Ser invisível

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O indivíduo superficial e inexpressivo, sem sentido de vida, percebe-se mais pelos objetos desejados que incorpora do que pelas relações que estabelece.

O pertencimento é invólucro vital do bem-estar do ser humano. A inserção do homem no mundo é realizada por redes que lhe dão suporte físico e emocional à construção da sua identidade. É na relação entre o eu e o outro que se constrói a identidade do eu.  Em suas diversas interações o indivíduo aprende a lidar consigo mesmo e com a vida e é através do outro que se realiza o reconhecimento. Contudo, hoje, para muitos é difícil responder: “Quem sou eu?”.

As últimas décadas trouxeram importantes transformações em todos os âmbitos: informação em tempo real, globalização da economia, realidade virtual, da Internet, etc., acarretando pouca solidez e permanência nesse mundo globalizado (Hall, 2002; Woodward, 2000). A atualidade apresenta uma mudança na estrutura das relações e de reconhecimento provocando sentimentos de angústia, solidão e, muitas vezes, de humilhação.

A mediação da vida social pelo mercado global de lugares, estilos e imagens, pelos sistemas de comunicação interligados e pelas viagens internacionais tornam as identidades cada vez mais desvinculadas. A partir dessa premissa todos são invisíveis até que as singularidades sejam reveladas. Por outro lado, o consumismo e a influência da mídia imprimem novos valores e as pessoas passam a ter destaque, a serem reconhecidas por aquilo que consomem.
 
Nessa perspectiva, a identidade para existir depende de algo fora dela, que forneça condições de ela existir, sendo assim, marcada pela diferença e mantida pela exclusão demarcando-se a oposição entre nós/eles; eu/outro.  Nesse contexto, como existir a conexão e o reconhecimento do si mesmo e do outro? Quanto se deixa de ver em relação ao que acontece consigo próprio, ao redor e com o outro ao seu lado? Dessa forma, surgem muitas questões e conflitos intra e interpessoais, os relacionamentos tornam-se efêmeros e descartáveis e  as pessoas tornam-se invisíveis.

São muitos estímulos, informações e demandas, o homem se perde da condição humana de “poder ver além” do que as pessoas são, no mundo aparentemente visível, ver além do que as outras pessoas são capazes, na invisibilidade da aparência.  A invisibilidade marca esses tempos, urge um repensar sobre a crença de que os culpados são sempre os outros, quando na realidade todos são  (co)-responsáveis.

 Diante de tantas poluições o olhar perde a pureza curiosa da criança. E resgatando as palavras de Padre Antonio Vieira “ o maior apetite do homem é desejar ser. Se os olhos vêem com amor o que não é, tem ser”.

 

Referência bibliográfica

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 7. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.

WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In: ____. Identidade e diferença: a perspectiva dos Estudos Culturais. Petrópolis: Vozes, 2000. p. 7- 71.

Norma Emiliano

 

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