Um segredo em família

 

segredo 

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O segredo familiar aprisiona os indivíduos nas historias por não se poder falar sobre elas.  Paralisa o tempo familiar.

 O segredo nas palavras de Bernstein (apud Fernández, 1990, p. 101), “trata-se de informações vinculadas com a história do grupo familiar ou aspectos particulares de um de seus membros que, em geral, são ocultados parcialmente, com a certeza de que não são desconhecidos por outros integrantes”. “Complementando, IMBER-BLACK (1994) afirma que” é um fenômeno sistêmico. Ele está ligado ao relacionamento, molda as díades, forma triângulos, aliança encoberta, divisões, rompimentos, define limites de quem está ‘dentro’ e de quem está ‘fora’. 

 O desconhecimento das origens é considerado por muitos autores como um dos mais maléficos, pois desorientam, principalmente quando o indivíduo está em formação,  uma vez que se insere numa complexidade que envolve o intrapsíquico, o psicossocial e o transgeracional, bem como o passado, o presente e o futuro.

 Sua construção ocorre a partir de situações relacionadas à vergonha e  ao  sofrimento que geram pacto de silêncio.

 No filme Um segredo em família, o diretor Claude Miller recria o drama e os sentimentos de uma família no decorrer da II Guerra Mundial, num recorte trigeracional. A separação dos membros das famílias pela perseguição aos judeus é o pano de fundo para o desenrolar do roteiro.

 O menino, filho do casal desportista, nasce franzino e cresce sem se identificar com o mundo atlético de seus pais. A forma como encontrou de não se sentir como um peixe fora do ninho foi criar para si um irmão imaginário capaz de tudo. Na adolescência, ele percebe que há profundos e tristes motivos que o influenciaram a se sentir tão alijado do padrão dos seus pais. Os motivos que remontam a uma geração de sua origem antes do mundo conhecer os horrores do Nazismo.

 Imber-Black (1994), ressalta que “embora o próprio evento possa ser mantido em segredo, a intensidade dos sentimentos em relação a ele dificilmente se disfarça. (p. 76). Uma das conseqüências é o distanciamento emocional entre os membros pelo receio de não se trair. A percepção de que algo se oculta  transcende a fala e a força que impele à revelação transforma-se em fantasma trazendo, de alguma forma à tona, sintomas metafóricos.

 A revelação do segredo expande as possibilidades de evolução da família levando às mudanças na forma de pensar e agir e interagir.

Norma Emiliano

 

 Referências

 FERNÁNDEZ, A. A inteligência aprisionada. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.

 IMBER-BLACK et al. Os Segredos na família e na terapia familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

Comments

  • Meri Pellens
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    Amiga, como você fez para colocar a caixa de seguidores? Se puder me explicar ficarei megasuper agradecida.

    Quanto ao post, acho que na família não deve haver segredos para que haja sempre mútua confiança, embora tudo tenha seu momento e jeito de ser revelado.

    Beijos na alma!

  • Tetê
    Responder

    Oi, Norma… Segredos familiares são sempre problemáticos e, quando envolvem adoção, a coisa é braba mesmo! Obrigada pela visita ao Livre Pensamento! Fico feliz de encontrá-la em meu cantinho! Bjks Tetê

  • José Cláudio (Cacá)
    Responder

    Fantástico, Norma! Eu pessoalmente tenho uma experiência muito desagradável. Meu pai é filho de um outro homem que não é o meu avê que nos foi apresentado e nos acompanhou até a sua morte. Era uma vergonha admitir (ele nasceu em 1929) Imagine que escâncalo! O cara era um conceituado médico na cidade (e um depravado, né?). Só fui saber a verdade, por acaso, ouvindo conversas alheias, aos dezesseis anos e isso me marcou e doeu muito. Esse filme que você citou me fez lembrar outro semelhante, chamado O TAMBOR. Abraços grande. Paz e bem.

  • Isadora
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    Norma, concluímos então que a verdade, sempre a verdade nos conduz por campos verdejantes, ainda que nos faça sofrer no momento da descoberta.
    A verdade ajuda a fortalecer as relações.
    Um beijinho

Grata por sua visita sempre bem-vinda.

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