Encontro de família
A família de origem é um reduto das memórias e, sempre que acontecem encontros, mergulho nas histórias e retorno nutrida. Ter oportunidade de troca de conhecimento com minhas irmãs e compartilhar com a geração ascendente, me favorecem confirmar a força invisível das lealdades familiares e da importância de olhar com clareza o que devemos sustentar e o que devemos abandonar em prol da funcionalidade de cada ciclo familiar.
As gerações se sucedem e através da transgeracionalidade, os afetos, a revivência de conflitos infantis, a reatualização e a reedição de histórias familiares constituem a herança que se transmite de geração a geração. Na balança do ser e pertencer surgem sinais de que padrões relacionais estão caracterizando necessidade de reorganização.
Em minha história, analisando a família de forma horizontal e vertical, sei que exerci e/ou exerço a função de rebelde, ou seja, saí dos trilhos conhecidos e esperados pela minha família de origem. Lembro, como se fosse ontem, quando aos 21 anos, avisei a família que iria fazer a passagem de ano com o namorado, vendo fogos na praia da Urca e não com a família como o usual; tive que enfrentar o desgosto, principalmente do meu querido pai.
Hoje, familiares me consideram como referência de mudança na rota familiar e sei que pago um preço, mas que me consolida e me afirma quem hoje sou.
Todavia, sei o que foram os recursos familiares de mulheres fortes (lutaram para cuidar dos filhos e sobreviverem) que possibilitaram minha caminhada e escolhas. A persistência e coragem para enfrentar padrões de uma época cujo estudo e liberdade de ir e vir (na familia de origem e extensa) não eram os que vigoravam.
A ideia de que as mulheres têm um ciclo de vida à parte para além dos papéis de esposa e mãe ainda não é amplamente aceita em nossa cultura. Diversifiquei-me nos papéis, profissional, esposa, mãe, administradora do lar, amiga, hoje avó, mulher que nunca deixou de perceber seus próprios limites, de lutar por eles, na tentativa de equilibrar o estar junto e o estar comigo mesma. Isto trouxe muitas estranhezas e, ainda traz, ao ser comparada a padrões mais convencionais. Contudo, sei que sou admirada por alguns e contestada por outros, mas sinto-me realizada pelo meu processo de individuação e influenciar um novo rumo a nossa história de família, apesar de saber que a força invisível sempre puxa querendo que a homeostase seja mantida.
O encontro de família propiciado pelo aniversário de uma sobrinha gerou o poema abaixo e me impulsionou este compartilhar.
Encontro promissor
Ao encontrar-me no ontem
Vi – me no mundo dos
Desejos da independência.
Caminhos trilhados
com força perseverante.
*
Jovem com sonhos
De amor e ideais
Costurados na vida
Com os fios da coragem
Tecidos com dificuldades.
*
No hoje percebo
Que tudo valeu
Das frustrações
Ás conquistas.
*
A realização tem
Várias faces e fases
Que mudam de
Ritmo e tom.
Danço de acordo
Com os chamados
Em vários tons
Com portas abertas
Para o porvir.
Grata por sua visita
Norma Emiliano
Comments
chica
Tão lindos os encontros de família e sempre bom que aconteçam em ocasiões festivas. A parte da família mais chegada é sempre a mais junto de nós e as outras, por vezes, primos, tias,etc, só os vemos em tristes situações. ADOREI TEU ENCONTRO, FOTOS E POESIA BEM INSPIRADA! BJS, CHICA
roseliadosreisbezerra
Bom dia de paz, querida amiga Norma!
Sou de uma familia que nao pertenco. Entendo bem sua colocacao.
Nao ha empatía e identificacao muito menos pertenca. Sou filha de Deus. Amo entretanto meus familiares… Coisa bem distinta: familia e familiares
Tambem pago caro minha tomada de decisao aos 18 anos que nao foi como a sua pois talvez tivesse tudo rumo diferente.
Quem e audaz rompe gente carcomida, preconcebida, preconceituosa. Sao valentes. Nao sofrem o que eu passei. O mundo e dos espertos que rompem padroes. Caso contrario, nao nos levam fe.
Ainda bem que o mundo da voltas e, ganhamos autoestima suficiente para vencermos a nos mesmas, em primeiro lugar pela resiliencia.
Adorei sua postagem.
Hoje em dia, para os de cabeca aberta como a sua, dos familiares, sou respeitada e amada. Muito bom ter o carinho e a comprensao deles que muito amo.
Tenha dias felizes nos festejos que ja comecam a pipocar!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem
Ailime
Boa tarde Norma,
Tão bom esses encontros de família que tantas memórias e aprendizado nos trazem!
Todos nós tivemos que ultrapassar muitas barreiras impostas por preconceitos tantas vezes, mas o que fica é o amor apesar das dificuldades.
E o amor na família é tão bonito!
O poema ficou maravilhoso e em consonância.
Adorei o seu relato e a foto que está linda.
Um beijinho e continuação de boa semana.
Ailime
Celina Silva Pereira
Bom dia, Norma!
Interessante este post, particularmente
quando me preparo para ir eu mesma a um encontro familiar.
O conjunto do texto com o poema ficou perfeito.
Enriquecedor o conteúdo.
Boa semana!
Calu
Vc narrou lindamente estas revisitações férteis que nos rodopiam a cada encontro de gerações. Acertando arestas rígidas, quebrando paradigmas ocos, as histórias de nós mesmas se fazem, refazem e perfazem, claro, com os ventos variantes para cada geração.
Somos testemunhas e atrizes destes ventos, mas, com a salvaguarda do respeito aos bons valores e aos estilos vanguardistas folheados na integridade.
Vi aqui, que mais uma vez nossa sintonia se fez, Norma. Que máximo!
Bjka,
Calu
toninhobira
Norma uma beleza a foto familiar para guardar com carinho para aqueles dias em que sentimos a falta, o vazio, quando percebemos que muitos já não estão. O seu poema fecha com chave de ouro com as portas abertas para o porvir. É a melhor definição da dita individualidade, que deve ser buscada ainda que cause mal-estar. Perfeita suas reflexões em cima de suas reminiscências. Eu tenho também historias de individualidade e hoje sem os estereótipos sei que trilhei o caminho devido. Ótima sua visão do papel feminino sem se podar de ser e fazer o que quer dentro dos seus limites. A palavra limite não vem como castradora, mas como aprendizado e liberdade de errar e acertar, na busca de mais acertar. Muito boa sua postagem para este olhar para dentro da família em todas as suas gerações.
Gostei de vir e ler.
Abraços e que cada dia sinta esta alegria de ser o que é.
Beijo
taislc
Gostei imensamente do teu depoimento! As mulheres estão abrindo seus caminhos a ferro e fogo, há muito. Não recrimino caminhos tradicionais, cada uma sabe o que quer, mas aos poucos todos os caminhos serão assim, o mundo mudou, as famílias mudaram, as perspectivas cresceram. O olhar para o futuro é outro, e as mulheres têm muito a dar, são sensacionais, com sua força e luz.
Esses encontros familiares são muito bons, trazem muita alegria.
Beijo!