Ligados pelo mal

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  “Os homens se crêem livres, pelo único motivo de que são conscientes das ações, e inconscientes das causas que as determinam.” Spinoza

Por que não consigo me afastar dele (a)?” “Brigamos constantemente. É tão desgastante”. “Sinto-me péssima (o), não aquento mais”. Estas questões estão presentes em muito mais pessoas do que se possa imaginar.

È freqüente indivíduos e casais buscarem terapia por não mais conseguirem lidar com suas relações tão conflitantes e intermináveis. Os parceiros não conseguem se afastar e “entre tapas e beijos”, caminham atormentados por suas infelicidades. O direcionamento pessoal é fruto de uma construção que tem a ver com as histórias familiares, assim as escolhas não são frutos do acaso e a atração entre os parceiros tem motivações conscientes e inconscientes (mecanismos de defesa, fantasias, impulsos, etc.). Daí dizer-se que é sempre certa a escolha do parceiro, mesmo que não seja a melhor, no sentido de possibilitar a felicidade. Segundo Carl Whitaker “a combinação estabelecida é composta por vários componentes, estando entre eles a transferência como por ex: a pessoa que atrai tem características que a excitavam em seu pai ou avô”, características que podem evocar a proteção ou abandono, a vida ou morte. É reconhecer inconscientemente no outro condições de resolver seus complexos e necessidades contraditórias. Há uma transposição dos elementos importantes do passado. Desta forma, todo este mecanismo leva a incapacidade de encontrar satisfações reais entre as pessoas reais.

No cotidiano, os papéis, que cada um dos parceiros desempenha, contribuem para a manutenção de um estado de equilíbrio patológico. Ilustrando, vemos mulher infantilizada (cuidada como filha) queixando-se do abandono sexual do marido, porém quanto mais ele a mima, mais ele a infantiliza e a impede de crescer como mulher. Portanto, a atitude da mulher infantilizada impede-a de ser desejada e ele se distancia como homem. Ambos estão na realidade compartilhando ilusões e não percebem que a relação de causa e efeito é para os dois.

Na terapia busca-se o reconhecimento das motivações pessoais e alternativas que capacitem as pessoas envolvidas a romperem com o círculo vicioso e a fazerem e desenvolverem escolhas mais saudáveis.  “Existe muita dor na vida, e talvez a única que se possa evitar seja a dor que vem do se tentar evitar a dor”.  R.D.Laing

Norma

Comments

  • Tetê
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    Oi, Norma… Um post muito bom! É frequente mesmo esse tipo de situação. Não é fácil manter um relacionamento saudável! Obrigada pela visita ao Livre Pensamento! Bjks Tetê

  • josé cláudio – Cacá
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    Olá, Norma! Prazer em estar aqui novamente. Em algum lugar já li que a gente inconscientemente procura a figura do pai ou da mãe no parceiro. É muito comum, quando se conhece um casal e suas respectivas famílias poder constatar isso através dos comportamentos de um e de outro. Dá uma sensação de que eles estão tentando “consertar” ou de cristalizar uma relação que ficou incompleta. Sempre bom poder pensar aqui , através de suas ótimas abordagens. Meu abraço grande. Paz e bem.

  • Beth Q.
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    Oi, Norma!
    Tem razão, porque será que as pessoas insistem em se manter em relações sofríveis?! Tô cansada nesta vida de ouvir de uma ou outra conhecida que vivem mal com seus companheiros, reclamam e continuam ali, naquele ‘ bullying conjugal”.
    Li noutro dia uma crônica da jornalista daqui de Nikiti (Bety Orsini) que falava justamente sobre este mal.
    Leia mais aqui: http://oglobo.globo.com/rio/bairros/bety/posts/2010/08/07/bullying-conjugal-313967.asp

    um super beijo carioca

  • Luma
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    Nunca poderia imaginar algo como isto: “uma transposição dos elementos importantes do passado”, “a pessoa que atrai tem características que a excitavam em seu pai ou avô”. Isto explica muito coisa e acho incrível como muitos casais tem vergonha de procurar um terapeuta. Boa semana! Beijus,

  • Nilce
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    Oi, Norma

    Fiquei impressionada com o que li.
    Muito importante ter seu conhecimento para entender tanta coisa e poder ajudar.
    Esse trabalho deve ser muito gratificante.
    Parabéns!

    Bjs no coração!

    Nilce

  • Sandra
    Responder

    Gostei muito do texto. sei que não é muito fácil conviver com esses dilemas. as vezes passo por isso. Mas tendo reorganizar tudo. A vida a dois nem sempre é assim tão gratificando.
    Parabéns pelo seu trabalho e postagem.
    Carinhosamente,
    Sandra

Grata por sua visita sempre bem-vinda.

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