BCFV / Morte

Esta é a minha participação na BCFV, em sua última etapa, a morte com a coordenação da amigas, Rute, Gina e Rosélia.

A morte é o fim, ou apenas o início da vida?


Indagação sobre o significado da morte em relação à existência  perpassa civilizações e é sempre atual. Nenhuma resposta satisfaz. É difícil para o homem suportar a angústia provocada pela consciência da morte, falar sobre ela ou mesmo refletir.  Alguns procuram encará-la, como o compositor Raul Seixas que compôs o Canto para minha morte. Leia, selecionei alguns trechos   que trazem muitas das suas questões  e que penso são comuns a muitos de nós, seres humanos.

(…) “Com que rosto ela virá?

Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer?

Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque?

Na música que eu deixei para compor amanhã?

Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?

Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada,
E que está em algum lugar me esperando
Embora eu ainda não a conheça?

Qual será a forma da minha morte?” …

No entanto, há pensadores como Kovács (1992)  que diz:  ”o medo da morte tem um lado vital […], é a expressão do instinto da autoconservação, uma forma de proteção à vida de superar os instintos destrutivos“.

O  filósofo Michel  Serres (2003), afirma que “tornamo-nos os homens que somos porque, indubitavelmente, aprendemos que iríamos morrer, mesmo que jamais soubéssemos como”. E com este pensamento indaga : ” Sem a certeza da morte será que teríamos algum dia pintado as cavernas, descoberto o fogo, modulado os ornamentos da linguagem, dançado para os deuses, observado as estrelas, demonstrado os teoremas da geometria, amado nossoscompanheiros, educado as crianças, enfim, vivido em sociedade?”

Portanto,  podemos assim concluir que a morte constrói a vida.

No entanto, o despertar da consciência da ausência  cotidiana,  quando se perde um ente muito querido e próximo, é dificil de ser superado.

Norma

Referência bibliográfica

Kovács MJ. Morte e desenvolvimento humano. 4a ed. São Paulo: Casa do psicólogo; 1992.

SERRES, Michel. Hominescências: o começo de uma outra humanidade. Trad. Edgard de Assis Carvalho, Mariza Perassi Bosco. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

Comments

  • chica
    Responder

    Ela que é a coisa mais certa, não se mostra antecipadamente pra nós. Só na hora vamos ver! beijos,chica

  • Roselia Bezerra
    Responder

    Querida Norma
    “…um ramo de jasmins todo orvalhado”…
    (Amara)

    Vc fez muito bem em ter colocado alguns exemplos das possibilidades de quando e como ela virá… a tenebrosa??? Ou a esperada para uma melhor??? Quiça a experimentaremos num clima de serenidade total???
    Tomara!!!
    Meu papai foi tranquilo e ficou lindo com o seu rostinho sereno de paz pois foi digno do viver que recebeu como Dom de Deus… um exemplo vivo de paz na vida terrena e a transpôs para a outra que nos aguarda ansiosa… com doces expectativas de purificação dos nossos amores terrenos… ainda imperfeitos…

    “Simpatia são dois galhos
    Banhados de bons orvalhos”…
    (Ieda)
    Um maravilhoso mês de setembro, repleto de gotículas de orvalho!!!
    Bjm de coração a coração pra VC…

    http://espiritual-idade.blogspot.com/

  • Virginia Maria de Jesus Fassarella
    Responder

    Norma, você disse tudo, filosofar é fácil, quando não se trata de um ente querido. Beijos.

  • Gina
    Responder

    Norma,
    Os músicos, poetas, escritores de um modo geral têm essa capacidade de nos encantar com suas reflexões sobre a vida, seja com temas corriqueiros ou profundos.
    Se pararmos para pensar, a consciência da morte pode sim ser encarada como estímulo à vida.
    Obrigada por estar conosco mais uma vez!
    Bjs.

  • Eliete
    Responder

    Norma, gostei muito da sua reflexão sobre a morte. Li recentemente o livro do Pe. Fábio de Melo e ele diz que a morte é como o rio que chega até o mar.É uma transcend~encia, tornar-se maior. Diferente de acabar.
    bjs

  • Maria Luiza Monteiro
    Responder

    Olá Norma.
    Você encontrou belas perguntas na música de Renato Russo.
    Gostei de seu texto , me inspirou .
    Beijos
    Maria Luiza (Lulú)

  • Adri
    Responder

    Norma, achei muito interessante a constatação do Serres. O fato de sermos mortais determina como somos e como agimos, muito paradoxal e verdadeira sua constatação de que a morte constrói a vida. Mais uma vez, uma participação muito relevante na blogagem, parabéns! Beijos.

  • Maria luiza saes de rezende
    Responder

    Quue bacana essa colocação de que a morte constrói a vida. Eu preciso de ler frases assim para perder meu medo dela! Parabéns! Beijos!

  • Valéria
    Responder

    Oi Norma!
    Bem interessante sua tese em relação a morte. Vê-la como estímulo à vida no entanto, não nos dá muito conforto em encará-la.rsss
    Beijo carinhoso!

  • Toninho
    Responder

    Sabemos como certa, mas incomoda quando vem nos visitar. Mas vem a reflexão de faz dela nosso ponta-pé para acordar para a vida que se abre a nossa frente e não fica parado pensando naquela que virá.
    Esta musica é fantastica para uma reflexão.
    Um abraço Norma.
    Bom fim de semana de muita paz e alegrias e passeios,rsrs
    Bju.

  • Socorro Melo
    Responder

    Olá, Norma!

    Por ter consciência dessa finitude, o homem, desde os mais remotos tempos, se preocupou em construir algo que pudesse ficar, como obra de suas mãos, e assim as civilizações progrediram… Paradoxal, não? Mas, interessante!
    Gostei desse jeito de se pensar na morte…

    Um abraço
    Socorro Melo

  • Rute
    Responder

    Oi Norma,
    gostei dessa máxima do “instinto de autoconservação”.
    Acho que é por isso que me interesso tanto por gastronomia. É de vital importância ter consciência do que ingerimos.
    Beijos além-mar.
    Rute

  • Denise
    Responder

    Vejo a morte como mais uma etapa, uma experiência. A ciência nos diz q na natureza nada se perde, nada se ganha, tudo se transforma. E assim somos, nos transformamos a cada fase, inclusive esta. Muita paz!

  • Bel Rech
    Responder

    As letras das músicas do Raul são certeiras…essa foi direto, porque nunca saberemos quando vai ser, em que momento vai chegar. Devemos viver da melhor forma possível em relação aos que nos rodeiam.Infelizmente quando chega na nossa família, achamos que não vamos conseguir, mas o tempo se encarrega de aliviar.
    Paz e bem

Grata por sua visita sempre bem-vinda.

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