beijos,ótimo findi!chica

  • manuel marques
    Responder

    Não tem porque interpretar um poema. O poema já é uma interpretação.

    Mário Quintana

    Grato pele partilha desta obra prima.

    Beijo

  • C.
    Responder

    Adoro maos… e com ela se fez o Homem.

    Bom fim de semana!

    Cris

  • Maria Luiza (Lulú)
    Responder

    Olá Norma.
    Adoro tudo de Mário Quintana. Dá o que refletir.
    Vim agradecer o comentário lá BCFV, gostei do seu blog e já sou sua seguidora.
    Beijo
    Maria Luiza (Lulú)

  • Teresinha
    Responder

    Olá Norma,
    Adorei te conhecer pessoalmente. Bonequinha de luxo.rsrs…
    Foi muito bom.
    Já postei sobre nosso encontro.
    Bjs mil

Grata por sua visita sempre bem-vinda.

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