“E os velhos se apaixonam de novo”

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Imagem Google

O título do post é de uma crõnica do escritor Rubem Alves que, com sua forma de ver o processo de viver, me motivou a reproduzir alguns trechos para  reflexão sobre o amor e o envelhecimento. Caso se interesse em lê-la na íntegra clique aqui.


(…) “O amor surgira no tempo em que ele é mais puro: a adolescência. Mas naqueles tempos havia uma outra Aids, chamada tuberculose, que se comprazia em atacar as pessoas bonitas, os artistas, os apaixonados — esses eram os grupos de risco. Pois ela, a tuberculose, invejosa da felicidade dos dois, alojou-se nos pulmões do moço, que teve de ir em busca de ar puro, no alto das montanhas, sanatório …

(…)Amor de mocidade é bonito, mas não é de espantar. Jovem tem mesmo é que se apaixonar. Romeu e Julieta é aquilo que todo mundo considera normal. Mas o amor na velhice é um espanto, pois nos revela que o coração não envelhee jamais. Pode até morrer, mas morre jovem. “O amor retribuido sempre rejuvenesce”, dizia Eliot, no vigor de sua paixão, aos 70 anos…

Amor de adolescência interrompido – cada um seguindo seu caminho, diferentes, outros amores, familias. Mas o tempo não consegue apagar. A psicanálise acredita que no inconsciente não há tempo…Somos eternamente jovens.

Ela casou. Ele casou. Nunca mais se viram. Quando ele tinha 76 anos, ficou viúvo. Quando ela tinha 76 anos (ele tinha 79), ela ficou viúva. E ficou sabendo que ele estava vivo. A curiosidade e a saudade foram fortes demais. Foi procurá-lo. Encontraram-se. E, de repente, eram namorados adolescentes de novo. Resolveram casar-se.

Os filhos protestaram. Eles, os filhos, todos os filhos, não suportam a idéia de que os velhos também têm sexo. Especialmente os pais. Pais velhos devem ser fofos, devem saber contar estórias, devem tomar conta dos netos. Mas velho apaixonado é coisa ridícula. Não combina.

Os filhos sempre decidem contra o amor dos pais. Mas, na nossa estória, os dois velhos deram uma solene banana para os filhos e foram viver juntos em Poços de Caldas.

E de repente, já no crepúsculo, as arvores que todos julgavam secas começama soltar brotos, florescem. Viveram um ano de amor maravilhoso, e ele até começou a escrever poesia e voltou a tocar o violino que ficara por mais de 50 anos sobre um guarda roupa, porque a esposa não gostava de música de violino.Reaprendeu as antigas palavras de amor.

O amor tem esse poder mágico de fazer o tempo correr ao contrário. O que envelhece não é o tempo. É a rotina, a incapacidade de se comover ante o sorriso de uma mulher ou de um homem. Mas será incapacidade mesmo? Ou será uma outra coisa: que a sociedade inteira ensina aos velhos que o tempo do amor passou, que o preço de serem amados por seus filhos e netos é a renuncia aos seus sonhos de amor? Morreu de amor, como temia o Vinícius” (…)

Rubem Alves

Norma

Comments

  • chica
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    Tomara todos os velhinhos possam se apaixonar sempre. Vejo acontecer esses romances até nos asilos.Legal! Sempre é tempo!beijos,lindo dia!chica

  • Giovanna
    Responder

    Norma um amor maduro, que resistiu ao tempo, é lindo demais, uma forma de viver, sem mrorer nunca. Adorei. Bjs

  • Valéria
    Responder

    Oi Norma!
    Acho bonito este renascer pelo amor. É uma renovação nos hábitos, na maneira de encarar a vida em que tudo se renova, rejuvenece, se falar na companhia em um momento delicado da vida.

    Beijo carinhoso!

  • luma
    Responder

    Ui, ui!! Só não acelerar muito o coração e fazer amor devagarinho 😉 Assim, ninguém morre por causa do amor!! Bom fim de semana!! Beijus,

  • Gina
    Responder

    Norma,
    Sempre tem alguém pra dar um pitado nos novos relacionamentos amorosos dos velhinhos. Ainda não encaramos com naturalidade.
    Amar faz um bem enorme, em qualquer idade.
    Grata pelos palavras gentis no aniversário do blog!
    Bom final de semana!

  • Socorro Melo
    Responder

    Olá, Norma!

    Um belo texto. Acho fantástico aquele que luta contra os preconceitos, e vive a sua vida e o seu amor em qualquer idade.

    Um abraço e bfs
    Socorro Melo

  • Macá
    Responder

    Olá Norma
    Que lindo! Os dois se reencontrando, namorando e fazendo amor. Acho tão bonito.
    E os filhos não tem nada que dar palpite não, tem mais é que apoiar.
    um beijo

  • Beth Q.
    Responder

    Ahh, o meu querido Rubem Alves, sempre com textos que fazem a gente refletir! É muito lindo ver pessoas que não se fecham para a vida, mesmo quando mais velhinhos.
    bjs cariocas

  • Expedito (Profex)
    Responder

    Norma, muito bom o texto… Rubem Alves traduziu o efeito do amor na vida das pessoas:
    O que envelhece não é o tempo é a rotina, a perda do amor, da paixão pela vida. Mas o amor tem o dom de rodar o relógio em sentido contrário, resgatando o sabor de viver. Gostei do blog. Parabéns!
    Grande abraço!

  • Toninhobira
    Responder

    As cronicas do Rubem são boas mesmo. O amor que nao tem formula, tambem não pode respeitar idade. Tambem creio que há uma onda de querer estipular idade para o amor.O amor há que correr livre e solto. Que cada dia possa mais e mais aquecer a vontade de amar e que ele seja mesmo o calor no avanço da idade.
    Um abração Norma.

  • Denise
    Responder

    Tenho uma pesquisa realizada na época da graduação sobre paixão. Confirmamos que não existe diferença entre estar apaixonado com 20 ou 50 anos…na época, eu acreditava que os “maduros” tinham critérios diferentes – e de fato têm, mas acerca de como concretizar o relacionamento – como se fosse possível controlar o amor…

    Tema bonito Norma, como tudo que envolve o amor.
    Beijos

  • liliane carvalho
    Responder

    oi Norma…
    que assunto maravilhoso você trouxe.
    infelizmente por questões culturais, não permitimos aos idosos viverem como se estivessem vivos né.

    otima reflexão.
    beijo e tenha um excelente dia.

Grata por sua visita sempre bem-vinda.

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