Perdas – Nina

Desenho da Nina

Mais um encontro, mais um enfoque sobre Perdas.  A amiga Nina, do blog  entremãeefilha, nos traz  seu relato.

 

Traição de relações vitais, abandono pelas pessoas encarregadas de seus cuidados e aniquilação da segurança familiar  básica.”  (Summit)

                                                                                                       

A perda da inocência

E são tantas as perdas…

Apesar de muitas, cada uma parece ser única, e mesmo que tenhamos muitas perdas pelo caminho, é como se cada uma fosse a primeira vez, de tanto que dói.  O interessante é notar que cada perda parece vir sempre acompanhada de algum ganho. Mas isso só o tempo nos mostra com clareza

 Mas existem perdas que marcam de tal forma que não parece haver um ganho nunca, passe o tempo que passar, você nunca consegue enxergar um lado bom nisso tudo. Vejo a perda da inocência, como uma dessas grandes perdas.

 Quando alguém rouba aquilo que era pra ser, obrigatoriamente, uma linda época. Quando alguém rouba a lembrança que deveria ser boa.  Cara, roubam as lembranças boa que a pessoa deveria ter! Que sacanagem! Não deveria ter perdão pra esse tipo de ladrão, que rouba a inocência e pureza da infância de alguém. Que no lugar de bons momentos,  deixa na cabecinha da vítima a aflição de  ter sido roubada ainda tão pequena… tão pequena. 

 Essa perda da inocência e dos dias alegres é tão terrivelmente angustiante, e volta e meia aqueles momentos do roubo voltam à tona, e a perda fica no lugar, como um deserto vazio e sem fim.

 Sou mãe de três crianças, amo a infância, amo crianças, amo estar entre elas, sou defensora da infância, sou protetora desse universo, na minha maneira de ser e de agir, eu luto pelo seu bem estar, cuido, amo, dou abrigo… eu vejo a criança e essa época que ela vive, como algo extraordinário, é a única época da nossa vida que podemos ser nós mesmos, sem grandes cobranças, sem grandes culpas. Se há bichos papões, mamãe acende a luz e poe ele pra fora, se há medo, há o super papai para proteger, se há escassez, há a abundância num carinho doce de vó,  se há tristeza num dia, há sempre o outro dia pra pular corda, brincar de boneca, fazer bolinho de areia pra tomar com chazinho  de vento e suquinho de brisa, vai sempre ter o outro dia com sol bonito pra empinar a pipa, pra brincar de rolimã e se estiver chovendo, pode-se sempre chamar o sol, desenhando-o com sorriso largo no chão com giz… tudo é tão bonito!

 Mas então, vem o ladrão, sorrateiro e silencioso, estragar isso. Os brinquedos já não serão a boa lembrança que fica, a boneca já não será lembrada… só fica o medo, a raiva e a culpa. A perda.

 A perda de um tempo que deveria ser bonito, bom e saudável.  E essa perda vai perseguir a pessoa vitimada onde quer que ela esteja e é isso que tanto me deixa chateada. Uma perda que parece não ter fim, uma perda sem ganho algum…

É assim que vejo o abuso sexual infantil. Um roubo maldito que marca pra sempre suas vítimas e traz as piores e mais sujas lembranças de uma época que era pra ser completa, mas que fica pela metade, faltando algo, graças à ação de uma gente louca e doente.

 Gente de alma roubada, eles, os ladrões de almas…

Nina Sena
http://entremaeefilha.blogspot.com
http://cronicasdeumameninafeliz.blogspot.com

 

Abuso de crianças é um fenômeno que existe há séculos. Hoje,  é considerado uma questão social; estatísticas demonstram o aumento de casos a cada ano. Ocorre em todos os grupos sociais e em todo a estrutura de classes. 

 Com frequência o agressor é um membro da família ou alguém em quem a criança  confia. O mais devastador é o incesto.  Estudos  demonstram que este tipo de abuso se repete geracionalmente.

Ele vem cercado pelo complô de  silêncio e negação. Envolve medo, culpa e vergonha. Causa um profundo abandono e traição, porque nega à criança amor e carinho. Interfere na formação de uma personalidade saudável dificultando o desenvolvimento psicológico, a autoestima e  as habilidades relacionais positivas com a família de origem, nuclear e amigos. 

A vítima chega à vida adulta sem os benefícios da infância.  A dor pode ser perpetuada ou aliviada pelo apoio familiar.

 

Obrigada querida Nina por apresentar em seu relato perda tão  devastadora e tão desnecessária.

Norma

Comments

  • Ana Karla – Misturação Misturão
    Responder

    Achei o texto de Nina perfeito.
    Adoro crianças, assim como ela relatou e concordo totalmente com o que disse.
    A perda que cada criança sofre fica marcado para sempre.
    Norma, é lamentável que muitas crianças sofram abuso e pior, muitas vezes dentro de casa.
    Parabéns Nina e Norma!
    Xeros

  • Roselia
    Responder

    OLá, meninas!!!
    O tema é bastane atual e merece crédito sim… todas as nossas perdas se tornam “menores” diante de tanta crueldade a que o texto nos remete…
    Muito boa abordagem da questão nessa série… parabéns, Nina!!!
    Que as nossas crianças possam ser libertas do instinto perverso que habita em nós, seres “humanos”!!!
    Bjs fraternais às duas.

  • eva mooer
    Responder

    Nina querida………que texto forte…ladrões de alma,ladrões de sonhos.Sabe, não há crime mais
    hediondo….Isso sempre foi meu pesadelo para com meus filhos e agora netos….e também pelas crianças que correm soltas sem atenção dos responsáveis.
    Como bem disse Norma…um crime que existe a sáculos.
    Como parar?

  • chica
    Responder

    Que perda triste essa e não deveria existir..

    As crianças deveriam ter seu direito a ser crianças bem respeitado, mas muitas vezes, não é assim…

    Nina foi perfeita ao trazer esse tipo de perda..

    beijos, às duas,chica

  • Betânia Torres
    Responder

    Oi, Nina,

    “Apesar de muitas, cada uma parece ser única…” Você trouxe ao relato sobre perdas um conteúdo muito importante e que há muito era silenciado, mas agora com a sociedade mais esclarecida e o papel das mídias tem vindo à tona. O abuso sexual de crianças e adolescentes é uma lástima. Roubar a infância, é tão absurdo e indescritível e difícil de dizer que que vem algo melhor depois. É uma questão social de grande relevância mesmo. A família deve ser orientada, a sociedade deve denunciar e agir e os órgãos públicos tomar as medidas cabíveis para apoiar a vítima e sua família e punir os infratores com firmeza. Quando li o seu relato senti a carga de emoção e de indignação que tais fatos nos imprimem. Sobretudo, que não devemos nos calar diante de tais circunstâncias, o silêncio nessas horas não é ouro. Bom dia! Betânia

  • Yasmine Lemos
    Responder

    Um horror .Morte da infância da forma mais brutal e com sequelas eternas. Relato triste.
    beijo

  • Rute
    Responder

    Fiquei sem palavras…
    Um texto muito forte e reflexivo…
    Que Deus proteja as crianças, que Deus proteja os nossos filhos…
    Que todas as situações de abuso sejam denunciadas.
    Que nenhuma mãe se cale e aceite incesto em casa.
    Não há nenhum amor por um homem que se sobreponha ao amor que sentimos pelos que são sangue do nosso sangue, gerados e carregados durante 9 meses.
    Beijo.
    Rute

  • lucia soares
    Responder

    Nina e Norma, um texto lindo, forte, reflexivo.
    Realmente a gente nunca sabe onde está o inimigo. Pode estar dormindo ao lado… Molestar uma criança devia ser crime para pena de morte! Não há “pior” na questão, mas a dor de ver uma criança molestada pelo próprio pai, ou um tio, um avô, um irmão mais velho, enfim, um parente próximo, deve doer demais! Pensa-se sempre que crianças são vítimas de homens, mas há muita mulher que também molesta-as, embora menos divulgado.
    A perda da inocência, dessa maneira, dói a vida toda.
    Que nossas crianças sejam cuidadas para nunca passarem por isso.
    Beijo, Nina.
    Beijo, Norma.

  • Nina
    Responder

    Norma queridíssima!!!
    Fiquei, como vc sabe, receosa de enviar esse post, porque todas as outras meninas escreveram sobre perdas relacionadas à morte… e olha que com morte eu tbm tive mts perdas, e tao doloriiiidas! Fiquei até com vergonha de mudar tao abruptamente o tema, mas isso é uma grande perda, nao é??
    Como todas falaram aqui, a gente nao pode silenciar nossa voz qd algo assim acontecer, existem milhares de criancas sofrendo exatamente nesse instante, caladas, humilhadas, tendo os sonhos roubados, se sentindo perdidas, envergonhadas, culpadas, sem ter em quem confiar. E ainda existem pais que se fazem de cegos, ou se recusam a acreditar no que seus filhos dizem, por medo de encarar tal verdade. Acho isso tudo mt dolorido, cruel, repugnante.

    Obrigada por ter aceito assim mesmo. E pelas palavras sabiamente escritas no fim do post. Obrigada às pessoas que comentaram e enriqueceram o tema, que apesar de mt dolorido, merece toda nossa atencao.
    Um bj com carinho

  • Toninhobira
    Responder

    Muito bom ela fez uma abordagem interessante sobre a perda onde a reparaçáo não é possivel,pois ali há uma deformação num ser em processo de formação,portanto aquem de entender o que se passará para o resto da vida.Na realidade ela engloba dois temas a violencia e a perda da pureza e de sonhos e portanto vem agregar sim reflexão sobre perdas.Muito boa a maneira clara. Como sempre foi otima sua interação Norma ao mostrar o quanto esta coisa é velha na sociedade sem se importar com vocações religiosas,culturais e ou politicas e ou sociais.Meu abraço. E vamos por ai, buscando entender e refletir sobre o terror da perda.
    Meu terno abraço e parabens a Nina,pela mae que mostrou e educadora que aqui se revelou.

  • luma
    Responder

    No começo de 2008 organizei a blogagem coletiva “Contra a pedofilia, em defesa da inocência” chamando os blogues a cumprirem o seu papel social de jogarem informações na web, ajudando a alertar pais a identificar os sinais (sintomas) que uma criança apresenta quando está sendo coagida por um pedófilo. O inimigo está muitas vezes dentro de casa.
    Tive o insight de organizar a blogagem quando uma criança veio desabafar comigo sobre o que acontecida dentro de sua casa. Como não sou parente, foi bastante complicado para mim ter que falar com a mãe, atendendo ao pedido da criança.
    Todos nós sabemosdo que se tratava a pedofilia, mas a maioria das pessoas, nunca tiiveram contado direto com aquilo que define o termo e durante a coletiva, se assombraram com o número de casos existentes e as mais esdrúxulas formas de relacionamentos que os pedófilos mantém com suas vítimas.
    Lógico que me tornei defensora da causa e por isso estou falando sobre isso aqui. Tenho orgulho porque a blogagem foi além de lançar conteúdo na internet; usei a lista de participantes como um abaixo assinado para enviar aos nossos gestores alguns pedidos – o primeiro deles era para que analisem com cuidado as necessidades da Polícia Federal, no que tange as investigações dos crimes pela internet.
    O outro pedido, um pouco mais complexo, mas que a meu ver estava a um passo para ser concretizado – pleiteava uma CPI da pedofilia. Fomos atendidos pelo O senador Magno Malta (PR-ES) apresentou a proposta com pedido de abertura e requerendo a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) com objetivo de investigar a utilização da Internet na prática de crimes de pedofilia e sua relação com outros delitos, como o crime organizado. O requerimento foi lido no plenário assim que os trabalos legislativos retornaram das férias e sua aceitação foi aceita pelos integrantes dos partidos políticos da Casa.
    Os blogues também podem cumprir a função social e usar das blogagens coletivas para algo maior do que a interação entre blogues.
    A precaução que temos para defender a inocência é o amor! Os pais devem observar em seus filhos mudanças no comportamento e conversar sobre os motivos que estão lhe afligindo. Pode ser algo temporário, pequeno, mas e se o comportamento persistir? Mudanças de humor, insônia, inapetência ou mesmo quando choram por qualquer coisa. Vejo muitos pais taxarem seus filhos de birrentos, sem ao menos investigarem os motivos. Diálogo é tudo!E os danos morais causados por adultos perversos, são em sua maioria irreversíveis.
    Nina, abordou um assunto que é sempre oportuno.
    Norma, me desculpe invadir o seu espaço, mas não resisti! Esse assunto realmente me deixa muito sensibilizada 😉
    Beijus,

  • Socorro Melo
    Responder

    Norma,

    Muito interessante a abordagem da Nina. E eu concordo em gênero, número e grau. Entendo como uma monstruosidade esse ato de violência, contra crianças indefesas. Fico indignada quando ouço algum relato. E é uma pena que seja comum…

    Nina, você está certa. Cabe a cada uma de nós, combater, quando nos for possível, esse horror.

    Um abraço a vocês, Norma e Nina
    Socorro Melo

  • C.
    Responder

    Eu acho que essa foi a melhor perda que li aqui. Porque essa, além de nao ter volta, como as outras, ainda leva junto pro túmulo o mais sagrado da vida, que sao as boas lembranças da infância, acarretando em um adulto doente.

  • Norma Emiliano
    Responder

    Oi Luma

    Aqui não há invasão de espaço, Cada comentário enriquece a proposta de compartilharmos as situações de perdas em suas imensuráveis vertentes.
    Agradeço sua contribuições com importantes sinalizações aos pais dobre os comportamentos que sinalizam o abuso.

    Norma

  • Valéria
    Responder

    Oi Norma!
    Texto infelizmente sempre oportuno diante das estatísticas continuas este da Nina!
    Uma perda da infância, um dano irreparável que deixa um eterno vazio… Infelizmente o silencio é cumplice de tamanha dor.
    Beijos!

  • Gina
    Responder

    Essa é uma perda extremante cruel, que deixa marcas profundas na alma de um ser em formação.
    Doentes precisam de tratamento, crianças precisam de amor e atenção.
    Nina, você sabe como gosto de sua forma de escrever, tenho dito isso reiteradas vezes. Você coloco sentimento nas palavras e nós ficamos indignados só de imaginar atos como esse.
    Excelente participação!
    Beijos às duas.

  • Norma Emiliano
    Responder

    Queridos parceiros desta caminhada pelas perdas, não podemos impedir os golpes da vida, mas compartilhando nossos medos e dores, aqui e em outras situações, vamos destruindo os lamentos e, quem sabe, encontremos formas mais livres de continuarmos nossa caminhada.

    Obrigada a todos pelo brilho que emana de seus comentários e que me fazem cada dia mais feliz por ter criado este espaço.

    Grata querida Nina pela coragem deste seu relato que nos coloca diante de tão cruel perda.

    Na próxima quarta, 01 de junho, estaremos juntos com o relato da querida amiga Socorro.

    bjs

  • Maria Emilia Xavier
    Responder

    Não poderia deixar de vir, mesmo não podendo digitar. Bom diversificar Nina, para mostrar que “Perdas” são perdas e todas doídas, perversas e sem volta. Texto magnífico.

  • Nilce
    Responder

    Oi Norma e Nina

    Esse tema deve ser levantado sempre e nossas crianças sempre alertadas.
    Roubar a inocência da Infância, para mim a melhor fase da vida, é uma monstruosidade. É roubar a alma, como a Nina diz.
    Eu sempre fui apixonada por crianças e graças à minha mãe, sempre fui bem cuidada e alertada desde pequena para o perigo desse tipo de violência.
    Mesmo ela sendo uma analfabeta tinha uma visão muito acima do seu tempo sobre o assunto. Tanto que, sendo a única menina da casa, nunca deixou meus irmão me tratarem com violência, nem brigarem comigo. Brigávamos como irmãos normais, mas ela sempre falou que com meninas não se briga e mulheres nunca devem ser maltratadas. Mas ela era e talvez por isso sempre protegeu a mim e meus irmãos.
    Sou uma fera e tenho até medo da minha reação se um dia visse alguém fazendo algo violento a uma criança.
    Nina, obrigada pelo teu depoimento e pelo seu texto, por dividir uma dor que é de todos.
    Norma, parabéns a cada comentário nas postagens.

    Bjs no coração das duas.

    Nilce

  • Nina
    Responder

    Mt obrigada gente, por tudo! Por tudo!

  • Denise
    Responder

    O tema propicia esse amplo aspecto a ser explorado, e nesta reflexão profunda a Nina trás a devastadora perda da inocência, tão bem pontuada por Norma, nas considerações que fez.
    Ambas disseram tudo, assim como quem passou por aqui antes de mim.
    A crueldade é o elemento doentio da alma, danoso o suficiente pra gerar requintes inexplicáveis, inaceitáveis e incompreensíveis – como essa violação bárbara!

    Grande contribuição, mais uma vez. Parabéns!
    Bjos

  • Beth Q.
    Responder

    Norma querida!
    Estou de férias, mas tirei esta manhã para dar uma olhadinha neste post especial que minha querida amiga Nina escreveu, aliás muito bem escrito como todos que ela faz, sempre com o coração refletindo sobre as diversas situações da vida e este ponto que ela abordou, delicado, mas necessário, foi perfeito, pois estamos vendo a cada dia esse problema aumentar e tantas crianças ‘perdendo’ mesmo a chance de terem uma infância plena e lembranças maravilhosas que todos os seres humanos geralmente tem desta época da vida.
    Adorei a abordagem que Nina fez sobre o tema “perdas” e adorei também a sua consideração final. Parabéns às duas.
    um super beijo carioca

  • Glorinha Leão
    Responder

    Oi Nina e Norma, passando hj por aqui vi esse texto sensacional da Nina sobre pedofilia e abuso e não poderia deixar de parabenizá-las. É aterrador o que anda acontecendo em tantos lares, só mesmo uma sociedade doente como a nossa pode gerar tantos casos de abuso contra crianças. O comentário da Luma, complementando tb está excelente…em tempos de internet como coibir esses abusos, como tratar, como descobrir os casos se as crianças muitas vezes são ameaçadas, se muitas vezes as mães são coniventes? Chega a dar dor no coração pensar nesse assunto, mas isso tem que ser abordado sim, e as leis t~em que ser rigorosas pra esse tipo de crime. Beijos,

Grata por sua visita sempre bem-vinda.

%d blogueiros gostam disto: