Identidade feminina

 

Há representações que historicamente constroem a opressão às mulheres

 

Ao nos determos no universo feminino (desejos, conflitos, conquistas e perdas) ao longo dos séculos, observa-se uma variedade de expressões deste lugar e das desigualdades de poder de gêneros que ainda impedem a busca pela felicidade, motor impulsionador da vida.

Algumas mulheres dedicam suas vidas a cuidarem dos pais e/ou filhos em tempo integral. Há aquelas que trabalham e dividem-se entre o lar e o   trabalho, carregando conflitos e culpas e, outras, que ficam imersas no trabalho relegando a terceiros a criação e educação dos filhos e distanciam-se do amor a si mesma. Na literatura, encontramos algumas importantes representações desta luta da mulher pelo encontro da sua identidade.

Nos anos 60, Clarice Lispector, em seu conto Amor, nos coloca diante da personagem Ana com sua realidade e seus conflitos internos.  Ana é dona de casa, casada, com dois filhos e satisfeita com a estabilidade de sua vida até o momento em que a visão de um homem cego lhe desperta a vontade de viver, passando, a partir deste momento, a ter conflito consigo mesma e tudo que representa para a sua família e a sociedade. Presa às convenções sociais, mesmo se percebendo de uma outra forma, não consegue se libertar e escolhe permanecer na estrutura anterior abandonando, assim, a chama da vida.

Em Memorial de Maria Moura, nos anos 90 , Rachel de Queiroz nos traz a representação da mulher do século XIX. A personagem Maria Moura contraria os costumes da época, na busca pelo domínio de suas terras e pela liberdade.

Mulher, que marcada por um trauma (psicológico) na infância, torna-se dura e forte a tal ponto que faz valer a sua vontade, apesar da sociedade machista em que vivia. Sai da casa que fora de sua família para seguir pelo sertão, espaço sem regras e destinado aos homens. Tenta se aproximar do modelo masculino, mas sua feminilidade no plano afetivo e sexual a deixa vulnerável, levando-a para a possível morte, prenunciada no final do romance.

A estas representações, podemos somar nossas experiências pessoais (anseios, realizações, conflitos e perdas) e refletir até que ponto os nossos comportamentos, as práticas sociais e nossos discursos ainda encontram-se submissos aos valores dominantes tradicionais. Como nos enxergamos?

Neste questionamento encontramos também no texto da Tatiana do blog perguntasempersposta   exemplos práticos da atualidade.

Norma Emiliano

Comments

  • Ana Karla – Misturação Misturão
    Responder

    A identidade de quem somos nem sempre é revelada por medos da própria sociedade.
    Vou ler o texto de Tati.
    Boa semana Norma!
    Xeros

  • chica
    Responder

    Que texto e tema interessante,Norma! Uma linda semana pra ti!beijos,chica

  • Yasmine Lemos
    Responder

    A independencia feminina em muitas casos foi imposta pela sociedade, como se toda mulher tivesse que ser a poderosa,dona de si,ter seus prórios comandos e a família ficou um tempão na segunda escala. Nunca me perguntaram se eu queria ser toda família,cuidar dos filhos, ter meu ofício sem sacrifícios ou para provar nada a ninguém. Diria que ser mãe e dona de casa ,cuidar ,zelar é uma das coisas mais prazerosas que descobri na vida.
    um beijo Norma e uma semana super em paz

  • manuel marques
    Responder

    Sobre o tema deixo este poema;

    Luísa sobe,
    sobe a calçada,
    sobe e não pode
    que vai cansada.
    Sobe, Luísa,
    Luísa, sobe,
    sobe que sobe
    sobe a calçada.

    Saiu de casa
    de madrugada;
    regressa a casa
    é já noite fechada.
    Na mão grosseira,
    de pele queimada,
    leva a lancheira
    desengonçada.
    Anda, Luísa,
    Luísa, sobe,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada.

    Luísa é nova,
    desenxovalhada,
    tem perna gorda,
    bem torneada.
    Ferve-lhe o sangue
    de afogueada;
    saltam-lhe os peitos
    na caminhada.
    Anda, Luísa.
    Luísa, sobe,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada.

    Passam magalas,
    rapaziada,
    palpam-lhe as coxas,
    não dá por nada.
    Anda, Luísa,
    Luísa, sobe,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada.

    Chegou a casa
    não disse nada.
    Pegou na filha,
    deu-lhe a mamada;
    bebeu da sopa
    numa golada;
    lavou a loiça,
    varreu a escada;
    deu jeito à casa
    desarranjada;
    coseu a roupa
    já remendada;
    despiu-se à pressa,
    desinteressada;
    caiu na cama
    de uma assentada;
    chegou o homem,
    viu-a deitada;
    serviu-se dela,
    não deu por nada.
    Anda, Luísa.
    Luísa, sobe,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada.

    Na manhã débil,
    sem alvorada,
    salta da cama,
    desembestada;
    puxa da filha,
    dá-lhe a mamada;
    veste-se à pressa,
    desengonçada;
    anda, ciranda,
    desaustinada;
    range o soalho
    a cada passada;
    salta para a rua,
    corre açodada,
    galga o passeio,
    desce a calçada,
    desce a calçada,
    chega à oficina
    à hora marcada,
    puxa que puxa,
    larga que larga,
    puxa que puxa,
    larga que larga,
    puxa que puxa,
    larga que larga,
    puxa que puxa,
    larga que larga;
    toca a sineta
    na hora aprazada,
    corre à cantina,
    volta à toada,
    puxa que puxa,
    larga que larga,
    puxa que puxa,
    larga que larga,
    puxa que puxa,
    larga que larga.
    Regressa a casa
    é já noite fechada.
    Luísa arqueja
    pela calçada.
    Anda, Luísa,
    Luísa, sobe,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada.
    Anda, Luísa,
    Luísa, sobe,
    sobe que sobe,
    sobe a calçada.

    António Gedeão

    Beijo.

  • Toninhobira
    Responder

    Assim me lembra a Luzia Homem no pós escravidão, neste superar-se na sociedade machista,paternalista.Linda reflexão.Abraço Norma.

  • Manuela Freitas
    Responder

    OLá querida,
    Muito bom o texto! O alvorecer da mulher com direitos de cidadania só ocorreu no séc. XIX e a Revolução Industrial utilizou o seu trabalho, porque os homens estavam na guerra. A partir daí a mulher foi conquistando a sua posição social, o reconhecimento das suas capacidades, mas…para mim, reconhecida ou não, a mulher sempre foi o esteio da sociedade, mas tão marginalizada, que teve que mostrar que era tão capaz a nível do intelecto como o homem…hoje a nível social tem uma participação activa e ainda faz tudo aquilo que só uma mulher sabe fazer a nível familiar, por muito que o homem seja colaborante!…
    Beijos,
    Manu

  • Tati
    Responder

    Oi Norma, só agora consegui chegar. Obrigada pelo link. Sabe, anda hoje ouvimos frases do tipo: Você trabalha ou SÓ fica em casa? SÓ? Como assim? Ou então a pior, quando você trabalha fora: “Como concilia carreira e filhos?”. Por que ninguém faz este tipo de pergunta a um homem de negócios? Eles não precisam conciliar coisa alguma? Só nós? Quem compõe a família?
    Mas as mulheres tem uma função importante na manutenção deste status. São elas as primeiras a se colocarem na função de insubstituiveis no lar, e tornam-se sobrecarregadas. O marido faz? Deixe que ele faça do jeito DELE e não do jeito que você gostaria!
    Adorei pensar a partir de suas palavras. Beijos.

Grata por sua visita sempre bem-vinda.

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