Perigo à vista

Tendências são construídas. Não são obra do acaso. Elas são fundamentadas em fatos do presente. Fatos são gerados por países, empresas, pessoas – através de ações de estadistas, executivos, cientistas, empreendedores.”  Oscar Motomura (1990)

A natureza é perfeita. Todos os seus elementos funcionam de maneira sincronizada. Isto não é novidade, mas esta plenitude não vem tendo a devida atenção do ser humano.

O homem, ao longo dos séculos, tem evoluído em seu saber científico e tecnológico proporcionando poderosos benefícios à humanidade.  Entretanto, a tecnologia penetra na vida das pessoas de modo tão veloz, que não lhes permite medir seu impacto em seus relacionamentos. Por outro lado, constata- se que ela vem trazendo situações alarmantes ao ecossistema, como por exemplo o desequilíbrio no aquecimento da terra, tendo em vista  grandes emissões de poluentes para a atmosfera.

A tendência de “se correr atrás do ter em detrimento do ser” tem sido predominante e o sentido da vida mensurado pelo prazer de ter. O homem, apesar de ser pensante, deixa – se conduzir. Momentos de lazer, de privacidade são interrompidos pelas chamadas telefônicas dos celulares em nome “dos grandes negócios.”

Vivemos um paradoxo. Hoje, há um grande descuido. Não há por parte do homem o cuidado de si mesmo, da vida das crianças, da vida dos idosos, dos ecossistemas, da saúde coletiva. A aldeia global, a interatividade, a proximidade dos povos, a informação intensa e veloz em vez de trazerem a plenitude ocasionam o vazio pessoal e o aumento das desigualdades sociais.

Nesse caminhar do usufruto do prazer de ter e da prática do descuido, deparamo-nos com os sentimentos de depressão, angústia e solidão que levam os indivíduos a recorrem às terapias por não conseguirem se relacionar ou por sentirem insatisfação constante. Mas, se pensarmos na teia da vida, na teia relacional, o mistério se desfaz. Por quê? Porque boas interações só ocorrem na medida em que se tem prazer de se estar consigo mesmo. Sentimento de satisfação ocorre se soubermos realmente o que desejamos. Porém, como ter prazer de estar com alguém que não conhecemos, como sentir satisfação com alguém que vive fora de si, que não é intimo de si mesmo e que só sente a “felicidade” no ato de ter?  Além disto, há pessoas que crêem que os outros são a sua própria extensão, que pensam, vêem e sentem como elas próprias. Constantemente, frustram- se e sentem- se desrespeitadas, pois não percebem as diferenças pessoais.

O indivíduo atribui significados ao seu ambiente social e esses agem como guia de conduta. O homem está em constante transformação, construindo-se a si mesmo. As relações sociais, da infância até a velhice, desempenham um papel essencial nessa construção. Assim, na medida em que cada um dos indivíduos tomar para si a responsabilidade pelo bem-estar, desenvolver o interesse pelo conhecimento pessoal, tiver mudanças de atitudes em relação ao próximo e em relação a si mesmo, bem como desenvolver uma “ética do gênero humano” poderemos ter um melhor prognóstico “de que sairemos do caos e começaremos, talvez, a  civilizar a terra.”  Edgar Morin.

Norma Emiliano

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