Vivência feminina

 

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“A mulher tem uma única via para superar o homem: ser mais mulher a cada dia.” (Ángel Ganivet).

 

Ao nos determos no universo feminino (desejos, conflitos, conquistas e perdas) ao longo dos séculos, observamos uma variedade de expressões deste lugar e das desigualdades de poder de gêneros que causam tantos danos e impedem a conquista da “felicidade”. Assim sendo, em toda a história observamos uma busca pela clareza de delimitação do que é do feminino e do masculino.

Estudos sobre gênero têm avançado acerca do papel da mulher e suas funções na sociedade contemporânea, demonstrando que essa construção está ligada a dinâmica das relações sociais, uma vez que os seres humanos só se constroem como tais em relação com os outros.

Para Leonardo Boff “todo ser humano é inteiro, mas inacabado”. Segundo Carl Jung todo homem tem seu lado feminino e toda mulher seu lado masculino, que, no caso das mulheres, foi muito reprimido nos anos 60. Assim sendo, ao escrever este texto preferi não me deter nos relatos da evolução desta discussão, mas parto de reflexões pessoais sobre referências pessoais do masculino e feminino na minha trajetória como mulher, enfatizando, portanto,a dinâmica das relações.

Em minha infância/adolescência tive influências de três figuras significativas: Pai, mãe e avó paterna. Foi nesta dança relacional que senti na “pele” todo o preconceito sobre o gênero, bem como tive a oportunidade de selecionar, na idade adulta, recursos que favoreceram superar obstáculos que me pareceram aterrorizantes.

Desde menina, meu pai era o provedor e também quem me dava afeto; minha mãe, cuidadora e submissa ao meu pai e à sogra. Sempre reconheci em minha avó uma garra, firmeza de intenções que não tinha nada a ver com minha mãe e avó materna. Com ela eu estudava e sofria corretivos pelo comportamento. Na minha adolescência, ela faleceu, e vi em meu pai uma fragilidade nunca percebida.

Criada por esta família tradicional, com valores diferenciados para o direcionamento pessoal e profissional do masculino e do feminino, fiz escolhas inesperadas, optando por estudar e trabalhar. Assim, ao ter meus próprios recursos financeiros comecei a alçar voos, como viajar com amigos, ficar até tarde na rua com namorado, entre outros, que causaram percepções negativas sobre meu comportamento e muito mal-estar entre meus pais.

A vida adulta chegou e me vi e me senti respeitada pelos pais por minhas escolhas, das quais já sentiam orgulho. Neste período e em outros, ainda me senti emocionalmente fragilizada e sem segurança da independência (emocional/financeira) até que sob condições de pressão, lancei mão dos recursos masculinos que me foram repassados pelo minha avó e meu pai e tive que ressalta-lós por um tempo para dar conta da família uniparental. Como provedora; passei a dar limites financeiros e o afeto ficava um pouco invisível pelas filhas.

Por um longo tempo, houve conflito, que pôde ir sendo revertido, favorecendo a atenção ao no meu SER em seus aspectos masculinos e femininos.

Enfim, fui e estou sendo uma mulher que ao longo das transformações socioculturais, busca se autoconhecer tecendo meus fios da história, ora com rebeldias, ora com lealdades familiares, equilibrando os dois lados, e certamente não é por acaso que me graduei em Serviço Social e posteriormente em Psicologia.

Contudo, ainda há muitos desafios para que a mulher encontre seu lugar; os fantasmas culturais ainda a perseguem, criando conflitos e dificultando escolhas. Mas, ficam aqui registradas minhas homenagens a todas, que em suas singularidades estão nesta busca.

 

Referências

Boff, Leonardo. Masculino e feminino: O que é o ser humano. In SOTER (Org) gênero e Teologia, Interpelações e perspectivas. Ed. Loyla, São Paulo, 2003.

Jung. O Mapa da Alma. Murray Stein. Ed. Cultrix, 2006.

Norma Emiliano

 

Comments

  • misturebasblog
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    Quanta beleza e verdades nesse texto! Adorei a assertiva inicial. FELIZ NOSSO DIA! bjs,chica

  • Anne Lieri
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    Norma, um texto muito real sobre como foi sua jornada pela vida como mulher, suas dificuldades, anseios e conquistas. Me identifiquei! Bjs e felicidades pelo nosso dia!

  • Majo Dutra
    Responder

    Gratíssima por se expor, deixando o seu testemunho pessoal que gostei sobremaneira de ler, porque faz-nos pensar que afinal, não foi só conosco…
    Norma, gostaria que passasse pelo meu espaço, vai gostar da mensagem e tenho uma ofertinha para si.
    Um abraço especial.
    ~~~~~~~~~~~~

  • Gracita
    Responder

    Querida Norma
    Que lindo esse seu desnudar de alma, seu testemunho pessoal e na sua benignidade nos oferece reflexões e pensares do nosso cotidiano
    Minha amiga eu vim abraçá-la e parabenizá-la pelo dia de hoje e por todos os dias em que mereces ser homenageada como todas as mulheres
    Mulher, símbolo de sensibilidade. És a glória do homem, fonte terna de amizade, pérola de inestimável valor. Âncora fértil da imaginação, manancial profundo de amor. Alma misteriosa, tens inexplicável poder. Poder de conciliar trabalho, emoção, lar. Mestra na arte de amar, és uma guerreira em potencial. Parabéns amiga pelo teu dia.
    Beijos e o meu afetuoso abraço

  • Anete
    Responder

    Norma, agradeço o carinho por lá e vim deixar um grande abraço por este dia.
    Cada mulher c sua história e todas c desafios enormes… O papel da mulher é muito importante na família e na sociedade.
    Gostei do que li no seu texto, muito bom.

  • Ailime
    Responder

    Bom dia Norma,
    Um texto muito interessante que vem provar o quão difíceis ainda são as relações humanas e parentais e o quanto elas tem influência na nossa maneira de ser e estar.
    Bem verdadeiro o pensamento inicial.
    Um beijinho,
    Ailime

  • Kellen Bittencourt
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    Olá Norma, obrigada pela visita, excelente texto, promoveu uma boa reflexão para a data.

  • toninhobira
    Responder

    Boa noite Norma, como sempre uma bela reflexão sobre temas que incomodam e interferem diretamente no ser, sua maior preocupação e habilidade bem fundamentada. Muito interessante com seu depoimento e as inserções de pensamentos, que deixam bem claro a questão relação humana em toda suas extensão.É muito interessante chegar lá frente da vida e rever cada passo e saber que venceu e que muito ainda tem para caminhar e aprender e sendo mulher os caminhos não são tão floridos como se pensa e deseja. Seria lindo a vida de paz e amor, mas há uma sequencia de curvas e que muitas ainda capotam e não conseguem recuperar a pista. Ainda havemos de comemorar um dia Internacional da Mulher com menores números da violência e maior numero de ascensão nos quadros das empresas pela competência que cada ser tem, sem nenhum tipo de discriminação seja de sexo, cor e ou raça.
    Parabéns Norma pela garra e formação como pessoa que sabe os caminhos a trilhar sem perder a graça e a emoção.
    Bjs

Grata por sua visita sempre bem-vinda.

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