O Prenúncio da morte

48238874 - a electrocardiography exitus illustration in dark screen background

Somos finitos. Vivemos como se infinitos fôssemos

 

Ao longo da existência, uma imagem negra, assustadora povoa a mente do ser humano. No mais profundo do ser, existem a certeza absoluta e a tenebrosa realidade da morte.

 Nascemos e despertamos para a vida. Aos poucos vamos nos dando conta que apenas somos parte da vida; que somos apenas um dos seus diversos representantes.  Independentemente, de estarmos aqui, ela segue seu rumo.

O tema da morte é árido, principalmente para nós ocidentais. O homem por sua natureza racional é o único ser do universo que tem consciência da morte. Todavia, a forma de confrontá-la foi se alterando ao longo do tempo e no espaço da história humana; foram sendo, inclusive, abandonadas as práticas familiares e rituais que ajudavam as pessoas no processo de adaptação à morte. Froma Walsh e Mônica McGoldrick em seu livro Morte na Família, Sobrevivendo às Perdas, observam que “o medo da morte é o nosso terror mais profundo”.  Pensamos a vida e a morte separadamente, quando de fato uma está inserida na outra, pois a vida desperta a morte.

Na atualidade, o materialismo tem favorecido a postura de ignorá-la. Sabemos da importância das lembranças, das influências das nossas experiências e crenças familiares. Mas assistimo, comumente, pais tentarem afastar os filhos dessa realidade, temendo traumas.  A relutância cultural sobre lidar com a morte é confirmada no próprio uso da linguagem como, por exemplo, “foi desta para melhor”.

Procuramos  assisti-la de camarote, como se não fizéssemos parte do desfile. Sofremos com a perda dos entes queridos. Mergulhamos na tristeza. Mas não conseguimos nos imaginar fora deste tão presente cotidiano, da corporificação, sem entrarmos no mérito da fé, da vida após morte ou reencarnação”.

A dificuldade de suportar a ideia da morte é tão forte que alguns familiares de doentes terminais vivem o luto com o doente em vida. Entretanto, o indivíduo com doenças crônicas físicas, que podem resultar em morte, experiencia várias perdas, mas, freqüentemente, começa a apreciar aspectos da vida ignorados anteriormente. Por outro lado, pessoas que se recuperam de enfermidades graves dão testemunhos da renovação que realizaram em suas vidas.  Elas demonstram como só se deram conta da sua finitude ao e depararem com o prenúncio da morte. De acordo com Kleinman “se existe uma única dimensão as doenças que nos pode ensinar algo precioso para nossas próprias vidas, esta deve estar relacionada ao modo de confrontar e responder ao fato de que todos, sem exceção, morremos”.

Muitos fatores contribuem para a visão negativa da finitude, entretanto alguns autores trazem uma visão mais positiva ao enfatizarem a participação do indivíduo na construção da história da humanidade. Assim, ele tem um limite temporal, mas a história continua.  De outra forma a visão oriental concentra-se no momento presente trazendo um método sadio de viver a finitude.  Parafraseando Karel “perdemos muitas jóias de vida porque deixamos de ver seu brilho pelo simples fato de convencer-nos que não vale porque um dia não brilharão mais”.

Norma

Comments

  • josé cláudio – Cacá
    Responder

    Que texto maravilhoso, Norma! Eu tenho tentado adotar como princípios a construção de histórias de envolvimento de mim na história humana. Acho que quanto mais a gente se aproximar da completude que dê vazão ao vazio existencial (não preenchido pelo material apenas) mais nos afastaremos desse temor. Só uma vida de plenitude coletiva e espiritual pode afastar esse assombro tão atemorizante do nosso pensamento. Meu abraço. paz e bem.

  • Yasmine Lemos
    Responder

    Maravilhoso texto Norma. Sua reflexão é perfeita e de uma maturidade que confesso vou demorar a adquirir,por medo da perda ,por pavor só em pensar na coisa mais certa que temos na vida, o fim.Penso muito que , se não amassemos ninguém, que bobagem a minha parabéns
    beijo

  • chica
    Responder

    Não tenho medo da morte para mim,mas sou frágil pra pensar nela para os meus.

    Não dos mais velhos, que já viveram e estão apenas sofrendo por aqui, coisa que ninguém gostaria de vê_la passar, no caso de minha mãe, mas dos demais, marido, filhos, netos, não consigo ver com a naturaçlidade, mesmo sabendo de tudo que sei, que estamos de passagem etc. ..

    . Mas na prática, deve dar uma dor enorme. beijos,chica,lindo tema!

  • Socorro Melo
    Responder

    Norma,

    Taí um tema que deveria ser abordado mais vezes, com o objetivo de ajudar as pessoas a lidarem com esse terror, o medo da morte. Achei excelente esse texto. Eu, particularmente tenho muito medo, mas, ao invés de assistir de camarote, esse desfile, tenho a preocupação de pensar sempre nele, e sou bem consciente de que é a única certeza que tenho na vida. Gosto muito de ler a respeito, e confesso que já encaro o assunto com mais naturalidade. Muito bom.

    Abração
    Socorro Melo

  • Toninhobira
    Responder

    Excelente Norma falar de morte é mesmo uma coisa terrivel para o ocidental pelas explicações dadas. A morte é certa e o convivio com ela há que ser natural. Tenho convivido com ela deste criança quando vivia no interior e acho até que estas pessoas assimilam mais facilmente, dos que as de playground. Com o tempo e vivendo cada etapa desta vida creio que vamos nos aproximando desta ideia de maneira menos dolorosa. Inclusive o medo de mortos é grande nas pessoas, inclusive convivi muito com este medo na infancia, mas sempre alertado pelos pais, que mortos nao atacam, nem voltam e assim fui me aproximando da ideia natural e certa.Mas este tema é preciso, estar nas escolas, criando nas crianças esta naturalidade, bem como no seio da familia, para torna-la menos horrorosa. Incentivar o viver inteligente e pleno,mas entendendo a finitude. Parabens pela postagem. Aqui um bom cantinho para troca de ideias e sentimentos.Muito bom estar aqui.
    Meu abraço de toda paz.
    E que a vida nos seja leve.
    Bju de luz nos seus dias.

  • Mari Amorim
    Responder

    Obrigada pelo carinho.
    Parabéns!seu post dispensa comentários,
    boas energias,paz,saude,muito amor..
    Um abraço
    Mari

Grata por sua visita sempre bem-vinda.

%d blogueiros gostam disto: