Você pergunta (8)

Eu respondo

Este post faz parte de um projeto, assim sendo dirijo-me a pessoa responsável pela pergunta, mas de forma a trazer reflexão para outras pessoas que se interessarem em ler.

Tenho um filho de 34 anos que não quer nada, nada de viver por suas próprias pernas. Quer continuar morando com os pais, descolando uns trocados através de pequenos serviços para gastar nas baladas e é só. Na idade dele eu já era pai dele e trabalhava duro, agora estou com 60 e acho que está na hora de eu procurar poupar recursos para a próxima fase de vida minha e de minha mulher. Não sei o que fazer, os outros caminham cada vez melhor, este nunca quis responsabilidade. Eu não tenho coragem de expulsar o filho, minha mulher é muito mais mole que eu e está aflita também com essa incoerência.
O que fazer?

A  resposta a esta questão não foi contextualizada,  portanto  vou abordar a questão baseada em minha experiência prática e na teoria sistêmica.

A  dependência reciproca  entre pais e fihos  irá manifestar-se como um foco em um dos filhos.” Haley

Congelamento familiar

Temos constatado um fenômeno crescente na sociedade atual que esta sendo denominado de “adolescência estendida” caracterizada  pela negação do jovem assumir responsabilidades e ser independente de sua  família.  É um momento que está além do desenvolvimento de maturação orgânica  do ser humano.

Na clínica observa-se a entrada antecipada da adolescência e em contrapartida a saída demorada.  O indivíduo nega a fase adulta e não assume suas responsabilidades diante da vida, mantendo-se  na dependência dos pais e emocionalmente impossibilitados de autorrealização.

Hoje crianças de 8 ou 9 anos se portam como mini adultos induzidos pela mídia na vestimenta e pela pressão familiar ao assumirem várias atividades direcionadas ao preparo para o futuro mercado de trabalho.  “As brincadeiras, atividades essenciais ao desenvolvimento do indivíduo, não têm mais espaço.” Assim quebra-se um elo.

Outro fator significativo e a forma como os pais tentam proteger seus filhos de frustrações, de enfrentar dificuldades e arcar com a responsabilidade dos seus atos gerando falta de autoconfiança do adolescente, bem como de valorizar o que faz, tendo como consequência o medo do futuro. Desta forma, estende-se  o período da adolescência,  evitando a responsabilidade inerente de ser adulto arriscando-se por sua própria conta.

Na família os eventos não são isolados e a situação possui uma função dentro deste contexto.  Os pais desejam que seus filhos cresçam sejam independentes, mas, paradoxalmente, têm grande dificuldade de abrir mão desta condição de cuidar dos filhos. Assim sendo, enquanto o filho continua dependente congela também os papéis de pai e mãe. Cria-se uma armadilha, pois a incapacidade construída do jovem ajuda os pais a não enfrentarem a fase do ciclo da vida familiar, que é a saída dos filhos de casa (ninho vazio), o reencontro do casal sozinho e a sua preparação para a velhice.

Cabe, portanto, rever atitudes que mantêm a situação, pois como observamos trata-se de uma trama familiar em que cada um dos membros tem sua cota de responsabilidade. Sugestões: em relação ao jovem citado não solicitar dinheiro aos pais, arcar com suas despesas pessoais, inclusive cursos e contribuir com a renda familiar. O casal ficar mais próximo realizando atividades conjuntas; cada um investir mais em si mesmo.

Em alguns caso, a intervenção profissional na família se faz necessária para que ocorra a novas conexões e o jovem possa seguir adiante.

Norma

Comments

  • chica
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    Tema interessante…

    cada filho é um filho…
    Criados iguais, vivendo juntos e tantas diferenças…Cada um parece ter SEU tempo de crescer.Ainda que nos deixemloucas, é assim…
    O bom é que a vida, DE UM OU OUTRO JEITO, os faz crescer.

    Chega a hora em que dá im clic e a coisa se arruma…

    um lindo dia,beijos,chica

  • Yasmine Lemos
    Responder

    O núcleo familiar seja em qual formato esteja é ponto de base,mas forçar a mudança quando somos (no caso os pais) contribuintes para a ociosidade depois de tanto tempo,fica complexo.Longe de julgar,sei que criação é peculiar a cada “tribo” e vejo muitos aqui também assim ,sempre aparando as asas para ninguém vê-las já formadas e pedirem para alçar voo

    Um beijo Norma e um bom dia para todos.

  • marli soares borges
    Responder

    Bom dia, Norma,

    Caso sério esse. Não sei não, mas 34 anos é idade adulta, na qual se faz presente o direito-dever de prover o seu próprio sustento. Que tal se os pais suprimissem a mesada? Que aconteceria? É pagar para ver! Ou melhor, não pagar… deixar sem grana mesmo!!

    Sei, sei, parece simples. Mas não é. Seria certo agir assim? Seria, a meu ver.

    Acontece que a passagem do tempo fez surgir um problema jurídico muito sério, e que ultimamente tenho visto acontecer amiúde. Nesse embalo de eternizar a adolescência ‘os provedores’ leia-se os pais, envelhecem e a situação toma outros contornos… Mas a lei civil brasileira pode ajudar a resolver essa questão. Se após todas as tentativas, digamos, psicológicas, sociológicas, sei lá, falharem, penso que seria oportuno consultar um advogado e tentar uma solução jurídica para o caso. Muitas vezes só uma conversinha transparente, do filho com o advogado dos pais, oportuniza a mudança sem que seja necessário acionar diretamente o Judiciário. Também não faz inimizades, pois não joga uns contra os outros. É preciso pôr os pingos nos is. Assim como está, a situação tende a piorar. É como vejo. Lembrando as palavras do grande filósofo e jurista italiano Carnellutti: “Si la razon non sirve por si sola, habra que usar la fuerza”.
    Espero ter contribuido, foi essa minha intenção.
    Bjsssss

  • Luzia
    Responder

    Oi querida,
    Ser mãe e pai não é uma tarefa fácil, embora deliciosa. Optei em fazer o melhor que posso, sempre! E acredito que cada um tem seu papel. Não tenho a culpa no nosso meio e acredito que nos ajudará muito. Procuro fazer o melhor (de forma embasada e emocional) e estou apostando nisto,,,
    Cheiro

  • Beth Q.
    Responder

    Norma!
    O tema é excelente, pois hoje em dia estamos presenciando mesmo esta adolescência esticada dos filhos, principalmente os de classe média com conforto e facilidades dentro de casa.
    Terapia nestes casos ajuda muito, clareia idéias para ambos os lados e se não funcionar, a idéia da Marli aí em cima, é excelente. haha
    umbeijo grande carioca

  • lu olhosdemar
    Responder

    eu não entendo gente assim. eu sempre pelejei pra me diferenciar e levar minha vida por conta própria e vejoe stes marmanjos encostados… os italianos os chamam de ‘mamonis’ sabia?? rsss um beijo!!!

  • Neno
    Responder

    Olá,vim agradecer a visita!!!
    Desejo um ótimo dia pra ti !!!
    Bjs do Neno

  • Rute
    Responder

    Querida Norma,

    adorei este post!!!!
    «Adolescência antecipada e Adolescência estendida»
    (aiiiiiiiiii, vc podia deixar incluir este artigo na 3ªfase da BCFV!!!! Peça autorização para quem fez a pergunta. Vai…)

    Bom, mas vim aqui para comentar, certo!
    Confesso que sou muito critica em relação à adolescência estendida. Conheço vários casos, e um deles muito próximo.

    A “culpa” não é só do filho/a. É também dos pais (já para não dizer, maioritariamente, dos pais!).

    Ser progenitor é criar mas é também, educar para a vida adulta. Apesar de todos os conflitos que tive na adolescência, com minha mãe, estou convicta que ela exerceu muitissimo bem, e sozinha, esse papel de educar para a maioridade.

    Logo cedo, foram-me exigidas bastantes responsabilidades:

    »»Minha mãe começou por me responsabilizar pelos resultados da escola (ela não vigiava nem minhas notas, nem meu estudo. referia várias vezes, o que fizeres, para ti é);

    »»De seguida responsabilizou-me pelos gastos superfulos, como estar ao telefone com as amigas horas sem fim, tomar banhos demorados e gastar água, esquecer das luzes acessas… e como fez ela? Assim que comecei a ganhar dinheiro, nas férias, obrigou-me a comparticipar nas despesas;

    »»Por fim, também desde cedo, tive de ajudar na lida da casa, na confecção das refeições, no arrumar da roupa e objetos pessoais. Todo o sábado, eu tinha de limpar a casa duma ponta à outra. Sujeita a vistoria, terminada a fascina!

    Parece regime militar? Mas não era não. Aos poucos foi-me danda a liberdade que eu queria.
    Beijinhos,
    Rute
    (continuo a adorar esses termos que vc usou: A. antecipada e A.estendida)

  • C.
    Responder

    Olha Norma, quando cai a ficha desses filhos é de dar pena. Tenho um irmao que viveu exatamente nessa condicao, e quando meus pais faleceram, chegou a dar pena viu. Fazer o quê!

  • Gina
    Responder

    Norma,
    Esse relato me deixou bastante reflexiva.
    Acho que estabelecer um tempo para tomar as rédeas de sua própria vida é uma solução para não cortar de imediato a provisão. Pelo lado do filho, seria também um tempo para refletir e saber que a situação está incomodando os pais.
    Estou gostando de ver os diferentes pontos de vista.
    Já coloquei o link no post da adolescência, que veio levantar uma questão não abordada pelos participantes, a adolescência estendida.
    bjs.

  • Norma Emiliano
    Responder

    Oi Gina
    Vc tem razão quando se refere a questão do tempo a se estabelecer, mas paralelo podemos ter o que extrapola: as atitudes dos pais que super protegem e inconscientemmente querem ter o filho a sua volta e dos filhos que acabam não se reponsabilizando por sua vida, seus atos. É diferente vc dar apoio por um ttempo.
    bjs

  • Roselia
    Responder

    Olá, querida Norma
    “Na ternura de um amanhecer,
    Eu observei a beleza do orvalho”.
    (Sandra)

    Ter vc na lista da BCFV é uma alegria e o “problema”/ situação que vc desenvolve em seu post acontece nas “melhores famílias”…
    É questão não só de tempo como também de tantos outros detalhezinhos onde as duas partes estão altamente envoltas… muitas vezes um quer romper a dependência e o outro não consegue… e vice versa…
    É muito complicado!!!
    Como tenho esperança indestrutível em meu coração (dom) tenho a certeza que tudo acaba bem…

    “…é o molhar do orvalho quem vê meus passos…
    é minha vida me chamando pra viver”
    ( Fractais de Calu)

    Tenha um excelente fim de semna de paz e alegria.
    Bj com gosto de adolescência (o lado bom dela).

  • Betânia Torres
    Responder

    Olá, Norma,

    que situação a desses pais! Que situação desse rapaz! Essa adolescência estendida a que a classe média submete aos jovens com tantos mimos e proteção é um caso sério e daqui há pouco vira um problema social e não apenas da família.

    O sofrimento que esses pais vivem vendo o filho sem tomar seu próprio rumo é dramático. Por outra, penso que a dificuldade de dizer “não” um não de verdade, sem culpa, faz a situação também se estender e não se resolver. Embora, conselho seja bom pra se dá, como diz o dito popular. Mas me coloco na situação e lembro de todas as dificuldades que tenho para dizer um não de verdade, sem arrependimentos e sabendo porque estou a dizê-lo, sem voltar atrás.

    Por outra, se os pais podem seria bom a ajuda de um profissional para a construção de uma solução acertada, embora é sabido que ainda assim nada vai impedir os conflitos e tensões. É melhor encará-los com sabedoria, decisão e afeto. Sem medo ou culpa. Com certeza esses pais vão encontrar um bom caminho e o seu filho de 34 anos, a sua autonomia, a cooperação, a responsabilidade, a auto-estima.

    Um abraço,

    Betânia

  • Nina
    Responder

    Oooohh caso complicado! Sempre tem um filho que dá um pouco mais de trabalho, nao é? Acho que certas vezes tem a ver como nós, pais, tratamos os nosso filhos,algumas vezes, fazemos diferencas entre eles, e isso pode ter grande influência sobre suas atitudes.
    Bom, aqui Norma, tinha um programa que se chamava algo como: basta com o hotel da mamae!
    Um belo dia o filho chegava em casa e todas as suas coisas haviam sido retiradas de casa e ele tinha que se virar! Claro que é tv, e tinha um pscicólogo do lado, mas o lance é mais ou menos esse, tá na hora de botar o filhinho da mamae pra se virar, e a mae tem que ser MUITO dura e perseverante.

    Difícil né?!

  • Marcia
    Responder

    Estou vivendo essa situacao e com muito sofrimento, pois sei o meu grau de responsabilidade mas nao e tao facil como parece,sem condicoes de pagar um psicologo que sei que meu filho precisa. Tem 22 anos, nao quer compromisso nem responsabilidade, eu tenho 42, trabalho desde os meu 13 anos de idade e sei o quanto e profundo e verdadeiro o que foi dito. Ele morou 4 anos sozinho, por vontade propia foi para um outro estado e vejo o quanto nao amadureceu emocionalmente, ontem tive uma crise de choro, pois ja nao sei como lidar com a situacao, muita dor, quando ele me viu nesse estado me pediu, desculpas, me prometeu mudancas como em todas as vezes que conversamos, e prometeu de estar aqui para passarmos os dia juntos e nem voltou para casa. Mente, so quer saber de balada, nao me ajuda em nada, e ja consegui deixa-lo se virar mas nao funciona, Tentou suicidio por um relacionamento que acabou , ele nao se conforma, nao respeita minhas dificuldades. Nao sei mais o que fazer amo ele muito, mas nao estou aguentando mais viver nesta agonia.

  • Ana
    Responder

    Marcia,
    Também passo por um problema parecido com o meu filho.
    Mas vou te dizer algo: se apegue com Deus pois pra Ele nada é impossível.

Grata por sua visita sempre bem-vinda.

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