Simplicidade
Escolhi este conto por retratar momentos de simplicidade e recheados de satisfação; a sabedoria da felicidade do existir.
Essa era de tantos quereres, de felicidade na corrente do consumo, desperta-me o desejo de me inundar do simples, e parafraseando o autor Rubem Braga: do arroz, feijão, carne, alface, laranja, pão, tudo o que um ser humano necessita para viver bem. Ah! eu acrescento um bom café.
Venha! Aprecie o fumegar deste café, acompanhando a leitura.
Imagem google
A boa manhã
Apenas passo os olhos pelos jornais; jogo-os fora, alegremente, porque eles pretendem dar-me notícia de muitos problemas, e eu não tenho nem quero problema nenhum.
Acordei um pouco tarde, abri todas as janelas para o sábado louro e azul, e o mar me deu bom-dia. Passa um pequeno barco branco no mar de safira: como vai ligeiro, como vai contente, com seu bigodinho de espumas brilhantes! Uma ave se detém um instante peneirando, depois mergulha na vertical em grande estilo; quando volta, um pequeno peixe brilha em seu bico.
Chupo uma laranja, e isto me dá prazer. Estou contente. Estou contente da maneira mais simples – porque tomei banho e me sinto limpo, porque meus braços e pernas e pulmões funcionam bem; porque estou começando a ficar com fome e tenho comida quente para comer, água fresca para beber.
Nenhuma tristeza do mundo nem de meu passado me pega neste momento. Tenho prazer em ver que a Ilha Rasa está lá direitinha, em seu lugar, com o farol branco. Vejo ao longe, saindo da praia, dois amigos; estão conversando e rindo. Tomaram seu banho de mar, vão almoçar; estou contente porque os amigos vão bem e suas mulheres esperam crianças. Saúde e prosperidade! Estou contente porque recebi uma boa notícia. Nada de extraordinário, mas uma notícia muito simpática.
Sei que o mundo está cheio de horríveis problemas – e eu mesmo, pensando bem, tenho alguns bem chatos. Mas não estou pensando neles; estou vivendo nesta fresca manhã um momento de bem-estar, de felicidade.
Ora, considerando que a felicidade é uma suave falta de assunto, eu me despeço de todos com um cordial bom-dia e vou almoçar. Não quero contar prosa, mas tenho arroz, feijão, carne, alface, laranja, pão, tudo o que um ser humano necessita para viver bem.
Um velho amigo vem honrar a minha mesa; falaremos com simpatia das mulheres bonitas desta formosa capital. Conversa de brasileiros! Bom dia, passem bem todos com suas mulheres, com seus amigos, com suas amantes também.
Rubem Braga
(“Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século”)
Comments
Toninho
Tinha que ser Rubem, que maravilha de texto e como descreve bem as coisas simples e que podem fazer a felicidade de qualquer um que se deixe levar pelo lado simples da vida.Viver é mesmo esta emoção.
Mas o café eu tambem acrescento Norma.
Meu carinhoso abraço.
Uma linda noite para voce.
Bju.
Hana
Meu boa noite cheio de alegria. Eu sou luz e estou Hana, e reconheço a luz em vc… Hoje minha noite será especial, pois receber uma visita de uma ser tão maravilhoso, sabe em seu coment, me senti abraçada, e venho aqui me sinto aconchegada, por isso sei que a iluminação cultural esta com vc, a iluminação da generosidade esta com vc, uma delícia sentir bem num lugar e é assim que me sinto aqui. Minha gratridão por seu afeto lá no Harmonia. Aqui te leio, te re leio, te sigo e te persigo sempre que tiver um tempinho. Genteeeeeee adorei aqui.
Tenha um lindo dia amanhã pessoa maravilhosa!! E abração de urso!!! aquele abraçãoooooo bem grandão e bem apertado!!!!!!!!
Com carinho
Hana
Hana
opsss gratidão…rssssss!!
Beth Q.
Pois é, amiga, eu que estou enfiada numa roda viva de problemas à minha volta e que nem são meus, mas que acabam sendo, porque a gente ama as pessoas, se envolve com elas, dá de si, ri e sofre junto, não tem como não respingar na gente os momentos tristes. Mas, tento fazer como o escritor acima, e por isso subo minha montanha todas as sextas, vou lá me encher de energias da natureza e da tranquilidade que bebo em suas fontes.
Tenha um lindo final de semana.
beijinhos cariocas
josé cláudio – Cacá
Um dia ainda terei fôlego para fazer uma coletânea de Mário Quintana e Rubem Braga sobre coisas simples e felicidade. Acho que na literatura brasileira são os mais inspirados nisso da forma mais gostosa que há. Um na poesia e outro na prosa. Haverei!
Abraços, Norma. Paz e bem.