“Velhice, por que não?”
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Lya Luft, brasileira, gaúcha, iniciou sua vida literária em 1980, aos 41 anos . É conhecida por sua luta contra os estereótipos sociais. É romancista, poetisa e tradutora .
Nasceu no dia 15 de setembro de 1938, em Santa Cruz do Sul. Formou-se em letras anglo-germânicas e tem mestrado em Literatura brasileira e Linquística Aplicada. Trabalha desde os 20 anos como tradutora de alemão e inglês.
Publicou livros de poemas, romances e novelas, tendo textos seus adaptados para o teatro. Atualmente, dedica-se apenas à Literatura e à tradução de literaturas inglesa e alemã.
Ficou viúva duas vezes, tem três filhos e vários netos. “Mulher madura, experimentou perdas e ganhos, mas mantém o otimismo, ama a vida”. (Perdas & Danos)
Em entrevista a revista a revista Contigo/05/ 2009, revela que “a literatura jamais seria a minha maior felicidade. Minha felicidade está na família, no marido, nas amizades, em coisas reais e vitais (…) Sou uma mulher em busca de simplicidade, que curte a vida com tranquilidade e certa beleza”.
Obras
Romances
As Parceiras (1980, hoje na 18ª edição).
Reunião de Família (1982).
O Quarto Fechado (1984).
Exílio (1987).
A Sentinela (1994).
O Rio do Meio (1996).
O Ponto Cego (1999)
Poesia
Mulher no Palco (1984).
O Lado Fatal (1988).
Secreta Mirada (1997)
Obras traduzidas no exterior
Alemanha: ‘As Parceiras’ e ‘Reunião de Família’ (ambas pela Editora Klett-Cota-Verlag)
Inglaterra: ‘Exílio’ (Ed. Carcanet)
Itália: ‘A Asa Esquerda do Anjo’
Estados Unidos: ‘O Quarto Fechado’
Velhice, por que não?
“Para a vovó a beleza foi um tormento, porque o tempo não se detinha e desde moça seu maior pavor era perder aquele bem supremo. Olhava-se nos espelhos procurando uma primeira ruga, uma primeira dobra. Uma primeira manchinha.
Quando chegou aos 60 anos quase morreu de dor, andava pela casa gritando:
– Eu odeio fazer 60 anos! Eu não aguento fazer 60 anos!
Não adiantava as pessoas dizerem que parecia nem ter 40 tão conservada. Argumentavam com ela:
– Tente imaginar que você está conquistando a maturidade em vez de perder a juventude; e que um dia vai ganhar a velhice em vez de perder a maturidade. Não é muito mais natural pensar assim?
Mas Vovó não aceitava, para ela o natural não era natural:
– Eu odeio pensar que estou ficando velha. Não aceito, não aceito, pronto.
As primeiras cirurgias leves tinham-lhe feito bem: removeram um traço amargo, um sinal de cansaço prematuro. Depois seu médico lhe disse:
– Vamos deixar a natureza agir um pouco e o corpo descansar. Não abuse.
Ela então foi procurar outros médicos, que faziam suas vontades. Desconfiando o indesafiável e excedendo seus limites, foi entrando no irreal.
Mas as ilusões não continham mais tempo, e o costurado voltava a descoser. Minha Avó foi-se isolando. Apartou-se das amizades, deixou as festas, não gostava mais de ninguém. Começou a delirar reclamando que todo mundo a apontava nas ruas, nas lojas, nos restaurantes: Lá vai aquela velha.
Cada vez mais difícil de lidar e conviver, exigia o que ninguém podia lhe dar: o tempo congelado. Aos poucos foi sendo devorada por dentro também.
O rosto da minha Avó, de tanto ser remendado, foi-se tornando outro. Mudou o olho, mudou o nariz, mudou o queixo, mudou até a orelha. No fim nada mais dela era dela”.
(O ponto cego, 1999)
Lya Luft
http://www.releituras.com/lyaluft_bio.asp
http://pt.shvoong.com/books/biography/1659990-lya-luft-vida-obra/
http://educarparacrescer.abril.com.br/leitura/lya-luft-468503.shtml
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