“As mulheres são fantásticas”
São muitas as conquistas realizadas pelo gênero feminino, a inclusão da mulher no mercado de trabalho acarretou alterações significativas e esse processo social alcança uma dimensão estrutural no mundo contemporâneo Contudo, o grande poeta e escritor Drummond nos apresenta com sua crônica importantes itens para refletirmos sobre este ser em constante evolução histórica-social.
“A mãe e o pai estavam assistindo televisão quando a mãe disse:
– Estou cansada e já é tarde, vou me deitar !!!
Foi à cozinha fazer os sanduíches para o lanche do dia seguinte na escola, passou água nas vasilhas das pipocas, tirou a carne do freezer para o jantar do dia seguinte, confirmou se as caixas de cereais estavam vazias, encheu o açucareiro, pôs tigelas e talheres na mesa e preparou a cafeteira do café para estar pronta para ligar no dia seguinte.
Pôs ainda umas roupas na máquina de lavar, passou uma camisa a ferro, pregou um botão que estava caindo. Guardou umas peças de jogos que ficaram em cima da mesa, e pôs o telefone no lugar. Regou as plantas, despejou o lixo, e pendurou uma toalha para secar. Bocejou, espreguiçou-se e foi para o quarto. Parou ainda no escritório e escreveu uma nota para a professora do filho, pôs num envelope junto com o dinheiro para pagamento de uma visita de estudo e apanhou um caderno que estava caído debaixo da cadeira. Assinou um cartão de aniversário para uma amiga, selou o envelope, e fez uma pequena lista para o supermercado, colocou ambos perto da carteira.
Nessa altura, o pai disse lá da sala:
– Pensei que você tinha ido se deitar.
– Estou a caminho – respondeu ela. Pôs água na tigela do cão e chamou o gato para dentro de casa. Certificou-se de que as portas estavam fechadas. Passou pelo quarto de cada filho, apagou a luz do corredor, pendurou uma camisa, atirou umas meias para o cesto de roupa suja e conversou um bocadinho com o mais velho que ainda estava estudando no quarto. Já no quarto, acertou o despertador, preparou a roupa para o dia seguinte e arrumou os sapatos. Depois lavou o rosto, passou creme, escovou os dentes e acertou uma unha quebrada. A essa altura o pai desligou a televisão e disse:
E foi. Sem mais nada.
-Vou me deitar”.
(Carlos Drummond de Andrade)
Qualquer semelhança é mera coincidência.
Norma Emiliano
Comments
misturebasblog
Muito boa essa crônica e fala taaaantas verdades,rs…. Valeu! bjs, lindo dia! chica
Gracita
Oi Norma
Nós mulheres e nossas mil tarefas. Somos sim especiais pois a nossa conduta perante a vida tem um diferencial que poucos compreendem
Uma crônica tão atual que merece uma reflexão mais apurada intensa
Um ótimo dia para você
Beijos
Élys
Costumo dizer, que as murmulhes são a obra prima de Deus.
Um abraço.
Élys.
toninhobira
Bem pensada a cronica do Drummond para falar da mulher e suas mil e umas atividades diariamente e repetidamente por anos e mais anos. Há que respeitar a força e a determinação de muitas mulheres neste mundo, que relegada à uma especie de máquina sem controle remoto. Depois as ligam pela manhã dificilmente poderá desliga-las.
Por isso são especiais e respeitadas pelos sensíveis e conscientes da força dela no processo de formação e construção.
Muito bom Norma.
Bjs