“Sobre árvores e escolhas”

“Você é livre para fazer suas escolhas, mas prisioneiro das consequência.” Pablo Neruda

Diariamente fazemos escolhas e algumas são automatizadas, mas me deparei com um conto africano que nos aponta  como é importante da consciência e  da responsabilidade de se  assumir as escolhas na vida.

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A grande árvore

Um conto Kikuyu da Africa Oriental
Tradução: Renata Moerbeck

Ao lado da entrada do vilarejo havia uma árvore enorme. Era diferente de todas as outras árvores no bosque. Tinha um tronco muito forte e grosso. No seu topo havia alguns galhos muito finos com poucas folhas. O povo dizia que havia algo de muito errado com aquela árvore. Apesar de ser tão forte, dava muito pouca sombra. Sua madeira macia quase não tinha utilidade. No entanto, era a maior árvore na região. É verdade que tinha algumas frutas, mas não eram muito saborosas. Pobre árvore! Deve ter sido um erro da natureza!

Em uma noite de primavera, logo depois da chuva, as crianças se reuniram ao redor da fogueira como de costume. Watiri veio juntar-se a elas segurando Mama Semamingi pelo braço. Sentou a avó em um banquinho, enquanto Kamalo atiçou o fogo e todas as crianças se aproximaram.

‒ Que história querem ouvir hoje, crianças? ‒ perguntou a avó.
‒ O que a senhora quiser nos contar! ‒ respondeu Wakai.

Mama Semamingi olhou a sua volta. Quando seus olhos avistaram a grande árvore tão alta e forte em contraste com o céu africano, ela sorriu e disse:

‒ Já sei qual será nossa história de hoje!
‒ Qual? ‒ todos perguntaram.
‒ A história da grande árvore. Vocês sabem como ela se chama?

Não sabiam. Então a avó ensinou:

‒ Chama-se baobá!
‒ Conte-nos a história do baobá! ‒ gritaram, então, as crianças e Mama Semamingi começou…

No começo dos tempos, quando as pedras ainda não tinham endurecido, o grande deus Mungu fez os animais e as plantas. Alguns animais tinham pernas e outros tinham asas, e todos podiam ir e vir de alguma forma. Para eles escolherem um lugar onde viver era fácil. Era só eles se moverem.

Com as plantas já era bem diferente. Elas eram firmemente presas à terra por raízes, e precisavam ficar onde Mungu as colocava pelo resto de suas vidas. Por essa razão, o grande deus teve pena das plantas e permitiu que escolhessem onde queriam viver.

Uma das árvores mais poderosas criadas no começo dos tempos era o baobá. Era uma árvore linda, tinha um tronco forte e sua copa parecia uma grande e bela cabeleira feita de folhas verdes e brilhantes.

‒ Onde você quer viver, baobá? ‒ perguntou Mungu.
‒ Coloque-me no baixo vale, onde é mais quente. Não quero que minhas belas folhas morram congeladas ‒ respondeu a árvore.
‒ Muito bem!

E o grande deus levou o poderoso baobá e plantou suas raízes no solo do baixo vale, onde o clima era mais aquecido. As chuvas vieram e o baobá cresceu. Sua copa tornou-se ainda mais densa e bela.

Então veio a época da seca. Cada novo dia era mais quente que o anterior. As belas folhas começaram a murchar e muitas cairam ao solo. Então a árvore olhou em direção ao alto da montanha e gritou bem alto:

‒ Mungu, me ouça! Estou morrendo de calor. Não posso mais viver no baixo vale onde a brisa fresca não sopra. Aiiiii! Aiiiiii! Não aguento mais.

O grande deus ouviu o baobá:

‒ O quer que eu faça? ‒ Mungu perguntou.
‒ Tire-me daqui, por favor. Leve-me para o alto da montanha onde é mais fresco. Não consigo viver aqui nem mais um dia. Aiiiii! Aiiiiii!

Então Mungu teve pena da árvore, mandou um forte vento levantá-la do solo e levá-la ao alto da montanha onde era mais fresco, e replantou-a. Por algum tempo o baobá sentiu-se feliz. Suas folhas pararam de murchar. E a brisa fresca soprava a seu redor…

Depois, vieram as chuvas novamente. O céu escureceu, e o sol não apareceu por vários dias. O baobá tremia de frio, suas folhas verdes começaram a congelar. Mais uma vez, ele gritou bem alto:

‒ Mungu, ouça-me. Estou morrendo de frio. Não posso viver no alto da montanha onde o sol não brilha e o vento e a chuva são tão frios que congelam minhas folhas. Aiiiii! Aiiiii! Não aguento mais!

Mais uma vez Mungu ouviu o baobá. Mas desta vez quando apareceu, Mungu estava com uma cara muito feia:

‒ O que você quer agora? ‒ Mungu perguntou à árvore.
‒ Por favor, ó grande deus, me leve de volta para o baixo vale. É melhor o calor do que o frio. Aiiiii! Aiiiii! Estou congelando.
‒ Muito bem, mas será pela última vez! ‒ disse Mungu bravo.

Ele então enviou um vento muito forte que arrancou a enorme árvore de onde estava e a levou novamente até o vale. Lá ele cavou um buraco enorme e replantou o baobá de cabeça para baixo com suas raízes retorcidas agora no alto de seu tronco.

‒ O que está fazendo? ‒ perguntou o baobá ao ver o solo fechar sobre suas belas folhas.
‒ Estou replantando-o com sua boca pra dentro da terra, para não ser mais perturbado por tantas reclamações, disse Mungu.

E a avó terminou dizendo:

‒ Por isso os baobás crescem de cabeça pra baixo até os dias de hoje…

Texto original: Dresser, Cynthia (1998). The rainmaker’s dog: International Folktales to Build Communicative Skills.

Estamos num momento crucial de escolhas políticas em nosso País, assim sendo não sejamos baobá, pois após o “leite derramado” não adianta reclamar.

Norma Emiliano

Grata por sua visita

Comments

  • toninhobira
    Responder

    Conheço esta arvore, não nesta forma. Beleza de conto Norma e que aprendamos a agirmos conscientes de nossas opções e escolhas e se tratando de politica no Brasil sou meio descrente com todos eles, pois para mim são todos herdeiros de um sistema arcaico corrupto. Penso que estamos fritos como se diz, pouca escolha e nenhuma saída gloriosa. E já vejo polarização por todos os lados, porque nenhum candidato consegue vencer sem as alianças. As alianças vem com propostas indecorosas e dá no que deu e ainda anda dando. Que Deus ilumine o Brasil nesta hora.
    Gostei do texto e partilha.
    Um bom fim de semana com paz e alegria.
    Beijo amiga.

  • chica
    Responder

    Que maravilhoso esse conto. Bela reflexão ele permite e gostei de tua colocação ao final, bem oportuna! beijos, lindo fds! chica

  • roseliabezerra
    Responder

    Boa Tarde, querida amiga Norma!
    Uma coisa horrivel tem sido este momento político e eu, como funcionária pública aposentada, estou prestes (como todos os da minha condição) a engolir certos pacotes deste governo falido nosso e ficar entalada sem poder fazer nada.
    Estou sem opção para o dia 7… lástima tremenda!
    Deus te abençoe muito!
    Bjm carinhos e fraterno de paz e bem

  • Celina Pereira
    Responder

    Boa tarde, Norma!
    Muito oportuna a história que narra!
    Traz ótimos motivos para refletirmos.
    Tenha um bom fim de semana!

  • Ailime
    Responder

    Boa tarde Norma,
    Um conto muito belo, que gostei imenso de ler e que nos leva a uma boa reflexão.
    As escolhas têm que ser bem pensadas, mas nem sempre assim acontece.
    Desejo que a escolha do próximo domingo seja a que melhor possa servir os interesses do povo do Brasil, que bem merece.
    Beijinhos,
    Ailime

  • Diná Fernandesempoedot
    Responder

    Olá Norma, ando em falta com vc, desculpe, estou na correria agilizando meu tratamento (CA de mana) sem muito tempo para visitar os blog. O conto eu já conhecia, sempre bom reler algo que nos faz refletir profundamente sobre nossa vida e principalmente por nossas escolhas.
    Grata pela ótima leitura.
    Bjss!

Grata por sua visita sempre bem-vinda.

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