Desembarque

“Não conseguimos desembarcar de nós mesmos”

Vivemos em nosso próprio mundo. Somos seres de hábitos, fazemos a manutenção da mesmice. Daí nossas dificuldade do novo. de ter novo olhar para coisas antigas ou mesmo compreender o diferente. Usamos frequentemente idéias pré concebidas, cristalizando preconceitos.

Ruben Alves nos ajuda a refletir sobre isto  no trecho abaixo.

“Para se entender um livro de outro mundo a primeira condição é sair do nosso mundo. Isso exige uma decisão preliminar: ‘Vou, provisoriamente, num jogo de faz de contas, parar de ter minhas idéias. Vou desembarcar do meu mundo. Vou entrar no mundo do autor. Vou aprender a sua língua…’ Se eu não fizer isso não terei condições de entendê-lo, se for o caso, ainda que para discordar dele honestamente. Se eu parto do pressuposto de que o autor só diz besteiras eu só lerei besteiras – as que estavam dentro de mim” Quarto de Badulaques LXX

Complementando em poesia

Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê, Nem ver quando se pensa.

Mas isso(tristes de nós que trazemos a alma vestida!).

Isso exige um estudo profundo, uma aprendizagem de desaprender
E uma sequestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores,
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores?

Aberto Caeiro/ Fernando Pessoa

O título  acima é de  Bernardo Soares.

Norma

Comments

  • Regina
    Responder

    bom dia Norma! Tudo bem?
    Adoro Ruben Alves, desde pequena leio as riquezas que escreve!
    Um grande abraço
    Regina
    http://www.psicologaregina.blogspot.com

  • josé cláudio – Cacá
    Responder

    Gosto dessa ideia, Norma. Me parece um pouco o conceito de alteridade. A gente não só se conhece melhor a partir da vivência com o outro como se desenvolve mais plenamente. Adorei. Paz e bem.

  • Yasmine Lemos
    Responder

    Se dispor a deixar-se um pouco de lado e olhar outros mundo,com a alma nua.
    beijo Norma bom dia

  • chica
    Responder

    Muito lindo e bem profunda essa propsta! beijos,chica

  • Meri Pellens
    Responder

    Nunca havia imaginado estrelas como freiras e nem mesmo as flores como penitentes. Até que (para mim) as estrelas poderiam ser como freiras, pois muitas me iluminaram positivamente, mas as flores penitentes? Na verdade sempre vi estrelas como estrelas e flores como flores. Nossa, me enpolguei rs..
    Querida, de fato, para entender o outro precisamos sair de nós mesmos, e nem sempre sabemos fazer isso.
    A paz de Jesus, querida!

  • marli soares borges
    Responder

    Engraçado, ontem casualmente, pensei num livro que li há trocentos anos atrás. Intitulava-se “Senhor, Liberta-me de Mim”, onde o autor, que nem lembro mais o nome, pedia que Deus o ajudasse a sair de si, a crescer, a pensar no outro, a amar verdadeiramente o próximo. É isso aí. Para crescermos como pessoa, para evoluirmos, temos que conviver com a diversidade e para que aconteça essa tal convivência precisamos sair de nosso ego (sempre enormeee) e incorporar em nós uma palavrinha que está tão fora de moda: a humildade. Pois é Norma, no meu pensar a humildade é a via mais curta para sair da mesmice, aceitar os conceitos do outro e assim aprender. E, de quebra, entrar na perspectiva do amor, que é a via mais curta da comunicação humana, onde oportunizamos a comunhão com o outro a partir da experiência dele, de sua interioridade. E juntos teremos uma outra visão de mundo.
    Pronto, xô mesmice.
    Bjssssssssssssssssss

  • Nilce
    Responder

    Norma

    Quando não aceitamos a opinião do outro, quando carregamos somente o que achamos certo, o que podemos achar o melhor, nunca nos libertaremos de nós mesmos.
    Nos fechamos para tudo o que é novo e não aceitamos o que foi passado, antes do que achamos nosso.
    Excelente reflexão.

    Bjs no coração!

    Nilce

  • C.
    Responder

    Carregamos nosso super ego em todas as situacoes, difícil desvincular. Eu vejo aqui (acho) algo a ver com esse nao desembarque, tem várias pessoas de vários países, mas todas carregam as mesmas tradicoes dos seus próprios países… ou seja, as turcas continuam com os lenços na cabeça, os indianos com aquelas roupas coloridas… vê-se que o “desembarque” é realmente algo ainda onírico rs.

Grata por sua visita sempre bem-vinda.

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