Separação

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Os efeitos das separações/divórcios não são os mesmos para todas as pessoas, no entanto esse é um processo doloroso  que envolve ambiquidade de sentimentos. Nas palavras de  Berger, 2003 “é  mais fácil ao psiquismo humano inventar foguetões com destino à lua do que aceitar uma separação”.
Nos desfechos amorosos pela separação há a perda dos sonhos, das expetativas e  de uma história compartilhada. Assim sendo muitos casais relutam em não ter esperanças de que algo vai melhorar. É um momento de crise levando a  uma reação de luto ( incertezas, nostalgias, depressão, inadequação).

Na crônica e soneto de Vinicius de Moraes sobre separação, encontramos um enfoque poético que nos permite caminhar nos tortuosos sentimentos que essa dinâmica provoca.

 

Separação (crônica)

Voltou-se e mirou-a como se fosse pela última vez, como quem repete um gesto imemorialmente irremediável. No íntimo, preferia não tê-lo feito; mas ao chegar à porta sentiu que nada poderia evitar a reincidência daquela cena tantas vezes contada na história do amor, que é história do mundo. Ela o olhava com um olhar intenso, onde existia uma incompreensão e um anelo, como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não fosse e que não deixasse de ir, por isso que era tudo impossível entre eles.

Viu-a assim por um lapso, em sua beleza morena, real mas já se distanciando na penumbra ambiente que era para ele como a luz da memória. Quis emprestar tom natural ao olhar que lhe dava, mas em vão, pois sentia todo o seu ser evaporar-se em direção a ela. Mais tarde lembrar-se-ia não recordar nenhuma cor naquele instante de separação, apesar da lâmpada rosa que sabia estar acesa. Lembrar-se-ia haver-se dito que a ausência de cores é completa em todos os instantes de separação.

Seus olhares fulguraram por um instante um contra o outro, depois se acariciaram ternamente e, finalmente, se disseram que não havia nada a fazer. Disse-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de secionar aqueles dois mundos que eram ele e ela. Mas o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido, sem se poder mover do lugar, sentindo o pranto formar-se muito longe em seu íntimo e subir em busca de espaço, como um rio que nasce.

Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia do momento, mas o fato de sabê-la ali ao lado, e dele separada por imperativos categóricos de suas vidas, não lhe dava forças para desprender-se dela. Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara desde sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrível e dolorosa busca. Sabia, também, que o primeiro passo que desse colocaria em movimento sua máquina de viver e ele teria, mesmo como um autômato, de sair, andar, fazer coisas, distanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais. E no entanto ali estava, a poucos passos, sua forma feminina que não era nenhuma outra forma feminina, mas a dela, a mulher amada, aquela que ele abençoara com os seus beijos e agasalhara nos instantes do amor de seus corpos. Tentou imaginá-la em sua dolorosa mudez, já envolta em seu espaço próprio, perdida em suas cogitações próprias – um ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas.

De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas, correu para a rua e pôs-se a andar sem saber para onde…

 (Vinicius de Moraes –  Para Viver um Grande Amor)

 

Soneto da Separação

dvgil
9 de novembro de 2007
 
A terapia do divorcio objetiva a ajudar a redução da dor e a desordem, bem como maximizar a capacidade de cada um dos envolvidos para uma vida com qualidade (reestabilização e crescimento).
A decisão  é dos pacientes, mas o terapeuta pode ajudar o casal  a explorar as consequências e a  perceber que cada um dos parceiros  faz parte do processo decisório.
Norma Emiliano

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