A arte de expressar a vida
No início deste espaço, poucos comentavam as postagens. Esta foi uma delas que publiquei em 2010 e senti vontade de republicar.
A vida é composta de alegrias e tristezas, de altos e baixos. Cada pessoa tem uma forma de ver e sentir a vida, de encarar os fatos e de lidar com as pessoa.
Na arte encontramos sensibilidades que nos expressam a vida. Cecilia Meireles, conforme suas próprias palavra, ” procuro mostrar a vida em profundidade (…) por uma contemplação poética afetuosa e participante.” (1982). No poema abaixo, revela os motivos de sua existência como poeta e não faz distinção entre a obra e a própria vida.
Canção
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
– depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre dos meus dedos
cobre as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho dentro de um navio…
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito:
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas
Cecilia Meireles
Fonte
Cecilia Meireles. Literatura comentada. São Paulo: Abril Educação, 1982.
Google Imagem
Comments
Chica
Cecilia é maravilhosa e gostei desse compartilhamento! É bom remexer nos posts mais antigos! Bjs chica e lindo dia!
toninhobira
Incrível Norma como isto acontece ás vezes, de uma postagem interessante e e ou bela não ter a atenção, que esperávamos. Já aconteceu comigo e revendo algumas tenho esta vontade de repostar.
Esta Cecilia é uma maravilha nesta analogia linda e perfeita para se definir pela vida. E nosso barco segue pelas águas nem sempre tranquilas, mas prossegue levando nossos barcos ao fundo dos nossos desejos e quereres.
Bela ideia para reler Cecília.
Grato amiga.
Beijo
roseliabezerra
Boa tarde, querida amiga Norma!
Gosto de reler coisas antigas também e ver o quanto mudamos nosso pensar, agir e também o sentir…
Mas há algo aqui que me prendeu a atenção demais:
“Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça”…
Substituí o mar pelo mais precioso…
Requer desprendimento e muita renúncia… muito choro à parte da alegria que temos para o outro cresça conosco ou por nós…
Doação irrestrita e responsável como precisa ser todo cuidado com o coração do outro que amamos.
Deus a abençoe muito!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem
verena
Obrigada por compartilhar esta linda poesia de Cecília Meireles, Norma.
Desejo uma feliz nova semana.
Um carinhoso abraço.
Verena.
Ailime
Boa tarde Norma,
Um post magnífico. Gostei imenso do poema de Cecília Meireles.
Os “baús” têm sempre pérolas guardadas.
Que bom que partilhou.
Beijinhos,
Ailime
Majo Dutra
Também gosto deste poema e de todos relacionados com o mar. Ela que nos escreveu «porque isto é mal de família, ser de areia, de água, de ilha», referindo-se à origem dos seus antepassados.
Dias aprazíveis.
Abraço, Norma.
~~~
taislc
Gosto muito de Cecília, as vezes nos surpreende com poemas bem fortes…Mas é preciso! Temos de refletir um pouco. E agora estamos precisando muito de poesia…
Beijo, Norma, bons dias pela frente.