Desejo

Quero saber o que você deseja ardentemente, se você se atreve a  sonhar em encontrar os desejos do seu coração.” Oriah Mountais Dreamer.

Esta publicação foi minha participação em uma blogagem coletiva, Sentimentos e Emoções, da nossa querida e saudosa Glorinha, do blog Café com bolo, em 2010, com o tema Desejo  

 Nós, humanos, somos seres desejantes. A pulsão (impulso) e o desejo nos diferenciam dos animais, seres de puro instinto e de necessidade.

Segundo  Garcia-Rosa, “o desejo jamais é satisfeito“, pois nas palavras de Lacan “O  desejo é sempre o desejo de um outro desejo que se manifesta a partir da demanda “(solicitação de uma presença ou ausência).

Conforme o entendimento pela psicanálise, desejo não é a mesma coisa que a necessidade, conceito biológico, natural, que implica uma tensão interna que leva o organismo à redução dessa tensão ou satisfação (autoconservação).  Segundo a Teoria de Maslow, as necessidades humanas podem ser agrupadas em cinco níveis: fisiológicas, sociais,  de segurança, estima e autorealização.

No sentido epistemológico, desejo  é um tipo de atitude mental  (Dicionário Wikipédia);  de ordem puramente psíquica (fantasma ou  fantasia). “O efeito do desejo arcaico inconsciente é matriz dos desejos atuais, conscientes e inconscientes.” CHEMAMA, 1995.

Muitos sofrimentos surgem  por esta falta de discernimento entre desejos e necessidades,  na ocasião em que alguns desejos não são saciados.

Em sintonia com a nossa temática, assisti  ao filme  O preço da traição em que o desejo é o elemento principal. Uma médica e um professor são,  à primeira vista, o casal perfeito que parece ter uma vida idílica. Mas em função de algumas situações a mulher começa a suspeitar do marido.  Para pôr em xeque a sua fidelidade, ela decide contratar uma acompanhante para seduzi-lo.

Dias depois, a pessoa contratada confirma as suspeitas da  mulher  relatando seu primeiro encontro com ele.  A esposa sofre com os detalhes, mas aumenta seu envolvimento,  pedindo que a garota continue o plano. Fica evidente que a médica está dividida e não consegue esconder sua excitação ao ouvir os relatos. No desenrolar dos acontecimentos, ela envolve-se sexualmente com a garota  com o desejo de resgatar a intimidade  anterior que tinha com o marido. Enfim, levada pela suspeita da infidelidade, trai,  redescobre a chama de sua paixão e,  ao confrontar- se  com o  marido, percebe que ele não se relacionou com a garota e nunca a traiu.

Ambos concluem que foram se distanciando aos poucos e direcionando seus desejos a outros objetos, deixando o vazio entre eles.

A realidade do mundo, dos acontecimentos e dos fatos frustra nossa capacidade desejante. Definir o que se quer, e não criar grandes expectativas possibilita traçar caminho e a não “permanecer” onde não se deseja.

Referência bibliográfica

CHEMAMA, R. Dicionário de psicanálise. P. Alegre: Artes Médicas, 1995.
LACAN, J.  O seminário: mais ainda, livro 20. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
GARCIA-ROZA, L. A. O mal radical em Freud. Rio: Jorge Zahar, 1990.

Grata por sua visita sempre bem-vinda.

Comments

  • chica
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    Que bela participação, lá de tantos anos naquele blog da Glorinha! E pena quem sofra por não conseguir alcançar realizar seus incessantes desejos. Há quem nunca se contente! Linda semana! beijos, chica

  • rudynalva
    Responder

    Norma!
    Linda sua participação.
    Desejo é algo potente e motivador.
    cheirinhos
    Rudy

  • larlinho
    Responder

    Boa tarde, Norma!

    Este é o tempo em que a mídia, incansável, empurra desejos como se necessidade fossem. Causam problemas e distúrbios vários. No entanto, o segredo essencial para não desquilibrar na nossa jornada existencial é sintonizar nossa frequência com o discernimento entre querer e precisar.

    Beijo e gratidão pela delicadeza com que aceitou meu convite!

  • Rosélia Bezerra
    Responder

    Boa tarde de paz, querida amiga Norma!
    Ah! Que saudade da Glorinha, amiga ímpar que tanto nos provocou no mundo virtual com BCs lindas e edificantes!
    Num âmbito mais elevado, um mestre espiritual ensinou que temos que ter pelo menos o desejo de desejar.
    Não “permanecer” onde não se deseja.
    A maioria dos humanos são acomodados e ficam onde estão por ser mais fácil, o comodismo os impede de alçarem voos em busca de realização pessoal. Preferem matar a sede com goles e não com copo cheio.
    Resultado é pessoas infelizes, mantendo aparências sem sentido.
    Grandes Desejos movem os grandes de mente e coração.
    Tenha uma nova semana abençoada de paz!
    Beijinhos carinhosos e fraternos

  • toninhobira
    Responder

    Interessante a proposta e sua participação no tempo ficou ótima Norma.
    É a velha pergunta: O que te faz feliz?
    Creio muito em auto realizações que estão acima dos desejos que carregam em si uma carga de insatisfação após realizados, daí a afirmativa de que nunca cessam.
    Uma amiga que se foi e deixou suas marcas.
    Uma feliz semana com belos olhares e inspirações.
    Beijo de paz amiga.

  • Ailime
    Responder

    Boa tarde Norma,
    Uma participação muito boa e completa por quem sabe do que fala.
    Gostei de ler sua reflexão que acrescenta muito ao meu conhecimento.
    Grata e um beijinho.
    Ailime

  • Olinda Melo
    Responder

    Olá, Norma

    Gostei muito de ler este texto que se foca na distinção entre desejo e necessidade. Existe realmente essa confusão nas nossas vidas e nas nossas cabeças. Penso que muitas vezes nem discernimos se o que sentimos é um ideal de realização ou uma necessidade “tout court”.
    Uma belíssima participação e agradeço o tê-la trazido para nossa leitura.
    Bom resto de semana.
    Beijinhos
    Olinda

  • taislc
    Responder

    Que ótimo texto, Norma!
    Recentemente, vi uma live de uma senhora que recebeu visita de uma pessoa que foi fazer uma reportagem sobre sua vida: mulher com mais de 60 anos, morava sozinha na antiga casa dos pais, já falecidos, viúva, também. Mostrou sua casa, suas coisas, seu enorme sítio, seu artesanato que adorava fazer, sua casa cuidade, sua vida de muita simplicidade, não de pobreza. E o principal, seus dias são cheios e é uma pessoa serena e feliz. Tudo está certo, vai levando sua vida dentro do que tem e da honestidade. Não há rolo em sua vida. Convive com o que tem, só cuida muito de sua saúde física e mental. Difícil encontrar isso. Na verdade, o ser humano quando não tem algum rolo para azucrinar sua vida, el cava, vai atrás do rolo.
    Foi muito bom ter visto uma pessoa dentro de seu equilíbrio emocional.
    Uma ótima semana, com saúde.
    Beijo

  • pedro luso
    Responder

    Olá, Norma. muito interessante essa sua postagem sobre o desejo, passando pela psicanálise de Lacan, quem sabe também de Freud, indo desaguar no filme em que o desejo é o centro da História.
    Gostei muito do relato sobre o filme também, numa história que certamente interessou e poderá interessar ainda muitos psicanalistas, freudianos ou não.
    Uma ótima semana pra você, com saúde e paz.
    Um abraço

  • rudynalva
    Responder

    Norma!
    O desejo é o maior impulso para irmos em busca dos nossos sonhos, embora por vezes nos sintamos frustados.
    cheirinhos
    Rudy

Grata por sua visita sempre bem-vinda.

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