Acorrentada

A preocupação com a doença é uma ameaça constante ao seu cotidiano. Busca a prevenção, os cuidados necessários, na tentativa de bloquear qualquer ataque. Porém, esqueceu-se do seu eu e acaba surpreendida com vários sintomas que a levam de tempo em tempo às intervenções cirúrgicas, à mutilação do corpo.

Manteve firme a postura impecável. Ninguém podia saber o que se passava. Solitariamente, foi buscando os tratamentos cabíveis. Não entendia por que seu corpo não lhe obedecia.

A todo custo, continuou sua tarefa, mas o pânico tomou-a. Perguntava – se: como agora esconder que não sou o que mostrava. Não conseguia sair mais de casa. Muito medo. A morte a assombrava.

Os fantasmas do passado a perseguiam. Não pôde deixar a menina brincar, a alegria crescer. Diante das contingências da vida, a responsabilidade lhe tocou muito cedo. Precisava ser forte. Não podia demonstrar sua tristeza, sua solidão, seu medo. Virou adulta e acorrentada aos seus fantasmas. Não pôde ser ela.

A profissão, fonte maior do seu prazer; a competência, seu maior escudo. Agora o que resta? Sente que a vitalidade se esvai. Pensa! Eu estou viva! Será que tenho tempo de reconstruir minha história, descobrir tesouros ocultos, fazer uma caminhada pontuada pela verdade, pela afetividade? Ser humana e apenas viver?

“Aceitar as estrelas que trazemos é o que faz a diferença entre o que queremos ser e o que verdadeiramente somos.” José Oliva

Norma Emiliano

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